Dádivas de sangue caem mas reservas estão melhores. Há menos cirurgias

Não há, para já, motivos para alarme, mas, caso as dádivas continuem a cair, a situação pode mudar quando os hospitais voltarem a funcionar em pleno.

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É possível dar sangue sem comprometer a segurança em tempos de estado de emergência Andre Rodrigues

O isolamento domiciliário impede os dadores de irem dar sangue, algo que, por consequência, piora o estado dos bancos de sangue. Certo? Talvez não seja tanto assim. A conclusão teoricamente mais plausível não se verifica, em Portugal, com a pandemia de covid-19 a não condicionar em grande escala o panorama das reservas nacionais de sangue.

Questionados pelo PÚBLICO, o Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) e a Federação das Associações de Dadores de Sangue (FAS) explicam a melhoria recente. “Nesta altura, com o novo coronavírus, há menos intervenções cirúrgicas nos hospitais, pelo que o consumo de sangue diminuiu no país. Ou seja, as reservas não se ressentiram e estão melhor do que estavam há um mês, quando um surto de gripe, em Janeiro e Fevereiro, nos fez passar uma fase crítica”, detalhou Joaquim Silva, presidente da FAS, cujo depoimento vai ao encontro dos dados que o IPST avança ao PÚBLICO: que a redução nas colheitas em Março (mais de 50%) foi acompanhada por uma redução nos consumos (cerca de 35%).

Explicando que a situação actual “não é grave”, mas que não sabe o futuro, o dirigente da FAS ilustrou este cenário com um caso no estrangeiro: “Ainda hoje falei com a Federação Mundial de Dadores de Sangue e perguntei qual era a situação. O presidente, que é italiano, disse exactamente isto que eu lhe disse a si sobre Portugal. Em Itália, também há muito menos consumo de sangue e a reserva não se ressente com a pandemia”.

Mas e se o surto diminuir, os hospitais regressarem à “normalidade” e as cirurgias voltarem a ter um ritmo mais aproximado do habitual? Aí, pode haver perturbações, assume a FAS.

Essa é a grande questão. Imaginando que isto melhora, como vamos arrancar? É perfeitamente humano que os dadores estejam afastados, mas, quando esse arranque acontecer, temos de estar preparados para fazer regressar os dadores e trazer outros novos”, explica Joaquim Silva ao PÚBLICO.

De acordo com os dados do site dador.pt, a reserva do IPST está, neste momento, globalmente preenchida. Exceptuando os tipos de sangue O- e B-, cujas reservas estão mais longe do pleno, os restantes seis tipos de sangue têm reservas compostas ou próximas disso – quase todos com a descrição “mais de 10 dias”.

Dar sangue é seguro, mesmo nesta altura

“Os dadores que regressem. É seguro [dar sangue]. Não podem deixar de estar presentes”. É este o apelo feito pela Federação das Associações de Dadores de Sangue, que explica que já foram tomadas medidas para permitir colheitas em tempos de estado de emergência.

Assumindo que “não podem existir colheitas em zonas de focos graves de contaminação por covid-19” – e que acções em muitos locais do país estão, portanto, canceladas –, a FAS diz que o método preferencial “é trazer os dadores até ao IPST, de preferência com marcação, para que não tenham de esperar, reduzindo o contacto com outras pessoas”.

E o próprio IPST, que diz contar com a solidariedade dos dadores, reforça o apelo à marcação de colheita, avança o alargamento dos horários possíveis de colheitas, garante o reforço de envio de SMS de convocatória a dadores activos e aponta quatro pontos centrais de colheita: dois em Lisboa, um no Porto e um em Coimbra.

Trabalhando para que os dadores não se afastem totalmente das sessões de colheita, há, ainda, a possibilidade de, com a autorização da DGS, serem organizadas sessões de colheitas em espaços amplos e que permitam cumprir os pressupostos de segurança relacionados com o distanciamento social e as normas sanitárias. 

Não há, por isso, motivos de alarme em matéria de reservas sanguíneas. Para já.

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