Moradores das Caldas da Rainha combatem isolamento com ginástica nas varandas

“Fazemos exercício, damos dois dedos de conversa e vamos sabendo se estão todos bem de saúde”, diz uma das vizinhas.

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LUSA/CARLOS BARROSO
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Com polichinelos e “joelhos altos” começa o aquecimento para 40 minutos de movimento e animação num empreendimento nas Caldas da Rainha onde os vizinhos se juntam todos os dias na varanda para uma aula de ginástica. Às 18:00 a música invade o pátio para onde confluem as traseiras de três prédios, na Cidade Nova (distrito de Leiria), marcando o início de mais uma aula de Carla Feliciano Ferreira aos seus vizinhos.

Treinadora de Natação e de Triatlo nos “Pimpões”, Carla assume desde domingo o papel de “professora” de ginástica, numa missão nascida de uma brincadeira entre vizinhos. O marido de Carla pediu à vizinha do 3.º andar para fazer uns sonhos e, em troca, propôs que a mulher desse uma aula de ginástica. Carla deu a aula, a vizinha deu os sonhos e “café da avó” a todos os moradores, e na vizinhança nasceu o bichinho do exercício diário na varanda, em plena altura de isolamento social, devido à covid-19.

Cremilde Aquiles, de 69 anos, e o marido, Fernando, são os mais velhos ginastas de varanda e vão “fazendo o que se pode”, que a idade já não dá para tantos polichinelos, abre e fecha braços, e saltos para a esquerda e para a direita.

Desde que há ginástica no pátio Cremilde só faltou na quarta-feira, porque “dava uma missa na televisão”. Já Fernando, entre um exercício e outro, até já teve direito a ouvir os vizinhos cantarem-lhe os parabéns das varandas. Somou 74 e fez da idade um posto para só fazer “um bocadinho” da aula de 40 minutos.

Em passo de corrida sem sair do lugar, Marta Xavier grita para os vizinhos “vamos lá, já vamos a chegar à Foz [a 18 quilómetros]”.

Da varanda do 1.º, acompanhada dos filhos de 06 e 10 anos, assume-se uma adepta da “iniciativa espectacular, que faz bem ao corpo e alma” e que até tem contribuído para “conhecer vizinhos” que nem se conheciam.

Não será de estranhar. No domingo eram cerca de 17 os vizinhos a pular, a correr e fazer agachamentos nas varandas. Mas o sucesso da iniciativa passou de boca em boca, atraindo cada vez mais atletas entre os moradores dos três prédios.

Nesta quinta-feira, na mais recente aula, juntaram-se mais de 40. Ao ritmo do som emitido da varanda de Carla, desde casais a pais e filhos ou ginastas a solo, toda a gente mexe. Ao seu ritmo. A cumprir o número de repetições que a idade ou a forma física permitem.

Entre os que se equipam a rigor e os que não dispensam “um casaquinho que o vento está frio”, há quem pule a valer e quem se limite a fotografar, quem salte em cima da churrasqueira e quem vá parando para descansar, sendo acusado de estar a fazer batota.

“Eu divirto-me”, diz Diogo Pontes, de 11 anos, elogiando a ideia, que ajuda a “não estar tanto tempo fechado em casa” e, ao mesmo tempo, “conviver sem estar muito junto ao público”. 

A julgar pela animação nas varandas, o divertimento é comum a todos os participantes.

“Fazemos exercício, damos dois dedos de conversa e vamos sabendo se estão todos bem de saúde”, sublinha Marta Xavier, para quem esta iniciativa poderá “servir de exemplo para pessoas de outros locais”.

Por ali o exemplo do exercício diário vai-se alargando a mais adeptos. Entre os que fazem batota, os que riem e os que se aplicam, todos vão cumprindo os desafios de Carla e aumentando a dificuldade dos exercícios dia após dia.

E quando ao fim de 40 minutos, cumpridos os alongamentos, se silencia a música, há sempre alguém que pergunta com pena “já acabou?”. Ouve-se depois das varandas um coro de “amanhã há mais”.

Amanhã e todos os dias, às 18h00, garante Carla. Até porque no condomínio da Cidade Nova a ginástica nas varandas vai dando outro sentido ao isolamento e aumentando a união entre vizinhos.

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