Guelfos e Gibelinos

Esta é a primeira conversa da nossa segunda memória, dedicada à polarização.

O que acontecerá às nossas polémicas quando já ninguém se lembrar delas? Quando já ninguém entender o significado das palavras com que tanta energia gastamos, tanto fôlego perdemos? É pergunta que me faço desde que fui para a Torre do Tombo pesquisar relatórios da censura e ali, à chegada de cada caixa a abarrotar de documentos, ia lendo as palavras que tinham o mesmo efeito sobre as gentes do século XVIII: “polémica probabilista”, dizia um papel; “jansenistas até aos ossos”, dizia outro; “este livro tresanda a pirronismo”, diria um terceiro; um folheto de cordel satirizava os modos dos “peraltas” contra os modos dos “janotas”; um sermão era acusado de ser “jacobita”. E por aí adiante.

Eu apercebia-me: é isto que nos vai acontecer. É, indubitavelmente, o que vai acontecer também às nossas palavras de agora. Daqui a uns anos vai ser preciso um estudante de mestrado coca-bichinhos dos arquivos electrónicos para nos lembrar o que foi o Brexit ou o que era um “meme”.

E esse será um exercício muito útil, porque as categorias vindas do passado profundo podem ter muito em comum com as nossas perplexidades do presente.

Há muito tempo, muito antes de haver esquerda e direita — antes das revoluções liberais, antes do absolutismo, e até antes do Renascimento, — havia na Idade Média uma grande confrontação política e ideológica entre dois partidos.

Esta é a primeira conversa da nossa segunda memória, dedicada à polarização.

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