Coronavirus: Ordem dos Médicos quer revisão de orientação da DGS e compra de mais testes

“Os testes têm de se arranjar”, uma vez que são a única forma de perceber realmente que profissionais de saúde estão aptos para trabalhar, diz o bastonário, Miguel Guimarães.

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Rui Gaudencio

O bastonário da Ordem dos Médicos quer a revisão da orientação feita pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) para os profissionais de saúde expostos ao novo coronavírus que representam baixo risco de contágio, apelando para a realização de mais testes.

“Vamos pedir à directora-geral da Saúde [Graça Freitas] que reveja este despacho, porque as coisas, às vezes, saem assim, e que coloque este despacho como ele dever ser”, afirmou à Lusa Miguel Guimarães, sublinhando que para os profissionais de saúde de “alto risco as orientações estão bem”, mas para os que representam “baixo risco não estão”.

De acordo com uma orientação da DGS, datada de 21 de Março (sábado), os profissionais de saúde expostos ao SARS-CoV-2 (o novo coronavírus que provoca a doença covid-19) estão classificados em dois tipos: alto risco de exposição e baixo risco de exposição.

Segundo este documento, um profissional de saúde é considerado de alto risco quando é exposto, durante a prestação de cuidados, a pessoas contagiadas com a doença covid-19, sem “utilização de equipamento de protecção individual adequado”.

Também se incluem nesta classificação os profissionais de saúde que tiveram contacto, “através de mucosas, com fluidos orgânicos de um doente” infectado com o novo coronavírus, ou que tenham tido contacto “desprotegido em ambiente laboratorial com amostras biológicas” de SARS-CoV-2.

Nestes casos, os profissionais ficam em isolamento profiláctico, durante 14 dias, estando impedidos de ir trabalhar.

Considera-se que um profissional de saúde é de baixo risco se esteve exposto a um doente “com covid-19 sem prestação de cuidados directos e sem uso de equipamento de protecção individual”.

Neste caso, os profissionais de saúde continuam a trabalhar, devendo proceder à “automonitorização, com medição da temperatura corporal, duas vezes por dia, e estar atentos para o surgimento de sintomas” de covid-19.

“Depois logo se vê se tem sintomas. Isto não é o procedimento para todas as outras pessoas”, criticou o bastonário da Ordem dos Médicos, realçando que “o mínimo que se deve fazer é, pelo menos, o teste”.

Miguel Guimarães acrescentou que apenas se consegue fazer a identificação de todas as pessoas que estão contagiadas com a doença provocada pelo novo coronavírus através de testes e que “os profissionais de saúde devem ser prioritários”, porque “lidam com muita gente”.

“Agora se estamos a racionar testes, se estamos a poupar nos testes, estamos a gastar os profissionais de saúde que ficam doentes. Não é uma boa opção. Nós temos é de gastar testes e preservar os profissionais de saúde e os cidadãos”, lamentou, adiantando não querer que “Portugal siga o exemplo” de Espanha ou de Itália.

Por isso, o bastonário considera que “os testes têm de se arranjar”, uma vez que são a única forma de perceber realmente que profissionais de saúde estão aptos para trabalhar.

“Se [o teste] for positivo, vou para casa, se o teste for negativo e não estiver infectado, vou trabalhar”, explicitou.

Miguel Guimarães exclui ainda a hipótese do diagnóstico clínico como forma de teste aos profissionais de saúde, uma vez que “dá para presumir que a pessoa em causa é positiva, que tem sintomatologia compatível” com a covid-19, mas “não dá para dizer” que o resultado é negativo, tornando este método incerto.

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