Cresce pressão sobre a FIFA e o COI para rever idade no futebol olímpico

Adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 retira da equação muitos dos jogadores que ajudaram na caminhada até ao torneio. Coreia do Sul e Austrália já se pronunciaram.

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LUSA/Yuri Edmundo

Têm chegado a conta-gotas muitos dos problemas gerados pelo adiamento dos Jogos Olímpicos. As mudanças provocadas no torneio de futebol já tinham começado a levantar reservas e nesta quinta-feira as federações da Coreia do Sul e da Austrália apelaram à FIFA e ao Comité Olímpico Internacional (COI) para reverem em alta os limites de idade impostos pelos regulamentos.

A questão é simples: a participação do futebol nos Jogos pressupõe que as selecções convoquem jogadores com menos de 23 anos, estando também prevista a inclusão de três futebolistas acima desse limite. Três excepções, portanto. Tem sido assim noutras edições e foi assim durante a fase de qualificação.

O problema é que, ao adiar o evento que vai ter lugar em Tóquio para 2021, muitos dos atletas que contribuíram para a campanha de apuramento das selecções e que estavam no limite da idade vão violar os regulamentos dentro de um ano. É o que acontece com variadíssimos jogadores do Brasil, por exemplo, num lote que inclui o médio do Sporting Wendel.

Ora, o que agora a Coreia do Sul e a Austrália (e seguramente muitas outras federações em breve) vêm pedir à organização do torneio, repartida entre a FIFA e o COI, é que suba excepcionalmente esse limite para 24 anos, para impedir que muitos dos jogadores que ajudaram na campanha fiquem de fora por motivos regulamentares.

Evitar desvantagem dos atletas

Na prática, o que seria necessário era aplicar a data de nascimento dos atletas prevista para os Jogos de 2020 (1 de Janeiro de 1997) na edição de 2021. Uma questão que o organismo que rege o futebol mundial deverá abordar, depois de ter assumido que trabalharia em conjunto com o COI para resolver todos os problemas gerados pelo protelamento do evento.

“Gostaríamos de pedir que tomassem medidas para garantir que os jogadores que contribuíram para a participação olímpica dos seus países não ficam em desvantagem”, escreveram os dirigentes da federação de futebol da Coreia do Sul numa carta enviada à FIFA, ao COI e à Confederação Asiática de Futebol (AFC).

A Coreia do Sul, de resto, construiu grande parte do sucesso da qualificação em jogadores na barreira dos 23 anos, como Won Du-jae e Song Bum-keun, um dos melhores guarda-redes da campanha.

Situação idêntica enfrenta a Austrália, que, no actual cenário, veria seis dos futebolistas da última convocatória falharem os Jogos de Tóquio. Matt Carroll, director executivo do Comité Olímpico Australiano, e o presidente da federação, James Johnson, querem abrir tão depressa quanto possível a frente de discussão sobre o tema.

“Esta medida [aumento da idade limite para 24 anos] garantirá que os jogadores que ajudaram as suas selecções mas seriam inelegíveis para o torneio no próximo ano terão uma oportunidade de cumprir o sonho de representar o país e tornarem-se atletas olímpicos”, justificou Johnson. 

Razia no México e artigo 55

Se nada for feito para ajustar o regulamento às circunstâncias excepcionais provocadas pela pandemia de covid-19, talentos com os de Gabriel Jesus, Lucas Paquetá ou Bruno Guimarães assistirão aos jogos à distância. Isto apenas para citar a “armada” brasileira, uma das mais poderosas do lote de 16 selecções, que inclui também pesos-pesados como a Alemanha, a França, a Espanha ou a Argentina. 

Ainda com duas vagas por atribuir, referentes à CONCACAF (cujo torneio pré-olímpico deveria estar a disputar-se nesta altura e foi adiado para uma data a definir), o México também manifesta preocupação. Sério candidato à presença em Tóquio, o conjunto treinado por Jaime Lozano corre o risco de ter de abdicar de nada menos do que 12 dos 20 jogadores que integraram a mais recente convocatória.

A esperança de todas as equipas reside agora na flexibilidade dos organismos que tutelam a prova, naturalmente, mas também no que dispõe o artigo 55 do regulamento do torneio olímpico, que se refere a situações imprevistas. “Os casos que não estejam previstos no presente regulamento, assim como os casos de força maior, serão resolvidos pela FIFA em colaboração com o COI e a organização de Tóquio 2020. Todas as suas decisões serão definitivas, vinculativas e inapeláveis”.  

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