Marcelo: “O primeiro-ministro indignou-se e eu também me solidarizo com a sua indignação”

Presidente critica a lentidão dos decisores políticos europeus e solidariza-se com o primeiro-ministro português e com a sua reacção às declarações do ministro das Finanças holandês.

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Marcelo Rebelo de Sousa apelou a Bruxelas que desenhe uma resposta "clara e solidária" LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

“A Europa tem de estar unida, tem de ser corajosa e tem de ser solidária.” Depois do primeiro-ministro, foi a vez do Presidente da República criticar a reticência de alguns estados-membros da União Europeia em avançarem para medidas “mais claras e solidárias” na resposta ao apoio económico a prestar aos países durante o combate ao coronavírus.

À saída de um encontro com a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Marcelo Rebelo de Sousa solidarizou-se com “indignação” de António Costa e apelou à união da Europa. O chefe de Estado fez também um apelo aos portugueses e avisou que o combate ao vírus “é uma prova de resistência” que vai durar largos meses. “Não nos podemos deixar vencer pelo cansaço”, pediu.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu as palavras de António Costa sobre o ministro das Finanças holandês e diz que o primeiro-ministro falou "em nome da solidariedade”. Em causa está a afirmação do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, que pediu que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia. À saída de uma reunião por videoconferência do Conselho Europeu, António Costa afirmou que a declaração do ministro holandês tinha sido “repugnante” e que era de “uma absoluta inconsciência” e uma “mesquinhez recorrente” que “mina completamente aquilo que é o espírito da UE e que é uma ameaça ao futuro da UE”.

Esta sexta-feira, Costa reiterou a crítica e recebeu o apoio do Presidente. “O primeiro-ministro indignou-se e eu também me solidarizo com a sua indignação. A Europa que têm tanto peso no mundo não é capaz de perceber que tem de estar unida, ser corajosa, ser determinada e solidária”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa. Para o Presidente da República, é inaceitável que, “num processo que deve ser de unidade”, existam “actuações que enfraquecem a Europa, num momento crítico e fundamental”. 

“Se cada um de nós começa a dizer mal dos outros, onde é que vai parar a solidariedade? É como numa família. Se numa família começa um membro a responsabilizar o outro momento da família num momento em que é crucial para a unidade da família e num tempo em que isso só enfraquece, quem é que ganha com isso? Ninguém”, considerou. “É um problema de bom senso.”

Marcelo pede eurobonds

Na sua declaração, o Presidente da República revelou também que, tal como o Governo português, apoia a proposta de emissão de títulos de dívida comunitários, solução que não foi aprovada pelo Conselho Europeu. “A Europa deu passos. Mas são passos insuficientes e tímidos”, avaliou o chefe de Estado. “Infelizmente não deu passos no que seriam os eurobonds e que Portugal e vários países têm defendido. Há países que têm resistido [quatro estados-membros são contra: Holanda, Áustria, Finlândia e Alemanha]. São uma minoria, mas resistem a dar passos mais claros, menos tímidos, mais solidários e mais determinados”, notou.

“Considero que essa resistência é um erro. É nos momentos cruciais que se vê a capacidade de afirmação das instituições”, declarou. “E esta crise é um momento essencial para se ver se a Europa quer ser mesmo a Europa determinada e virada para o futuro”, afirmou, advertindo que os trabalhadores e empresas “não têm três meses para esperar pelas dúvidas e hesitações dos decisores políticos”.

“Os decisores políticos europeus têm de perceber que isto não é um problema de uma economia ou de um país. Isto é um problema de toda a Europa. Por que é que há-de esperar para perceber o que pode perceber mais cedo?”, sublinhou.

Portugueses devem preparar-se para cansaço

Marcelo Rebelo de Sousa antecipou que os próximos meses serão de cansaço para os portugueses, uma vez que as medidas de restrição e isolamento social deverão prolongar-se no tempo, mas vinca que o seu cumprimento é fundamental para o sucesso do combate à pandemia. “O esforço que está a ser feito para achatar a curva e impedir um pico rápido e intensivo – e cuja dimensão dificultaria a resposta dos serviços de saúde explica o porquê de o pico estar a ser adiado”, afirmou. “Esse deslizar temporal do pico custa aos portugueses e reflecte-se no cansaço”, reconheceu. Mas “isto é uma prova de resistência”, contrapôs. "Não podemos facilitar. Se facilitarmos, o vírus ganha espaço.”

“Estamos a tentar evitar que seja um processo agudo. Isso exige mais meios, mais equipamentos, mais protecção. É um esforço de todos os dias. E todos os dias vão sendo descobertas novas necessidades”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, elogiando os autarcas e instituições que apontam eventuais falhas. “Este desafio de saúde pública é um esforço global. Exige um combate de todas as instituições”, concluiu.

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