Condenados todos os arguidos da maior apreensão de droga na Guiné-Bissau

Cabecilhas condenados a 16 anos de prisão e os restantes a penas que vão dos quatro aos 14 anos. Ministra da Justiça responsável por apreensão está agora escondida, por temer pela sua vida.

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A ex-directora da Polícia Judiciária, Filomena Mendes Lopes Facebook

A Operação Navarra completou-se esta sexta-feira da melhor maneira, com a condenação de todos arguidos do processo a penas de prisão que vão dos quatro aos 16 anos. O Tribunal Regional de Bissau considerou como provada a culpa de todos os detidos no âmbito da maior apreensão de droga na história da Guiné-Bissau: 1869 quilos de cocaína.

O julgamento realizou-se em Janeiro, mas só agora foi conhecida a sentença da dúzia de envolvidos: sete guineenses, três colombianos, um mexicano e um maliano. As penas mais altas foram para dois arguidos que não estavam em tribunal, considerados os cabecilhas da rede: um guineense, condenado a 16 anos de prisão, e um mexicano, condenado a 14 anos. Para ambos foram emitidos mandados de captura internacional.

Em Novembro, os condenados na segunda maior apreensão de droga no país, os 789 quilos de cocaína que a Polícia Judiciária apreendeu em Março do ano passado na Operação Carapau, também receberam penas semelhantes: 14 e 15 anos de prisão.

Nenhum guineense foi arguido nesse processo, apenas um senegalês e dois nigerinos, sendo que um destes, Mohamed Sidi Ahmed, se apresentou como assessor especial do presidente do Parlamento do Níger, Ousseini Tinni, e viajava com passaporte diplomático. Acabou condenado a 15 anos de cadeia.

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A carga apreendida num camião de peixe seguia para o Norte do Mali, sendo que foram emitidos mandados de captura de dois malianos que conseguiram fugir.

Tanto a directora da Polícia Judiciária, Filomena Mendes Lopes, como a ministra da Justiça, Ruth Monteiro, responsáveis pelo sucesso das operações contra o narcotráfico, garantindo as maiores apreensões de cocaína desde 2007, quando a Guiné-Bissau passou a ser considerado internacionalmente como um narco-Estado, foram afastadas pelo Governo nomeado pelo autoproclamado Presidente, Umaro Sissoco Embaló, que demitiu o Executivo eleito.

Ruth Monteiro foi impedida duas vezes de sair da Guiné-Bissau, por o seu nome constar de uma lista de membros do Governo de Aristides Gomes (de que fazem parte ministros e secretários de Estado do Executivo que tem maioria parlamentar, mas onde não está o do primeiro-ministro) impedidos de abandonar o território da Guiné-Bissau.

A ministra lançou esta semana um apelo através das redes sociais, onde diz temer pela sua vida e refere estar a seu alvo de “perseguição política” por parte das autoridades que chegaram ao poder ilegalmente exactamente pelo seu trabalho na luta contra o narcotráfico.

Ruth Monteiro garante que a “perseguição política” de que é alvo está relacionada com o facto de ter conhecimento “de dossiers extremamente sensíveis ligados ao tráfico de drogas” e do seu “empenho no combate a esta forma de criminalidade transnacional” enquanto estava à frente do Ministério da Justiça, do qual foi afastada “pelo poder que pela força das armas se instalou na Guiné-Bissau”

“Informações fidedignas de agentes dos serviços de informações e segurança do Estado dão-me conta que a minha integridade física e vida correm riscos, uma vez que esta perseguição política de que sou alvo resulta directamente do conhecimento que tenho, na qualidade de Ministra da Justiça e Direitos Humanos, de dossiers extremamente sensíveis ligados ao tráfico de drogas e do meu empenho no combate a esta forma de criminalidade transnacional”, escreve Ruth Monteiro no seu email que foi difundido pelas redes sociais.

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