Sabe aquela do judeu e do muçulmano, ambos paramédicos, que pararam tudo para rezarem juntos?

Duas religiões, uma só oração. Avraham e Zoher dão-nos um momento de paz. No chão de Israel, um chão com uma só administração mas sagrado para milhões de várias fés, eles pararam e rezaram.

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Avraham Mintz e Zoher Abu Jama, duas religiões, uma só oração

Eram seis da tarde em ponto. Perto da cidade de Be'er Sheva, Israel, uma equipa de paramédicos tirou uns minutos do seu tempo depois de terminado mais um dos milhentos serviços destes dias apocalípticos e antes, claro, do próximo serviço, já daqui a segundos.

Num mundo em que neste momento ninguém sequer parece ter tempo para respirar, muito menos para aliviar o stress, Avraham Mintz e Zoher Abu Jama, dois heróis (o termo é usado em Israel agora, como cá, para os profissionais de saúde, mas a dupla não o usa) do Magen David Adom (MDA, serviço de emergência pré-hospitalar e bancos de sangue), preparavam-se para dar ao mundo uma lição ecuménica. Não faltarão vozes com teorias de propaganda e conspiração, mas eis os factos conhecidos:

  • Às 6 da tarde em ponto, Avraham Mintz, praticante da fé judaica, e Zoher Abu Jama, praticante da fé islâmica, posicionaram-se no chão, ao lado da “sua” ambulância.  
  • Avraham, com os seus símbolos e ritos, virado para Jerusalém.
  • Zoher, com os seus símbolos e ritos, virado para Meca
  • Fez-se silêncio e cada um rezou
  • Um colega tirou a fotografia
  • A imagem foi partilhada online e soma milhões de interacções e notícias por todo o mundo.

Simbólico e importante? Sim. Poético, filosófico, humano? Sim. Mas não há aqui novidade. Tal como por muitas outras partes do mundo, embora por vezes não pareça no fluxo das redes sociais e nos ecrãs em geral, milhões partilham momentos semelhantes. Inclusive em Israel, não é nada de novo para as equipas no terreno.

Mas Avraham, que trabalha a tempo inteiro no MDA (que é responsável por treinar voluntários, e Zoher, desta vez, decidiram tornar o momento público. Porquê? Pelas razões evidentes e porque trabalham juntos duas ou três vezes por semana, dia e noite, noite e dia.

“O facto de isto ser tão simples torna [o momento] poderoso. Acredito que eu e Zoher e a maior parte do mundo compreendemos que temos de erguer as nossas mãos e rezar. É tudo o que resta”, disse Avraham à CNN.

“Em termos de ideologias e personalidade, nós acreditamos nas mesmas coisas e temos algo em comum: eu acredito que ele é uma pessoa que dá e recebe com um sentido de honra e é isso que é importante”, declara, por seu lado, Zoher, à mesma cadeia norte-americana de televisão.

Rezaram os dois um quarto de hora. Entraram para a ambulância e voltaram ao trabalho. 

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