Maioria dos brasileiros não quer afastar Bolsonaro

Na sondagem da Folha de S. Paulo, 59% dos inquiridos não querem a renúncia do Presidente, mas só 33% consideram boa ou óptima a sua gestão da luta contra a pandemia. Stieglitz, em entrevista ao Estado de São Paulo, diz que nesta hora o Brasil precisava de melhor liderança.

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Mulher evangélica rezando junto ao Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente brasileiro ADRIANO MACHADO/Reuters

A maioria dos brasileiros inquiridos numa sondagem do jornal Folha de S.Paulo não quer o afastamento do Presidente do Brasil agora, numa altura em que o país está empenhado na luta contra a pandemia da covid-19. Isto mesmo tendo em conta que apenas um terço dos inquiridos classifica como boa ou óptima a gestão que Jair Bolsonaro está a fazer da crise sanitária.

Quase seis em cada dez brasileiros (59%) preferem que o chefe de Estado se mantenha no seu cargo e 52% considera que Bolsonaro tem condições para continuar a liderar o país, refere o inquérito de opinião do Instituto Datafolha, feito com base em 1511 entrevistas telefónicas e com uma margem de erro de 3%.

Apesar de 44% considerarem que o chefe de Estado deixou de ter condições para se manter no cargo, Só 37% daqueles que responderam à sondagem consideram oportuno que o Presidente renuncie ao seu mandato nesta altura, como foi pedido por vários líderes de esquerda num manifesto publicado no final de Março, que incluía três dos candidatos derrotados por Bolsonaro nas eleições presidenciais: Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL).

Não se pode confundir, no entanto, os 59% como sinal de que os inquiridos consideram que Bolsonaro está a fazer um bom trabalho nesta crise pandémica que afecta o mundo em geral e já provocou 448 mortes em 10.475 casos positivos de coronavírus no Brasil.

Antes pelo contrário, só 33% (a sua habitual base de indefectíveis bolsonaristas que se mantém mais ou menos estável em todas as sondagens) é que classifica a sua actuação como boa ou óptima.

Entrevistado hoje pelo Estado de São Paulo, o Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, refere que o Brasil necessitava de alguém melhor para liderar o país numa crise como esta: “É muito difícil para indivíduos manter a distância, pessoas querem interagir, então é essencial dizer às pessoas que é perigoso se aproximar de outras pessoas para impedir a propagação da doença. É para isso que precisamos de liderança. E nós não temos essa liderança [EUA]. E vocês, [no Brasil] têm uma liderança ainda pior”, refere Stiglitz.

Muitos brasileiros concordarão com o que diz o Nobel da Economia, mas é como afirma Jânio de Freitas, na Folha de S. Paulo: “Renúncia de governante costuma ser um gesto, digamos, espontâneo à força” e entre “o esgotamento do desgaste e os receios da acção”, a situação segue “indecisa”, aguardando mais desenvolvimentos.

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