Põe a tua escola no mapa

“Registarem o que veem, ouvem e sentem à sua volta”. Numa palavra: reportagem

Uma associação que acolhe animais, as castas do Dão ou uma visita à cantina em dia de sopa de espinafres. Alunos do Agrupamento de Escolas de Nelas foram desafiados a imaginar-se no papel de repórteres. Alguns dos trabalhos realizados foram dados a conhecer ao PÚBLICO na Escola, através da rubrica “Põe a tua escola no mapa”.

,Leonberger
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“Uma das unidades temáticas do programa da disciplina de português  no 3.º ciclo do ensino básico é ‘Textos dos Media’, sendo dados a conhecer, através da leitura, a entrevista, a reportagem. Como professora de português que acompanha estes meninos desde o 5.º ano, decidi ir mais longe e, no 8.º ano, trabalhar, em oficina de escrita, a notícia e o desenvolvimento desta — a reportagem. Assim, e após a leitura de jornais na aula, os alunos foram desafiados a vestir a pele de repórteres e, focando-se num acontecimento atual da vila de Nelas, registarem para o papel o que veem, ouvem e sentem à sua volta.” A professora Paula Rebelo explica assim como surgiram, desde o início do ano letivo, as várias reportagens feitas por alunos do 8.º D. O PÚBLICO na Escola dá a conhecer algumas.  

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Alinhamento de vinha no Dão DR

As castas e a paisagem do Dão


O vinho Dão, para além de ser conhecido pelo seu paladar inconfundível, pelo seu contributo para a economia da Região, agora também através do Enoturismo, também ganha papel de destaque nas cores que dá à paisagem quando chegam os meses de outubro e novembro. Culpa das castas. Quisemos saber mais sobre este assunto conversando com um enólogo da região.

Matilde Sofia

O rio Dão nasce em Aguiar da Beira e desagua no rio Mondego, caracterizando e emprestando o nome à região vitivinícola do Dão. Nos últimos anos vem conquistando o seu lugar, como outras regiões vitivinícolas, com o Enoturismo.

“Já há muito enoturismo nesta zona. Ainda é incipiente, mas creio que o Dão tem muito potencial para esse tipo de turismo, por isso, não vai ser difícil ganhar fama”, diz-nos o engenheiro Jorge Sofia, da Estação Agrária de Viseu. Mas o que é o enoturismo? Ele explica. “Enoturismo é um tipo de turismo específico, em que as pessoas vêm com tempo para permanecerem e desfrutarem dos vinhos e de todo o ambiente que envolve a sua produção. Este tipo de turista exige uma qualidade muito grande. Normalmente o enoturismo encontra-se associado a pessoas com maior capacidade financeira, o que é bom para a região.” Mas não é só para desfrutar do vinho que as pessoas vêm até aqui, como foi referido. Estes visitantes gostam de acompanhar todo o processo, desde a vinha até à garrafa. O contributo das castas para o dinamismo da paisagem vitícola é fundamental para este tipo de turismo, garantindo uma paisagem em permanente mudança.

As Castas da Região

“As vinhas surgem, no Dão, em talhões, e são organizados por casta, ou então, num modelo de viticultura mais antigo, com as castas misturadas de que resultavam os outrora famosos vinhos palhetos, pois a vindima não era feita por casta, mas sim de todas as castas misturadas. Da forma de organização antiga resultava uma paisagem de um salpico colorido. Atualmente, como as vinhas são organizadas em talhões, parecem mais uma manta de retalhos. ”

Todo este colorido se deve às castas, pois elas têm comportamentos e características diferentes, ao longo das estações do ano e respetivos trabalhos agrícolas.

E o que são castas? — perguntam vocês. Castas são uma seleção de videiras feita pelo Homem, já de milénios atrás, com o objetivo de escolher as melhores em vários aspetos: as que fazem um vinho melhor, as épocas de desenvolvimento, a sua resistência às doenças, etc. É também fácil de saber os seus nomes, pois derivam muitas vezes da sua origem geográfica, por exemplo: “Jaen” e “Aragonez”, populares em Espanha. Também pode acontecer terem um nome de acordo com as suas características de sabor, como é o caso da “Uva Cão” e do “Tinto Cão” conhecidas por serem ácidas (cão=agre), aumentando a acidez dos vinhos. O “encruzado” tem este nome pelas suas características físicas, pois, por vezes, há uma gavinha que sai do entrenó e não do nó, como seria normal. Conclui-se daqui que, apesar de serem da mesma espécie, há videiras muito diferentes umas das outras e com comportamentos e reações diferentes às estações do ano e aos trabalhos agrícolas.

As castas a dar cor à paisagem

As paisagens que se podem ter nas diferentes alturas do ano são muito variadas. Começo com o outono, que é o mês em que se faz o mais importante: a vindima. Vários agricultores juntam-se nas suas quintas para a fazer. Só se veem carrinhas de caixa aberta carregadas de uvas, prontas a serem transformadas no “néctar dos deuses”. A seguir à vindima, as vinhas ficam aliviadas das suas uvas e é tempo de assistir à época da queda das folhas. Começam a ver-se parcelas de várias cores e feitios (talhões), dependendo de que castas são. Ou então, salpicos de várias cores (todas misturadas), o que é mais raro. As tintas ganham tons avermelhados e as brancas, dourados, e há ainda outras videiras mais atrasadas, que, ao contrário das outras que deixam cair algumas folhas, ainda estão verdes.

Depois, chega o inverno frio e gelado, em Portugal, bastante ameno, comparado com o dos países nórdicos. Mas as videiras não o aguentam, e, por isso quando ele bate à porta, já elas estão podadas, sem uma única folha, dormentes e insensíveis ao gélido inverno. Nesta altura observa-se uma paisagem melancólica e, por vezes, misteriosa, quando o nevoeiro as visitas. Só a geada consegue avivar um pouco a situação, com o seu toque cristalino, mas este cenário moribundo não vai durar muito... É que, em abril, na primavera, toda a vida renasce e a vinha não é exceção. Finalmente, depois de quatro meses, começam a ver-se “rebentinhos” a emergirem da madeira e a desenvolverem-se: primeiro as castas brancas e, depois, as tintas. Também aqui se observam diferenças de cor nas castas, pois algumas têm pelos na parte de baixo das folhas, o que lhes dá um tom mais claro quando o vento sopra, e outras, como não os têm, apresentam tom de um verde mais carregado. Em breve, os “rebentinhos” transformar-se-ão num autêntico matagal e é aí que entra a mão do Homem. É tempo de fazer a monda: tirar os “ladrões”, que são ramos que nascem onde não deviam nascer.  Por outras palavras, intrusos, e o alinhamento da sebe. Por fim, em maio chega a fase da desponta, onde se usam as máquinas para aparar as videiras. Agora sim, a vinha está apresentável. A seguir a estes trabalhos, só se requer paciência e um pouco de tratamentos e a vinha estará pronta para a próxima vindima, e a próxima e a próxima…

Em suma, isto é um ciclo, mas é um ciclo que nunca deixará de nos surpreender, pois, por mais que o conheçamos, a Natureza terá sempre mistérios por desvendar.

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O grupo de repórteres que foi conhecer a associação DR

A SOS dos animais de Nelas

 

Sediada na Quinta da Cerca, em Vilar Seco, a Associação SOS ANIMAIS DE NELAS tem como função ajudar e tratar dos animais abandonados que são encontrados.

Alexandra Monteiro, Ana Margarida Paraíso, Beatriz Vilar, Bruno Sampaio e Gustavo Reinas

Sábado, 12 de outubro. Início de uma tarde primaveril. Na qualidade de repórteres juniores da EBFA, fomos conhecer a SOS ANIMAIS de Nelas. O nosso objetivo é dar a conhecer aos nossos leitores a única associação que, no concelho, recolhe e cuida dos animais abandonados na vila e arredores. Estamos do lado de fora da Quinta e podemos ouvir os cães a ladrar. Estes, ao entrarmos, correm, saltam e brincam, em frente às grades das boxes. Depois de brincarmos muito com os cães, fomos colocando algumas questões, prontamente respondidas pela Presidente da Associação, Patrícia Borges. A SOS NELAS nasceu em 2014, para compensar a falta de um canil municipal em Nelas.

A associação pretende minimizar, ao máximo, os casos de maus tratos a animais, assegurando-lhes condições básicas de vida. Em termos de apoios financeiros, a SOS ANIMAIS vive mais de donativos do que propriamente de apoio da autarquia, sendo que a câmara municipal nem sempre deu o apoio necessário à associação. E as despesas são muitas: por ano cerca de 10 mil euros. Nestes cinco anos de existência, já ajudaram cerca de 500 animais entre cães e gatos, em média, 100 animais por ano. E como podem as escolas do Agrupamento de Nelas ajudar a associação? Fazendo voluntariado, recolher donativos e dar a conhecer a toda a gente este projeto para crescer, e para ajudar mais animais que, pelo que vimos, estavam bem felizes e tratados.

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Nada melhor do que as cantinas escolares para vermos como se alimentam os nossos jovens

 

Hoje, dia 16 de outubro, celebra-se o Dia Mundial da Alimentação. Esta iniciativa foi instituída 1979 pelos países membros na 20ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

Verónica Kumpan

Neste dia, em 150 países, incluindo Portugal, realizam-se atividades relacionadas com a nutrição e a alimentação. Pretende -se, acima de tudo, sensibilizar a população para a adoção de uma alimentação saudável e equilibrada, alertar para a problemática da fome, pobreza e desnutrição no mundo; reforçar a cooperação económica e técnica entre países em desenvolvimento; promover a transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento; encorajar a participação da população rural, na tomada de decisões que influenciem as suas condições de vida.

Os Repórteres da EBFA foram saber como andam os hábitos alimentares da população estudantil nelense e nada melhor do que as cantinas escolares para vermos como se alimentam os nossos jovens.

A nossa visita começou na cantina do Centro Escolar, um espaço agradável, com condições e muita luz natural. As paredes estão decoradas com motivos infantis. É hora de almoço. A agitação começa. Pouco a pouco, entram na cantina crianças de mão dada acompanhadas por um adulto. Vêm alegres, outras tristes. Hoje, é sopa de espinafres, legume estranho para algumas crianças, tornando este sacrifício ainda maior. Uns dizem «Detesto espinafres!”, outros questionam o porquê de comer sopa já que “nem em casa como”.

Olham para o prato e mais uma desilusão - no meio daquele arroz branco ressalta à vista a cenoura, as ervilhas, os grãos de milho.

O garfo e a faca até dançam sobre aquele arroz de legumes, empurrando a ervilha para um lado, empurrando a cenoura para o outro. Tentam escolher arroz, somente arroz! Parece o jogo da “Caça ao arroz”.

Os filetes de pescada, que pareciam salvar esta situação, também são alvo de reclamação, pois muitos não gostam de peixe, porque tem espinhas.

Finalmente, vem a sobremesa: gelatina. Esta, sim, uma sobremesa adorada pelas crianças!

Já a cantina da Escola Básica Dr. Fortunato de Almeida é um espaço maior, com paredes pintadas de amarelo. As janelas estão emolduradas com cortinas decoradas com motivos bem apropriados: frutos variados. Toca para a saída. Só aparece metade da escola. A outra “fornada” vem a seguir. Toda a gente entra cumprimentando a auxiliar da cantina, a D. Marta. A sua função é controlar as entradas na cantina, mas também verificar se comem tudo e respeitando as regras de convivência. À pergunta “Gosta de ser auxiliar na cantina?”, ela responde “Sim, acima de tudo porque gosto de conviver com jovens.”

Neste dia, e no âmbito do PES [Programa de Apoio à Promoção e Educação para a Saúde], há distribuição de maçãs, com a frase “A Apple a Day keeps the doctor away”.

Por fim, fomos à cantina da Escola Secundária. É acolhedora, com cadeiras coloridas, e a maior parte dos alunos gosta de aqui almoçar, ao contrário dos da Escola Básica. Mesmo assim, e apesar da ementa convidativa — sopa de legumes, salada russa e fruta da época — alguns alunos vão comer a um café que existe aqui perto; outros vão a pé até casa porque, dizem, são responsáveis o suficiente para andarem sozinhos pelas ruas de Nelas e arredores. Na sala de aula, o dia foi lembrado, convidando os alunos a verem um pequeno vídeo Baby no Sugar vencedor de um concurso, feito por um grupo de alunos do 8º ano. Bem a propósito! É que sensibilizar os jovens para o consumo exagerado de açúcar é mesmo urgente!

(Título da responsabilidade do PÚBLICO na Escola; foto: Margarida Basto/PÚBLICO)