Covid-19: Bolsonaro recua e já não questiona isolamento e distanciamento social

Presidente do Brasil reafirmou que é preciso adoptar medidas para que o desemprego e a fome não provoquem ainda mais mortes, mas não insistiu no fim das políticas que restringem a circulação.

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O Presidente brasileiro chegou a comparar o SARS-coV-2 a "uma gripezinha" Reuters/UESLEI MARCELINO

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, mudou o tom do seu discurso sobre o novo coronavírus e fez uma declaração ao país, na noite de terça-feira, em que pela primeira vez não pôs em causa a importância das medidas de isolamento e distanciamento social para o combate à pandemia.

Num discurso que durou sete minutos, lido para as câmaras de televisão e transmitido para todo o país, Bolsonaro voltou a citar o director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom, para justificar os seus recentes apelos à reabertura da economia brasileira.

O responsável da OMS alertou que as medidas de combate à covid-19 têm de ser aplicadas em função das características das várias populações, para que os mais pobres não sejam ainda mais prejudicados com a perda de rendimentos.

Mas Adhanom frisou sempre que o isolamento e o distanciamento social são fundamentais para qualquer plano de combate e nunca indicou que esse tipo de medidas devia ser aligeirado nas populações mais pobres.

Na noite de terça-feira, o Presidente brasileiro disse que a sua preocupação “foi sempre salvar vidas” e voltou a incluir no mesmo plano as mortes da covid-19 e as que resultarem “do desemprego, violência e fome”.

Mas, ao contrário do que tem feito desde o início da crise, não desvalorizou a importância do isolamento e do distanciamento social.

“Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis”, disse Bolsonaro, referindo-se à sua interpretação das palavras do director-geral da OMS.

Na terça-feira, Tedros Adhanom pediu aos governos “que desenvolvam políticas de protecção económica para as pessoas que não podem ganhar ou trabalhar por causa da pandemia”, reforçando a necessidade de se aplicar medidas de isolamento.

O responsável apelou à aprovação de “políticas sociais que garantam a dignidade [dos desempregados] e lhes permitam cumprir as medidas de saúde pública recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde e pela OMS”.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a mudança de tom do Presidente brasileiro aconteceu após uma conversa com o ex-comandante do Exército do Brasil, o general Villas Bôas — um dos conselheiros mais ouvidos por Jair Bolsonaro.

Nos últimos dias, alguns ministros do Governo brasileiro, como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), e as hierarquias militares ficaram incomodados com a forma como Bolsonaro vinha desvalorizando as medidas de isolamento e pedindo que as pessoas regressassem aos seus postos de trabalho.

O Presidente brasileiro, que chegou a comparar o vírus SARS-CoV-2 a “uma gripezinha”, disse no domingo que o novo coronavírus devia ser “enfrentado como homem”.

“Essa é uma realidade, o vírus ‘tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque”, disse Bolsonaro.

“Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia”, acrescentou o Presidente brasileiro.

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