Covid-19: quase dois terços dos alunos já manifestaram vontade de regressar à escola

Inquérito do Observatório de Políticas de Educação e Formação mostra que a generalidade dos estudantes não tem saído de casa desde o fecho dos estabelecimentos de ensino. Há mais ansiedade e mais agitação nas crianças e jovens.

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sebastiao almeida

Três semanas depois da suspensão das aulas presenciais, a maioria dos alunos diz querer voltar à escola o mais rapidamente possível. É isso que mostra um inquérito do Observatório de Políticas de Educação e Formação, cujos primeiros resultados são divulgados este sábado. Os dados mostram também que a generalidade das famílias está a cumprir as ordens de confinamento: mais de três quartos dos alunos não tem mesmo saído de casa.

De acordo com o estudo do Observatório, quase dois terços (64,7%) dos encarregados de educação afirmam que o seu filho já “manifestou expressamente desejo de voltar à escola”, desde que o Governo ordenou o fim das actividades presenciais nos estabelecimentos de ensino, uma das primeiras medidas de contenção do novo coronavírus. “A escola tem um valor extraordinário do ponto de vista da socialização. Mesmo os alunos que não gostam das aulas, gostam do convívio com os outros”, contextualiza a investigadora Ana Benavente, que é uma das coordenadoras deste trabalho.

inquérito online destina-se a medir o impacto da covid-19 no sistema de ensino português. A iniciativa é do Observatório de Políticas de Educação e Formação, que é coordenado pelo Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Os resultados preliminares agora conhecidos mostram também que a generalidade das famílias que têm filhos em idade escolar está efectivamente a cumprir a recomendação de permanecer em casa. Mais de três quartos (76,1%) dos estudantes não tem saído de casa nas últimas três semanas – um terço não sai por completo da habitação, enquanto 40% sai apenas até ao quintal, jardim ou parque de estacionamento da casa. De acordo com os dados do Observatório de Políticas de Educação e Formação, só 5,2% dos alunos continua a sair à rua “todos os dias para espairecer”.

Há também algumas pistas sobre o impacto do confinamento no comportamento dos alunos. “Sobretudo em meio urbano, nem toda a gente tem casa com espaço”, explica Ana Benavente. E, ainda que mais de metade dos pais (53,8) não tenha notado alterações de comportamento dos seus filhos em relação ao que ocorria antes do isolamento, quase 40% dizem tê-lo sentido: 19,9% dos encarregados de educação detectam maiores níveis de ansiedade nos alunos e outros 18,9% encontram-nos mais agitados. “Há um problema de energia na vida quotidiana que se sente”, prossegue a investigadora. Outros 6,9% dos alunos têm mostrado maior apatia nas últimas três semanas.

Os primeiros resultados do inquérito do Observatório de Políticas de Educação e Formação têm por base uma amostra de 1200 respostas, que corresponde à primeira semana de aplicação do questionário, de 23 a 28 de Março. O estudo vai continuar a ser feito, através de inquérito online, enquanto durar a pandemia de covid-19. Os investigadores prevêem divulgar resultados e análises dos dados recolhidos semanalmente. A partir da próxima semana o questionário vai ser revisto para reflectir as mudanças que venham a ser implementadas pelo Governo nas escolas.

Esta amostra é maioritariamente constituída (72,5%) por pais e/ou encarregados de educação – há também estudantes a responder directamente, sobretudo no ensino superior. Quase 60% dos encarregados de educação respondentes têm mais que um filho a frequentar o sistema de ensino e cerca de 80% frequenta a escola pública.

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