Covid-19. Comunicação-20

O vírus ainda não morreu. Mas a comunicação entre nós vai acabar por matá-lo. Saibamos construir um novo futuro a partir daí.

Por todo o país, por todo o mundo, multiplicam-se as homenagens simbólicas a quem está na linha da frente no combate ao coronavírus. Médicos, enfermeiros, auxiliares do serviço de saúde e todos quantos lutam dia a dia para acabar com o vírus e com o sofrimento de quem está infetado. O mundo transforma-se, caminha para uma forte crise económica e ainda estão por medir os impactos reais ao nível do número de vítimas. Esperam-nos meses (talvez anos) de grande exigência.

Há, no entanto, muitos outros profissionais, de várias áreas, que também merecem destaque. Por exemplo, nos media e na comunicação. Com grande parte da população mundial trancada em casa, a informação noticiosa assume um papel fundamental no acompanhamento da situação, na informação sobre medidas a seguir (seja no campo da prevenção, seja na antecipação da crise económica) e na difusão de boas práticas que possam vir a minorar os efeitos da pandemia.

As redações estão em rebuliço. Profissionais na linha da frente, com reportagens diárias em locais de grande risco de contágio, emissões produzidas a partir de casa e muita criatividade na forma como se mantêm as grelhas e não se deixa de informar. Mais: um garante na destrinça do que é notícia e o que é apenas lixo informativo e contrainformação. Do lado da comunicação, o cenário é igualmente intenso. Com a maioria das agências e profissionais a trabalhar remotamente, intensifica-se, no entanto, a produção de conteúdos audiovisuais e a comunicação interna, com colaboradores e parceiros de negócio.

O mundo não estaria preparado para esta pandemia. Mas nunca, porém, esteve tão bem equipado como hoje. O vírus promete dar luta, mas a comunicação entre equipas, empresas, países acabará seguramente por vencer. E, quem sabe, um novo paradigma de trabalho remoto, com menor impacto ambiental, menor desgaste e, possivelmente, a mesma eficácia, possa ter vindo para ficar, aliando a isso um ainda maior crescimento do comércio online que, para melhorar a sua sustentabilidade, terá apenas que se reorganizar por regiões, de forma a reduzir a pegada e acabar com a “pandemia” logística.

Um momento como este, em que são esperados muitos milhares de mortos, não pode ser visto como uma oportunidade. Mas nenhuma morte deve ser desperdiçada sem que daí se aprenda, se corrija, se melhore. Todos sabíamos que o rumo do Planeta não estava certo. Que os avisos do ambiente eram sérios e que uma qualquer catástrofe estaria para breve. A ameaça real acabou por ser microscópica e conseguiu mais do que dezenas de cimeiras, de manifestações, de acordos e promessas inúteis.

Estamos em casa. Os níveis de poluição estão a reduzir todos os dias. Há seguramente muitos empregos que vão acabar. Grandes empresas equacionam já a partilha da produção por áreas de maior proximidade. Os países-fábrica poderão passar a estar dispersos por mais continentes. Há riscos que talvez não possamos, nem queiramos, voltar a correr. Este é o momento para um redesenho das nossas vidas e para um novo paradigma económico.

A palavra máxima será, como sempre, ditada pelo consumidor. Somos nós que fazemos as nossas escolhas. Quando compramos, quando viajamos, como vivemos. É a partir desta crise que podemos impor as novas regras. As nossas regras. E condicionar empresas, países, mercados ao ajuste mundial que sem este vírus não seríamos capazes de impor.

O vírus ainda não morreu. Mas a comunicação entre nós vai acabar por matá-lo. Saibamos construir um novo futuro a partir daí.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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