Lay-off na função pública? Porque não?

Da economia da crise, do esforço privado, do esforço público e do esforço de todos.

Que sentido faz, em plena crise nacional e internacional, e que se agravará nos próximos (longos) meses, que os trabalhadores do sector privado fiquem coarctados de 2/3 do seu rendimento, e os seus colegas trabalhadores do sector público, naturalmente os que estejam nas mesmas condições, se encontrem a receber por inteiro?

Não dou para o peditório do ataque gratuito aos trabalhadores do público, há muitos e bons, mas a verdade é apenas uma: a crise é de todos e apenas existe um Estado; seja ele externo à entidade patronal de cada um, seja ele a nossa própria entidade patronal.

Numa crise com esta relevância, não seria mais solidário que o Estado pudesse ajudar todos os trabalhadores por igual, garantindo um mínimo de rendimento maior para cada um de nós, compensando-se esse esforço financeiro através da própria redução dos custos da carga salarial com todos os funcionários não essenciais, que se encontram em casa sem funções, ou com redução da sua actividade por força das circunstâncias?

A verdade é que seria bem mais justo que todos contribuíssem para a rápida resolução do problema, de forma verdadeiramente solidária.

Que não restem dúvidas que os cortes na função pública serão uma inevitabilidade no pós-crise. Porque não fazê-lo de imediato? Porque não aprender com a crise de 2008, em que as medidas se limitaram a acompanhar a crise e em que se concluiu que, se a resposta tivesse sido mais enérgica, conseguiríamos ter saído dela bem mais cedo?

Acresce que tais medidas permitiriam melhorar as condições de quem combate na primeira linha este vírus silencioso que nos dilacera.

A verdade é que, como homem de esquerda que sempre fui, e sou, entendo que o Estado deveria proceder o quanto antes ao corte da remuneração dos funcionários públicos que não se encontram, à data, em plena efectividade de funções, ou seja, empregados do Estado que se encontram em casa por força do estado de emergência. Defendo, pois, uma espécie de lay-off público que aparentemente a lei não permite, mas que terá de permitir no futuro, ainda que de outra forma, sobretudo se o presente estado de emergência nacional continuar. Ou alguém acredita que a crise que aí vem não necessitará de redução da massa salarial do Estado?

A crise que atravessamos poderá ter respostas rápidas e fortes, ou respostas que procurem acompanhar a evolução da crise.

Com a crise de 2008 devíamos ter aprendido que a segunda teoria está errada. Quanto mais rápida e forte for a resposta para a crise, por mais excessiva ou desnecessária que possa parecer, a verdade é que injectará confiança na sua recuperação, e a confiança é fulcral à actividade económica.

Sinceramente, acredito que a grande maioria dos trabalhadores da função pública estão dispostos a tal esforço, na esperança que este seja a garantia de uma menor crise para todos.

Ninguém pediu esta crise, todos estamos dentro dela, todos somos necessários para a ultrapassar.

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