Coronavírus: Anthony Fauci, o cientista que corrige Trump na Casa Branca

É director do Instituto Nacional de Alergias e doenças infecto-contagiosas dos Estados Unidos há 36 anos, desde os tempos do pesadelo do HIV. Quando falha uma conferência de imprensa na Casa Branca, surgem logo rumores de que terá sido despedido.

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Fauci diz que não quer "embaraçar" o Presidente Trump Reuters/JOSHUA ROBERTS

Na segunda-feira à noite, quando o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, subiu ao palanque da sala de imprensa da Casa Branca para falar mais uma vez sobre a pandemia do novo coronavírus, a atenção de muitos espectadores foi chamada para a fila de personalidades que tinham entrado com ele, e para o espaço vazio deixado por uma figura em particular.

Anthony Fauci, um respeitado imunologista de 79 anos que se tornou numa celebridade nas redes sociais por corrigir as declarações menos científicas de Trump, falhava a conferência de imprensa diária e punha o Twitter a arrancar os cabelos, a pensar se o médico preferido dos críticos do Presidente norte-americano tinha sido despedido.

“Onde está o dr. Fauci?”, questionou-se a jornalista do canal MSNBC Mika Brzezinski, uma conhecida crítica de Trump. “Isto é perturbador”, disse Brzezinski, referindo-se à ausência de Fauci e às afirmações sem contraditório do Presidente norte-americano. Entre elas, a promessa de reactivar a economia do país “muito em breve”, mais cedo do que as estimativas dos especialistas aconselham.

Outros, como o republicano Joe Walsh, um antigo congressista que chegou a concorrer contra Trump nas primárias deste ano, foram mais cortantes nos comentários: “É evidente que o cobarde que está na Casa Branca já não consegue lidar com a presença do dr. Fauci. São péssimas notícias para o povo americano.”

"Não quero embaraçá-lo"

Director do instituto de Alergias e Doenças Infecto-contagiosas dos Estados Unidos desde 1984, onde chegou nos primeiros tempos do pesadelo do HIV, Anthony Fauci é uma das personalidades mais respeitadas na comunidade científica dos EUA e já trabalhou sob seis presidentes – quatro republicanos (Ronald Reagan, George Bush, George W. Bush e Donald Trump) e dois democratas (Bill Clinton e Barack Obama).

Dos primeiros anos no cargo ficou-lhe a imagem de conselheiro sem papas na língua, sempre educado no trato, mas sem deixar nada por dizer. Foi ele quem pôs o Presidente Reagan a levar a sério o vírus do HIV, e é ele quem está a tentar fazer com que o Presidente Trump leve a sério o vírus Sars-Cov-2, causador da doença covid-19 e de uma pandemia sem precedentes na História moderna.

No domingo, um dia antes da ausência notada na conferência de imprensa, Fauci deu uma entrevista ao site da revista Science e falou sobre a convivência na Casa Branca com o Presidente Trump em tempos de combate a um novo vírus.

“Não posso saltar para a frente do microfone e empurrá-lo de lá para fora. Na próxima oportunidade, tentamos corrigir o que foi dito”, disse, questionado sobre o que deve ser feito para impedir que o Presidente norte-americano faça declarações incorrectas ou enganadoras sobre o novo coronavírus.

No sábado, numa conversa com a colunista Maureen Dowd, no New York Times, Fauci foi ainda mais directo sobre os motivos da sua abordagem firme, mas sempre diplomática: “Não quero embaraçá-lo. Não quero agir como um durão, como se estivesse a fazer frente ao Presidente. Quero apenas que os factos sejam conhecidos.”

Esta terça-feira, num sinal de que a popularidade de Fauci junto do grande público está a ser notada na Casa Branca, o Presidente partilhou um vídeo em que o epidemiologista garante, numa entrevista ao canal conservador Fox News, que nunca foi impedido de aplicar medidas assentes na ciência. E tratou-o como se fossem amigos há muitos anos: “Obrigado, Tony!”

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