Coronavírus

Como é voar em tempos de pandemia?

Sharon Pulwer, fotojornalista do Washington Post, voou entre Newark, nos EUA, e Telavive, em Israel, no dia 17 de Março, e documentou toda a viagem.

Passageiros preparam-se para o desembarque, no aeroporto Ben Gurion, em Telavive, no dia 18 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post
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Passageiros preparam-se para o desembarque, no aeroporto Ben Gurion, em Telavive, no dia 18 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post

Quando Sharon Pulwer, fotojornalista do Washington Post, entrou no Aeroporto Internacional de Newark, a 17 de Março, "estava tudo muito vazio", explicou ao P3, em entrevista por email. "A maior parte das lojas e restaurantes estava encerrada, à excepção de poucos [espaços], que tinham muito pouca gente a consumir." Os passageiros, assim como os funcionários, usavam máscaras e luvas de protecção. Os procedimentos de segurança seguiam o padrão habitual, mas os comportamentos alteraram-se. Uma estranha e tensa calma percorria todo o espaço. "Ninguém testou a temperatura [ao embarque], mas as pessoas estavam muito conscientes da necessidade de distanciamento social e davam o seu melhor para manterem os dois metros de distância uns dos outros."

Já dentro do avião da El Al Israel Airlines, "os passageiros tinham um ar preocupado", descreve Sharon, que documentou toda a sua viagem até Telavive. "Mudavam de posição sempre que alguém tossia ou espirrava." As conversas giravam em torno das notícias, refere, e alguns "tentavam manter o ambiente leve". Esperava-os, à chegada a Israel, 14 dias de quarentena — "por isso, faziam piadas sobre a réstia de calor humano de que deveriam desfrutar", ainda dentro do avião. "Um dos passageiros comentava comigo a eficácia do uso de máscara porque ele tinha escolhido não usar. E dizia: 'Se alguém aqui estiver infectado, todos ficaremos infectados, com ou sem máscara'." Todos os passageiros foram informados, a bordo, que se apresentassem sintomas do novo coronavírus deveriam reportá-lo à tripulação.

Sharon, à semelhança de muitos dos passageiros daquele voo, não tinha planeado voar nesta altura. Foi, para a fotógrafa, "uma decisão de última hora". E justifica: "Há muitas pessoas que não vivem nos países ou cidades onde nasceram. A realidade alterou-se muito rapidamente e muitas pessoas tiveram de se mudar, rapidamente, para junto das pessoas que amam – ou para um lugar onde se sentiam seguras."

Sharon aterrou no dia 18. Em Israel, país que conta neste momento com mais de quatro mil casos de covid-19 e 16 mortes, só é permitida a entrada de cidadãos e de residentes permanentes, por isso "não havia turistas a bordo". "A quarentena, em Israel, requer que se façam alguns preparativos – como encontrar lugar para ficar sem colocar terceiros em risco." Aqueles que não conseguem encontrá-lo têm de avisar as autoridades de saúde do país. "Em todo o caso, a polícia israelita telefona e faz inspecções às casas dos recém-chegados, para perceber se existem condições ideais para a realização de quarentena." Ou seja, toda a gente que saiu daquele avião "sabia que iria encontrar uma realidade muito distante do conceito de férias". Sharon fechou-se num quarto assim que aterrou e não contactou com ninguém, garante. Hoje, 31 de Março, é o seu primeiro dia de liberdade. Condicionada.

Local de check-in e partidas no aeroporto de Newark, a 17 de Março
Local de check-in e partidas no aeroporto de Newark, a 17 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post
A zona de chegadas no aeroporto de Newark estava mais calma do que o normal
A zona de chegadas no aeroporto de Newark estava mais calma do que o normal ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Hospedeira do voo entre os EUA e Israel
Hospedeira do voo entre os EUA e Israel ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Passageiros do voo da EI AL conversam com os membros da tribulação, antes da descolagem
Passageiros do voo da EI AL conversam com os membros da tribulação, antes da descolagem ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Luvas usadas junto à refeição que foi servida a bordo
Luvas usadas junto à refeição que foi servida a bordo ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Funcionário que dirige os passageiros para os táxis, no aeroporto de Ben Gurion, a 18 de Março.
Funcionário que dirige os passageiros para os táxis, no aeroporto de Ben Gurion, a 18 de Março. ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Cena do interior da aeronave, a 18 de Março
Cena do interior da aeronave, a 18 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Funcionários do aeroporto de Ben Gurion, em Telavive, utilizam fato de protecção
Funcionários do aeroporto de Ben Gurion, em Telavive, utilizam fato de protecção ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Junto à recolha de bagagem, em Ben Gurion, não estava ninguém
Junto à recolha de bagagem, em Ben Gurion, não estava ninguém ©Sharon Pulwer para o Washington Post
O local de chegada, em Ben Gurion, estava mais calmo do que é habitual
O local de chegada, em Ben Gurion, estava mais calmo do que é habitual ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Passageiros nas escadas rolantes do aeroporto Ben Gurion, em Telavive, no dia 18 de Março
Passageiros nas escadas rolantes do aeroporto Ben Gurion, em Telavive, no dia 18 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Os passageiros que desembarcam no aeroporto Ben Gurion terão de passar por 14 dias de quarentena.
Os passageiros que desembarcam no aeroporto Ben Gurion terão de passar por 14 dias de quarentena. ©Sharon Pulwer para o Washington Post
Passageiros no Aeroporto Ben Gurion, em Telavive, no dia 18 de Março
Passageiros no Aeroporto Ben Gurion, em Telavive, no dia 18 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post
No exterior da zona de chegadas, no aeroporto Ben Gurion, em Telavive, a 18 de Março
No exterior da zona de chegadas, no aeroporto Ben Gurion, em Telavive, a 18 de Março ©Sharon Pulwer para o Washington Post,©Sharon Pulwer para o Washington Post
O motorista de táxi que transportou Sharon do aeroporto até sua casa, onde fica em quarentena durante 14 dias.
O motorista de táxi que transportou Sharon do aeroporto até sua casa, onde fica em quarentena durante 14 dias. ©Sharon Pulwer para o Washington Post