Profissionais de saúde pediram quase mil quartos para não levarem o vírus para casa

Plataforma que cruza oferta de alojamentos locais com a procura por parte de profissionais de saúde já está operacional e tem cerca de 1600 quartos disponíveis para os que querem manter-se em isolamento ou estão deslocados da sua área de residência. Coordenador da plataforma pede mais apoios ao Governo.

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LUSA/HUGO DELGADO

Com reservas canceladas e casas vazias, alguns proprietários de Alojamento Local começaram a disponibilizar as suas casas a profissionais de saúde que estivessem na linha da frente do combate à covid-19 e que não quisessem arriscar levar o vírus para casa, pondo em risco as suas famílias. Agora, está disponível uma plataforma que cruza a procura com a oferta destes alojamentos. 

Chama-se Rooms Against Covid-19 e nasceu pela mão de empresários do sector tecnológico, que se uniram num movimento que junta mais de três mil pessoas dedicadas a criar soluções tecnológicas para combater a pandemia — o Tech4Covid19

Até agora, tem cerca de 1600 ofertas de alojamento destinadas a médicos, enfermeiros, auxiliares de acção médica, técnicos e administrativos — que querem manter-se em isolamento ou estão deslocados da sua área de residência. Para os profissionais que estejam no Porto, Lisboa, Faro e Funchal, é possível fazer o processo todo directamente na plataforma.

Em breve, tal será possível também para as cidades de Braga e Coimbra. No entanto, há mais pontos do país onde é possível reservar um quarto, mas que ainda não estão listados no site. Se for esse o caso, o profissional de saúde pode falar directamente, através do chatbot, com os voluntários da plataforma que tratarão de dar seguimento à reserva, explica Mário Mouraz, coordenador do projecto no âmbito do movimento Tech4Covid19. 

Até esta sexta-feira, tinham sido feitos “mais de 150 match”, ou seja, cruzamentos entre os profissionais de saúde e os alojamentos. O objectivo era chegar aos 180 no final do dia. 

Do movimento solidário que começou espontaneamente nas redes sociais, onde rapidamente foram criados vários grupos dedicados a oferecer este tipo de alojamentos a quem trabalha em unidades de saúdes, à iniciativa dos empresários tecnológicos, as “entidades oficiais” acabaram por se juntar ao projecto.

A Direcção-Geral de Saúde aprovou as regras de segurança. O Turismo de Portugal criou um fundo de 250 mil euros para comparticipar as despesas dos alojamentos no que toca a despesas de limpeza, luz, água, electricidade. Um montante que Mário Mouraz teme não ser suficiente.

“Se se fizerem as contas a 300 euros de despesas mensais por apartamento, dá para garantir 800. Estamos, neste momento, com 800, 900 pedidos de profissionais de saúde, mas em Portugal temos 16.000 médicos, temos seis vezes mais enfermeiros, e ainda profissionais que estão a lidar com o vírus como é o caso da Protecção Civil e das autoridades”, nota. 

A plataforma quer também abrir-se a estes profissionais que, não trabalhando na área da saúde, estão também em risco. “Com o pico da crise para chegar, precisamos claramente que o Governo disponibilize uma verba maior para as despesas dos alojamentos”, alerta Mário Mouraz.

Qualquer proprietário pode aderir, desde que tenha as casas registadas no Registo Nacional dos Empreendimentos Turísticos (RNET) e no Registo Nacional de Alojamento Local (RNAL).

Além da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), que em breve lançará uma campanha para angariar mais casas, segundo disse o presidente Eduardo Miranda, também a Associação da Hotelaria de Portugal integra a equipa que coordena este projecto, tendo em vista a captação de unidades hoteleiras. Fazem ainda parte a GuestCentric (empresa também ligada à hotelaria) e o grupo de Facebook AL - Esclarecimentos. 

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