Gondomar exige que se olhe mais para o Norte e Governo assume problemas

A Câmara Municipal de Gondomar diz ter falta de testes à covid-19 e fala de falta de atenção à zona Norte. O Governo, compreendendo a autarquia nortenha, assume “assimetrias” na distribuição de testes e garante ao PÚBLICO estar a tomar diligências.

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Mais testes à covid-19 é o que pede Gondomar Miguel Manso

“Basta! Assim não pode ser! Senhores de Lisboa, olhem cá para cima também”. O apelo foi de Marco Martins, presidente da Câmara Municipal de Gondomar, em protesto no Facebook contra a falta de testes à covid-19 na zona Norte do país.

O “cavalo de batalha” escolhido na manhã desta quarta-feira, na rede social, foi a priorização injusta que crê existir na entrega de material para testes, com o Norte a ficar, na opinião do autarca, para segundo plano. “O Norte tem quase 70% de infectados. O que coloco em causa é a falta de equidade. Ninguém quer que o Algarve deixe de receber testes, mas tem de haver proporção adequada à percentagem de infectados de cada região”, detalhou ao PÚBLICO.

Gondomar é, neste momento, o quarto município com mais casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus, só superado por Lisboa, Porto e Vila Nova de Gaia.

Marco Martins garante que na terça-feira, no concelho, “já havia mais de 1200 pessoas com prescrição para fazer o teste” e dispara: “Ao final do dia de hoje [quarta-feira] devem ser mais. E a fazer cerca de 40 testes por dia, isto [testar todas as pessoas] demorará semanas.”

O motivo que já antes apontara é a falta de material para testes. “A Câmara quer testar lares, bombeiros e forças de segurança, todos os que estão na linha da frente – e tem o dispositivo montado –, mas não há material. Preocupa-nos muito que os números possam aumentar. É urgente fazer testes. A Câmara está empenhada e motivada, mas faltam materiais”, explicou à Lusa, dizendo ter conhecimento de 18 casos positivos em agentes da PSP e da GNR, bem como de bombeiros “já recuperados ou em quarentena”.

Governo assume problemas

Ao final da tarde desta quarta-feira, o autarca de Gondomar garantiu que já teve contactos do gabinete da ministra da Saúde e da Administração Regional de Saúde, mas sem informações e promessas concretas.

Ao PÚBLICO, Eduardo Pinheiro, Secretário de Estado responsável pelo Norte na execução do estado de emergência, diz compreender as declarações fortes “de um autarca que foi eleito para defender os seus eleitores”, mas assegura: “Tenho a certeza de que há critérios na distribuição dos testes, nacional e regionalmente.”

E serão critérios justos? “Sobre isso não vou pronunciar-me, porque não conheço o contexto a nível nacional”. Ainda assim, o Secretário de Estado assegura estarem a ser cumpridas diligências importantes para um problema que reconhece existir.

“Evidentemente que todos reconhecemos que não há tantos testes como desejaríamos, quer no Norte, quer em todo o país. Claro que, à data de hoje, todos desejaríamos ter mais testes e não escondo essa questão”, assume, tal como já tinha feito no início do dia António Lacerda Sales, Secretário de Estado da Saúde, que abordou “assimetrias” na testagem em algumas zonas do país, não por falta de material de testes, como acusa Gondomar, mas de reagentes de extracção, fulcrais na execução de um teste à covid-19.

E para quando haverá resolução para estes problemas? Eduardo Pinheiro garante ao PÚBLICO ser para breve. “Estaremos em condições de, em alguns dias, produzir muitos mais testes, particularmente na zona Norte. Teremos muito mais condições e esta é a boa notícia (…) poderemos fazer mais testes nos lares de idosos, em particular, e alargar testes a todo o pessoal que lá trabalha, que é prioritário, porventura mais até do que os utentes”.

Sobre o maior desafio que existe no cumprimento deste intento, Eduardo Pinheiro aponta dois caminhos: melhor distribuição e maior compreensão. “Umas das necessidades que sentimos é assegurarmos que, na distribuição dos testes, haja participação cada vez maior dos municípios e comunidades intermunicipais. E, claro, que haja compreensão”, apela.

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