Avalanche de pedidos “obriga” laboratórios a recusar marcações de testes

A Unilabs Portugal, com 12 centros de rastreio da Covid-19, chegou a suspender temporariamente as marcações devido à avalanche de pedidos. Empresa reconhece que agendamentos podem demorar “vários dias”. As dificuldades estendem-se à generalidade dos laboratórios, também devido à dificuldade em encontrar materiais.

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No "centro Covid-19" do Queimódromo, no Porto, há filas de espera Paulo Pimenta (arquivo)

Centenas de chamadas sem ninguém atender. E quando, finalmente, surge uma voz do outro lado do telefone, é para explicar que a marcação do teste para despiste da covid-19 deixou de ser possível. O desespero de quem é referenciado para fazer o teste e não consegue fazer a respectiva marcação ou tem de ficar à espera para saber o resultado muito para além das 48 horas agudizou-se nos últimos dias. Desde que, no dia 26, a Direcção-Geral de Saúde (DGS) alargou aos centros de saúde a capacidade de referenciação dos doentes para os testes de rastreio, determinando que estes deveriam aplicar-se mesmo aos utentes que apresentassem apenas um dos sintomas (tosse ou febre ou dispneia) houve uma avalanche nos pedidos. Este aumento, associado à dificuldade na aquisição dos materiais necessários para a aquisição dos testes, levou mesmo a Unilabs, laboratório responsável por 12 centros de rastreio espalhados pelo país, incluindo o centro instalado no Queimódromo, no Porto, a suspender temporariamente as marcações por declarada incapacidade de gerir tantos agendamentos.

“Depois de muita insistência fui atendida. No entanto, (…) não estavam a fazer marcações. Só para a semana (…). Não entendo como se chega a esta situação”, indignava-se esta terça-feira Alexandra Pereira, na página do Facebook da Unilabs, num post que mereceu por parte da Unilabs Portugal um apelo à “compreensão pela suspensão temporária dos agendamentos devido ao aumento exponencial de pedidos de marcação”. Mas a indignação alastra desde há vários dias. “Estamos desde ontem à espera de marcação. Já mandámos mensagens, mail, e hoje [fizemos] tentativas de contacto sem fim”, queixava-se Paula Fernandes. “Hoje já fiz mais de 300 chamadas”, queixava-se outra utente que tentava, sem sucesso, fazer a marcação do teste”.

A Unilabs reconhece que “o fluxo de chamadas superior ao habitual” está a gerar um “período de espera para atendimento acima do expectável”. Num comunicado divulgado ao final da tarde de ontem, a empresa, que tem capacidade para realizar mil testes por dia nos 12 “centros covid-19” que tem a funcionar em vários pontos do país, explica que “nas últimas 72 horas verificou-se um aumento exponencial de solicitações para a marcação de testes de rastreio”, o que criou “dificuldades na marcação para milhares de pessoas”. Ao PÚBLICO, fonte da empresa precisou que a Unilabs "não chegou a fechar o agendamento em nenhum dia”, mas apenas em “alguns períodos do dia”.

O “problema terrível” da falta de materiais

“Se no início, antes da abertura de prescrição por parte do SNS da procura, conseguíamos marcar em menos de 24 horas, hoje a demora para agendamento está em vários dias”, acrescentou fonte da Unilabs, ressalvando tratar-se de um problema “nacional e não circunscrito a nenhuma empresa ou entidade pública ou privada”.

Quanto à divulgação do resultados dos testes, “demora entre 24 a 48 horas actualmente, podendo em casos pontuais exceder esses prazos”, precisou ainda a empresa sobre um atraso que tende a agravar-se quando o laboratório é chamado a desviar os seus recursos para responder a pedidos de outras entidades “prioritárias”, como hospitais e lares de idosos. “Se somos chamados a fazer rastreio num lar de idosos porque os utentes estão em particular risco, claro que isso nos obriga a desviar recursos humanos e materiais, agravando o atraso na resposta aos outros casos”, explicou, asseverando que, passado o pico de procura, a situação “tenderá a ficar regularizada”. Já antes, em declarações à RTP, o administrador do laboratório, Luís Menezes, explicava que o call center posto a funcionar tem capacidade para atender oito mil chamadas por dia. Na segunda-feira, houve “mais de 20 mil chamadas”. Acresce que “os equipamentos necessários [para realizar os testes] são muito sofisticados e não existem ao virar da esquina, ou seja, está a ser difícil obter no mercado tudo o que é material de suporte para a realização dos testes”.

Mas o problema é extensível aos demais laboratórios. No centro de medicina laboratorial Germano de Sousa, por exemplo, que tem cerca de uma dezena de centros de rastreio por todo o país e tem conseguido aproximar-se dos 1400 testes diários, conforme adiantou ao PÚBLICO o presidente do conselho de administração, Germano de Sousa, também há pedidos de marcação de testes que ficam por responder. “Ainda hoje [quarta-feira] nos pediram para irmos a um lar fazer mais 300 testes. E nós não conseguimos”, referiu, explicando que a prioridade é sempre dada aos testes pedidos pelos hospitais. “Nestes casos, estamos a conseguir dar os resultados em doze horas. Nos restantes, sobretudo os que vêm em ambulatório, a espera pode chegar aos dois ou três dias.” 

A dificuldade em conseguir o material necessário para a realização dos testes é, por estes dias, “um problema terrível”. “A semana passada contava receber 20 mil testes dos Estados Unidos e, de repente, disseram-me que os testes iam ficar por lá porque estavam a precisar deles. E, às vezes, temos os testes mas faltam-nos os reagentes de extracção”, relata Germano de Sousa, para acrescentar que conta ter o problema resolvido na próxima semana. 

Quando foi questionada sobre a espera com que os candidatos ao rastreio da Covid-19 estão a ser confrontados, a directora-geral de saúde, Graça Freitas, pediu às pessoas que aguardem em casa e tenham paciência, sugerindo-lhes que liguem para a SNS 24 (808 24 24 24) em caso de agravamento dos sintomas. Segundo as contas divulgadas esta quarta-feira pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, o país está a realizar cerca de sete mil testes diários.

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