Seca persiste e crise alimentar mantém-se no sul de Moçambique

Preços “anormalmente elevados” estão a restringir o poder de compra dos agregados familiares mais vulneráveis, particularmente os afectados pelos ciclones de 2019.

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Ajuda alimentar na região afectada pelo Idaí, no Sul de Moçambique Reuters

A terceira seca consecutiva no sul de Moçambique deverá manter a região do país como a mais exposta a uma crise alimentar, refere o último relatório da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (Fews).

O relatório faz a previsão até Setembro e mantém as tendências já descritas nos meses anteriores, apontando para a falta de alimentos. Além do sul do país, o documento inclui Cabo Delgado (no norte) no mapa laranja (o nível 3 da crise alimentar, numa escala de um a cinco, sendo este último o mais grave).

Na província de Cabo Delgado, a causa da fome que vai crescendo no dia-a-dia dos habitantes é provocada pelo abandono dos campos, com o alastrar dos ataques de grupos armados que em dois anos já terão provocado perto de 400 mortos e cerca de 160 mil deslocados.

No Sul, a seca persiste, reflectindo uma ameaça que paira sobre a África Austral.

“Março tem sido caracterizado por precipitações significativamente abaixo da média em todo o país, particularmente na região centro e sul”, lê-se no relatório da rede Fews. 

Na região central, “as culturas não têm sido tão afectadas devido às boas condições de humidade do solo desde o início da estação”, enquanto na região sul, “a maioria das colheitas falhou devido a uma terceira estação de seca consecutiva”. 

Com base em estimativas de satélite do Índice de Satisfação das Necessidades de Água (WRSI), “prevê-se que a produção agrícola esteja acima da média de cinco anos na região norte, próxima da média de cinco anos na região central e abaixo da média de cinco anos na região sul”. 

Quanto aos preços dos produtos agrícolas essenciais, atingiram o seu pico sazonal em Fevereiro e espera-se que comecem a diminuir com o início da colheita em Abril. 

“Os preços acima da média dos grãos de milho persistem devido à oferta de mercado abaixo da média da época passada”, acrescenta, indicando que os preços “foram 26% a 85% mais altos do que em 2019 e 20% a 100% acima da média de cinco anos”. 

Estes preços “anormalmente elevados” estão a restringir o poder de compra dos agregados familiares mais vulneráveis, particularmente os afectados pelos ciclones de 2019 e que ainda dependem fortemente das compras de alimentos no mercado, conclui.

A rede Fews foi criada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) em 1985 para apoio à tomada de decisões na gestão de apoio humanitário.

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