Dia 11: Vamos trocar o Dia das Mentiras pelo Dia da Magia?

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, separadas pela quarentena, e não só.

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@DESIGNER.SANDRAF

Ana,

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Nunca gostei do Dia das Mentiras. Em tempos de fake news, menos ainda. Se são muito bem-feitas, enganam e provocam aflição e, às vezes, não há nada, nem ninguém, que consiga repôr a verdade. Se não enganam, geralmente são piadas toscas.

Prefiro falar de magia. Um dia, abri a gaveta das minhas camisolas, com as gémeas ao lado, e percebi que o meu casaco cor-de-rosa favorito tinha um buraco roído por um daqueles ratinhos do campo que entram em casa, vindos do jardim. Naquele instante, “nasceu” a Ratinha Cor-de-Rosa, uma fashion-victim, que queria ter um guarda-roupa digno de se ver. As histórias depois foram-se multiplicando, como sabes, e neste momento é a Marta que as adora, e até coseu ela própria o vestido de noiva da Ratinha, que casou com um Rato Azul que, contou-me, encontrou contigo numa gaveta aí de casa, ao lado de uma camisola azul com buracos.

Numa destas tardes de FaceTime, mostrei-lhe os ratinhos que nasceram (passei a noite a tricotá-los, na esperança de a surpreender) e, enquanto discutíamos como se haviam de chamar, ela disse-me, com aquela voz muito meiguinha dela: “Avó, sabes que só eu e tu é que acreditamos neles, não sabes?”

De uma forma bondosa, está a tentar revelar-me a verdade, devagarinho para eu não me magoar. Sem querer perder a magia.

E é neste ponto que quero a tua opinião. Há pais que confundem magia e mentira. Que têm medo do Pai Natal e da Fada dos Dentes, afligem-se quando uma avó garante aos netos que há duendes minúsculos a viverem em cogumelos. Temem que os filhos os “desmascarem” e percam a confiança neles. E os avós calam-se. E é uma pena.

Obrigada, por acreditares na Ratinha Cor-de-Rosa e no Rato Azul.

Beijos


Olá!

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Ummm.... Também não era grande fã do Dia das Mentiras, mas os filhos pequenos têm a grande vantagem de nos entusiasmarem com quase tudo. Por causa deles, também já não odeio o Ano Novo, nem o Halloween! Por isso, vamos pensar numa partida para fazer à avó!

Dito isto, concordo que o Dia das Mentiras foi criado para os muggles (os humanos não mágicos), porque quem não acredita em magia julga que só tem duas hipóteses: dizer a verdade ou mentir. Felizmente, eu e os miúdos crescemos numa família de bruxos e feiticeiros, de pixies e de fadas, por isso não temos medo que uma coisa bonita se transforme numa mentira, porque sabemos que as mentiras más não têm um pingo de magia.

Este Natal, estava no carro com uma das gémeas que me disse: “Mãe, sabes que a mãe da minha amiga lhe disse que o Pai Natal não existia? Ó mãe, mesmo que isso fosse verdade, a mãe não tinha que o dizer, porque assim a minha amiga não pode acreditar!” E é mesmo isto. Às vezes, dizer a “verdade” não nos permite acreditar. E acreditar é tão bom, é tão útil para a vida... e tão difícil!

Por mim, quanto mais treino tiverem os miúdos em acreditar em coisas que podem não ser óbvias de ver, melhor. Porque nos anos mais difíceis, nas alturas mais escuras, como esta que vivemos, quando toda a “verdade” do momento lhes disser que é tudo mau, espero que acreditem, que se pode resolver, que tudo pode voltar a ser bom.

Por isso, por mim, fazíamos já um abaixo-assinado para trocar o Dia das Mentiras pelo Dia da Magia. Precisamos todos bem mais do segundo, do que do primeiro!

May the force be with you.

Ana


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram

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