Em plena propagação de covid-19, médicos romenos demitem-se em massa

Profissionais de saúde dizem que não estão a ser tomadas medidas para garantir a sua protecção. Estado de emergência foi prolongado por mais um mês.

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As medidas do estado de emergência na Roménia vão estender-se até ao início de Maio EPA/ROBERT GHEMENT

A Roménia enfrenta a demissão em massa de médicos que se queixam da falta de medidas de protecção no seu trabalho para tratar os doentes e conter a propagação do novo coronavírus. Esta segunda-feira, o Presidente anunciou o prolongamento do estado de emergência por mais um mês.

A propagação do novo coronavírus expôs as fragilidades do sistema de saúde romeno e entre os profissionais de saúde a frustração está a crescer. Uma reportagem do Le Monde dá conta das demissões “em massa” entre os médicos, enfurecidos com a pressão que lhes é colocada sobre os ombros e com a falta de meios para travar a pandemia no país, que contabiliza já 4057 infecções confirmadas e 157 mortes.

“Exigir que lutemos contra o vírus sem que nos seja assegurada a protecção mínima é algo criminoso”, disse ao diário francês a médica Camelia Roiu, que trabalha num hospital de Bucareste. Cerca de um quarto dos mais de quatro mil infectados com a covid-19 na Roménia são médicos ou enfermeiros.

O primeiro-ministro, Ludovic Orban, pediu recentemente à comunidade médica que respeite “o juramento de Hipócrates” e disse haver duas opções para lidar com as demissões – cujo número deixou entretanto de ser divulgado pelo Governo. “Podemos proibir os médicos que se demitem de voltar a praticar na Roménia ou dar-lhes um pré-aviso com um tempo de reflexão. A primeira, extrema, é mais fácil de pôr em prática, mas necessitamos de cada médico e de cada enfermeiro”, afirmou Orban.

Para fazer face à epidemia, o Presidente, Klaus Iohannis, decidiu prolongar o estado de emergência que expirava esta semana. “As pessoas devem perceber que sem esta medida o vírus não pode ser travado”, declarou Iohannis.

O pico da epidemia está ainda por vir. Num país onde as condições hospitalares são más e que conta com uma das taxas de densidade médica mais baixas da União Europeia, muitos temem um colapso dos serviços de saúde.

A Roménia tem menos de 300 médicos por cem mil habitantes, de acordo com dados do Eurostat relativos a 2017, o terceiro número mais baixo da UE. Nos últimos anos, milhares de profissionais de saúde trocaram a Roménia por outros países europeus, como a França, Alemanha ou Reino Unido, onde os salários são mais elevados. O Governo estima que na última década tenham saído do país cerca de 25 mil médicos e enfermeiros.

Para conter essa tendência, o Governo aprovou uma subida de 50% das remunerações dos médicos em 2018. O Presidente pediu ainda ao executivo que arranjasse forma de atribuir um prémio mensal de 500 euros a todos os médicos que trabalham na linha do frente contra a covid-19, relata o Le Monde.

O combate ao novo coronavírus poderá tornar-se ainda mais complicado à medida que se aproxima a Páscoa Ortodoxa, a 19 de Abril, que é tradicionalmente uma quadra que serve para que milhares de emigrantes romenos regressem ao país. A situação é especialmente grave se se tiver em conta que grande parte da diáspora romena está concentrada em Itália e Espanha, os dois países europeus mais afectados pela epidemia.

O prolongamento do estado de emergência visa colocar em quarentena obrigatória todos os cidadãos que entrem no país. Na semana passada, Iohannis dirigiu um apelo aos emigrantes romenos para que não regressem ao país para celebrar a Páscoa. “O vosso regresso será extremamente perigoso para vocês próprios e para aqueles que vos são queridos”, afirmou o chefe de Estado.

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