Morreu o arquitecto e escultor Artur Rosa

O arquitecto e escultor Artur Rosa morreu esta terça-feira, aos 94 anos, em Lisboa, vítima de pneumonia, anunciou o atelier Helena Almeida, a artista plástica com quem foi casado.

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Artur Rosa na estação de metro do Terreiro do Paço, em Lisboa, que lhe mereceu o Prémio Valmor em 2007 cortesia francisco nogueira

Arquitecto e escultor, Artur Rosa nasceu em Lisboa em 6 de Março de 1926. Ao longo de mais de 50 anos registou sistematicamente em fotografia a vida artística da artista plástica Helena Almeida, com quem foi casado. Artur Rosa morreu na manhã desta terça-feira no Hospital Egas Moniz, anunciou o atelier Helena Almeida em comunicado.

Formado em arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, Artur Rosa foi distinguido no ano passado com o título de membro honorário da Ordem dos Arquitectos. Da sua obra arquitectónica destaca-se a estação de metro do Terreiro do Paço, em Lisboa, que lhe mereceu o Prémio Valmor em 2007.

Em 1951 começou a dedicar-se à escultura, sendo da sua autoria uma obra composta por um conjunto de cubos metálicos vermelhos, implantada na avenida Conde Valbom, em Lisboa, perto da Fundação Calouste Gulbenkian, em cuja colecção Artur Rosa está também presente. Além de ter participado em várias exposições colectivas, Artur Rosa realizou também exposições individuais em galerias e criou cenários e figurinos para o Ballet Gulbenkian e para o Teatro Experimental de Cascais.

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"Auto-retrato", 1978, CAM / Colecção Moderna do Museu Gulbenkian Centro de Arte Moderna

Durante mais de 50 anos, Artur Rosa retratou o trabalho da mulher, Helena Almeida, uma das mais internacionais artistas portuguesas. Quando, em 2013, o antigo espaço BES Arte & Finança, em Lisboa, realizou uma das maiores exposições com a obra de Helena Almeida, a artista falou à Lusa sobre o seu processo criativo e a presença do marido no mesmo. Com obras que recuavam até 1977, e um conjunto de inéditos em Portugal, a exposição revelava, por exemplo, Andar, abraçar, um vídeo inédito de 2010, de 19 minutos, que mostrava duas pernas, uma de homem, outra de mulher, unidas por um cabo preto e que tentavam, em conjunto, percorrer o ateliê, continuamente, de um lado ao outro, até o chão negro ficar cheio de riscos brancos.

Na altura, Helena Almeida dizia à Lusa que "iria estranhar se fosse outra pessoa": Artur Rosa era a única pessoa, além da artista, a participar nas suas composições. “Estranharia se fosse alguém com quem não tivesse intimidade. Para mim não é importante que seja um grande fotógrafo. Interessa-me que fotografe aquilo que eu quero. É o fundamental”, salientou. “O Artur percebia bem o que eu queria, e estava sempre disponível. Quando éramos novos ele tinha muito trabalho de arquitectura, mas mesmo assim vinha para o atelier e trabalhávamos”, recordou ainda Helena Almeida.

Artur Rosa, por seu turno, também presente na visita à exposição, disse na altura que nunca teve de fazer nada mais do que aquilo que Helena pedia: “Fui sempre conduzido”.

Preparar as sessões a dois

Em Maio de 2018, o Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva inaugurava a exposição O Outro Casal. Helena Almeida e Artur Rosacentrada nos registos em que Helena Almeida aparece com o marido.

Na altura, o museu recuperou uma entrevista de Helena Almeida à curadora Isabel Carlos, em que a artista explicava o motivo por que era “sempre ele” a fotografar: “Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projectei”.

“Como tal, tem de ser alguém próximo de mim. Mas antes faço sempre desenhos das situações que quero fotografar. Aliás, a partir da década de 80 passo a usar o vídeo para experimentar, porque um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa. Então, ensaio primeiro com a câmara [...]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma acção”, acrescentou.

O processo iniciava-se quase sempre pelo desenho: as posições, os movimentos em que o corpo da artista seria registado, antes das sessões a dois, com Artur Rosa a também entrar por vezes na imagem.

Na obra de Helena Almeida, a imagem do casal surgiu pela primeira vez em 1979, em Ouve-me, uma sequência de oito fotografias a preto e branco, em jeito de storyboard, em que o rosto dos dois artistas surgem frente-a-frente. A partir de 2006, tal como a mostra O Outro Casal. Helena Almeida e Artur Rosa demonstrou, o aparecimento de ambos tornou-se mais permanente.

Desse ano faz parte O Abraço, sequência de fotografias que remete para um outro abraço, o de O Casal, pintura de 1933 de Arpad Szenes, através da qual se manteve para sempre ligado a Vieira da Silva.

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