Airbnb: Lisboa e Porto perderam 5,5 milhões com a pandemia em Março

A capital perdeu 29% e o Porto 15% da facturação em termos homólogos. E tudo piora em Abril: no segundo dia do mês, já era certa uma quebra de 61% e 48% nas duas cidades, face a 2019.

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daniel rocha/arquivo

A pandemia de covid-19 afundou o arrendamento de curta duração pelo Airbnb em Lisboa e no Porto. Em Março, a capital portuguesa facturou menos 28,6% face a Fevereiro, o que traduz uma quebra em cadeia de 4,6 milhões de euros. No Porto, as perdas atingiram em Março 2,1 milhões de euros, ou 30,7% face ao mês precedente.

Em termos homólogos, Lisboa perdeu 29% da facturação (4,7 milhões) e o Porto perdeu 15% (800 mil euros). O que dá uma perda de 5,5 milhões em termos homólogos, nestas duas cidades, que são os destinos nacionais mais representados no Airbnb, a par do Algarve.

Os dados são da Airdna, uma empresa de análise de dados para o mercado mundial de arrendamento turístico em plataformas online. A Airdna apura a facturação com base nas reservas registadas em sites como Airbnb, HomeAway e VRBO, tendo feito uma análise à situação portuguesa a pedido do PÚBLICO. Se Março já foi complicado, o mês de Abril ainda será pior.

O número de casas listadas mostra que, apesar das perspectivas sombrias, a oferta é praticamente a mesma naquela plataforma. O que caiu drasticamente foi a procura, devido às restrições mundiais ao turismo.

Por outras palavras, não houve até ao momento transferência de propriedades do arrendamento turístico para a venda ou para o arrendamento familiar de longa duração. Nisso, Portugal acompanha a tendência europeia que está espelhada nos números da Airdna, que tem sede em Denver (EUA) e escritório europeu em Barcelona.

Com dados até 2 de Abril, já era possível concluir que o mês da Páscoa em 2020 é o da viragem no mercado nacional. 

Até à pandemia, Portugal vinha registando os melhores meses de sempre no Airbnb. Janeiro fechou com um crescimento homólogo de 82% e Fevereiro duplicou as receitas face ao mesmo mês de 2019, com um aumento de 110%, para 49,8 milhões de euros. Esse ascendente terá continuado no início de Março.

Isto pode ser explicado com uma espécie de “travão faseado”. A pandemia foi declarada a 11 de Março e, em Portugal, o estado de emergência entrou em vigor no dia 18. As receitas de Março acabaram abaixo das de Fevereiro (-18,5%), porque o descalabro começou aí.

Ainda assim, a receita nacional terminou 9% acima do que se facturou em Março de 2019: 40,6 milhões de euros, em Março de 2020, mais 3,2 milhões do que os 37,4 milhões do que 12 meses antes, período que, por sua vez, tinha batido os 36,6 milhões de Março de 2018. 

A Airdna forneceu ao PÚBLICO dados desagregados para Lisboa e Porto. Foi aí que o “terramoto" se sentiu mais. E é nesses destinos que o pior ainda está para vir agora em Abril. 

No início do mês ainda havia reservas para ambas as cidades. Porém, a Airbnb alterou a política de cancelamentos, garantindo agora devolução de 100% do montante para reservas entre 14 de Março e 31 de Maio. O que deverá incentivar mais clientes a anular, até porque o estado de emergência foi prolongado até 17 de Abril e a circulação de pessoas fortemente condicionada durante a Páscoa, com os aeroportos nacionais fechados. O que parecia um cenário ainda deverá piorar. 

Com as reservas disponíveis a 2 de Abril, Lisboa teria garantida uma quebra de 61% das receitas em termos homólogos. No Porto, a descida seria de 48%. No mercado nacional, a perda ascenderia a 28%. Mas com cancelamentos mais fáceis e restrições mais apertadas, é improvável que não haja mais clientes a anular reservas neste mês.

Traduzindo percentagens em dinheiro, as perdas portuguesas no início de Abril face ao mesmo mês de 2019 já ascendiam a 13,6 milhões de euros. Mas como estes dados foram retirados no início do mês, é de esperar perdas maiores.

As maiores perdas concentram-se em Lisboa. Se não houvesse mais cancelamentos depois de 2 de Abril, a capital portuguesa perderia 12 milhões de euros face a Abril de 2019. No Porto, as perdas já eram de 3,4 milhões, em termos homólogos, no início do mês. 

Proprietários ouvidos na comunicação social nos últimos dias dizem que as casas estão vazias e que não há reservas. Alguns sugerem também que já se olha para o arrendamento familiar como alternativa ao alojamento turístico de curta duração.

Os dados da Airdna não confirmam, por agora, que haja casas a serem transferidas do alojamento turístico para o de longa duração, visto que o stock de alojamentos no Airbnb se mantém estável.

A Airdna fez projecções até Junho, com base nas reservas existentes a 2 de Abril. A confirmarem-se essas estimativas, a facturação nacional só voltaria a crescer em termos homólogos a partir de Junho (1%). Porém, como o passado recente tem demonstrado, o turismo é anfitrião das maiores incertezas económicas desta pandemia.

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