Professores portugueses agredidos em Timor por causa da covid-19

Alguns timorenses acusam os docentes de serem responsáveis pela chegada do novo coronovírus ao país. MNE diz que foi “um caso pontual” e está a ajuizar regresso dos professores a Portugal.

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Foto de arquivo de reportagem em Baucau (Timor) sobre os 10 anos da independencia miguel madeira

Professores portugueses em Timor-Leste foram agredidos e ameaçados na cidade de Baucau e estão desde a madrugada de domingo num hotel da capital timorense, Díli. São acusados por alguns residentes de serem os responsáveis de terem levado a covid-19 para aquele país e dez dos 12 professores refugiados já pediram ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português o repatriamento urgente.

Segundo o PÚBLICO apurou, no sábado, um timorense entrou na casa dos professores em Baucau, tendo agredido uma professora, uma outra foi também alvo de uma tentativa de agressão quando se deslocava num transporte público em Baucau e foram também atiradas pedras à casa onde viviam. Há também relatos de agressões verbais, com os portugueses a serem apelidados de “coronas” nas ruas.

No sábado, os professores saíram de Baucau, a cerca de 130 quilómetros de Díli, por ordem da embaixada de Portugal na ilha, e, pelas 4h da madrugada de domingo, chegaram ao hotel onde estão, desde então, resguardados.

Nenhum dos professores está ferido, mas o grupo está muito apreensivo com a situação e a única coisa que a maioria quer é ser repatriada para Portugal o mais rapidamente possível.

Estes 12 professores, que chegaram a Timor a 28 de Fevereiro deste ano, fazem parte de um grupo de 140 docentes portugueses que dão aulas em Timor, ao abrigo de um protocolo entre os Governos dos dois países. O PÚBLICO sabe que uma grande maioria destes professores também já pediu o repatriamento.

Segundo o filho de uma das professoras que está agora refugiada no hotel em Díli, os docentes “estão aterrorizados face ao cenário de insegurança, face à ameaça da covid-19 e de abandono por parte da embaixada portuguesa em Timor Leste”.

“Em Díli, foram colocados num hotel, sendo que hoje lhes disseram que a embaixada não tinha dinheiro para suportar o custo e que poderiam ficar num resort por conta própria, pagando as despesas de 800 dólares mensais para duas pessoas. Os professores protestaram e foi-lhes dada a hipótese de serem colocados num convento, tendo-lhe sido transmitido que a hipótese de repatriamento não estava em cima da mesa”, disse ao PÚBLICO o filho de uma das docentes, que pediu o anonimato em nome da segurança da mãe. Uns optaram por ir para o convento assim que lhes seja possível, outros optaram por ficarem em hotéis na capital timorense.

Contou ainda que os professores temem também a contaminação com o novo coronavírus, visto que já há um caso confirmado no país. Por outro lado, o “débil sistema de saúde” de Timor e “fracas condições de higiene” fazem os docentes ficarem ainda mais apreensivos.

“A única coisa que eles pedem é para serem repatriados rapidamente, porque temem que aconteçam actos mais graves”, acrescentou o filho da docente.

"Caso pontual”, diz MNE

Questionado pelo PÚBLICO, o MNE, através do seu gabinete de comunicação, diz estar a acompanhar a situação dos professores portugueses “desde a primeira hora”, através da embaixada em Díli e dos serviços centrais em Lisboa, em articulação com Ministério da Educação.

“Foi aliás por essa via [embaixada] que nos chegou informação sobre o caso mencionado, de agressões a professores portugueses em Baucau. Tratou-se de um episódio pontual, que aparentemente se deveu a notícias falsas e rumores que circularam esta semana, que tentaram relacionar o primeiro caso confirmado de covid-19 em Timor-Leste com outro caso suspeito em Baucau”, diz a resposta do MNE.

“Entretanto, e por indicação da nossa embaixada em Díli, os professores destacados em Baucau viajaram para Díli, onde já se encontram. As condições de segurança dos professores e outros cooperantes portugueses em Timor-Leste estão a ser analisadas, assim como a evolução da situação em termos de saúde pública e de funcionamento do sistema educativo nesse país, para ajuizar da necessidade e possibilidade de operações de apoio ao regresso a Portugal”.

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