Jornalistas escondem notícias censuradas num jogo online

O Minecraft tem uma enorme biblioteca digital onde jogadores de todo o mundo podem ler notícias censuradas em alguns países.

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O espaço levou 250 horas a ser construído Uncesored Library/RSF
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A biblioteca foi construída por 24 jogadores de 16 países Uncesored Library/RSF
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Está disponível desde dia 12 de Março Uncesored Library/RSF

Os videojogos podem ajudar a combater a censura online. Em países onde a informação não chega toda à população, as redes sociais estão bloqueadas, e a única fonte de notícias são sites oficiais do estado, há jogos online que escapam ao escrutínio dos regimes e continuam disponíveis. Uma das opções é o Minecraft, um vídeojogo que permite aos utilizadores colaborar na construção de espaços físicos ao montar blocos (que lembram peças de Lego) digitais.

A equipa dos Repórteres sem Fronteiras (RSF) usou a estratégia para criar “A Biblioteca sem Censura” (Uncensored Library, em inglês), uma enorme biblioteca digital, aberta desde dia 12 de Março. Qualquer pessoa que visite o espaço tem acesso a notícias censuradas na forma de livros nas prateleiras. Pode-se ler tudo, mas não se pode alterar o conteúdo.

O Minecraft foi o local escolhido para o espaço digital por atrair jogadores de todas as idades e estar disponível a nível global, contrariamente a outros vídeojogos que são censurados pelo seu conteúdo ou mensagens políticas.

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A biblioteca reúne notícias de todo o mundo RSF

Ao todo, foram precisas 250 horas para uma equipa de 24 jogadores, de 16 países diferentes, construírem o edifício digital que deve ser um símbolo de cultura e conhecimento. A arquitectura neoclássica lembra edifícios da Antiguidade clássica (tanto grega como romana), com secções específicas da biblioteca dedicadas a informação censurada na Rússia, Egipto, México, Arábia Saudita e Vietname.

A equipa responsável diz que é difícil impedir o acesso. Embora o endereço de IP (uma série de números separados por pontos, que identificam cada máquina ligada a uma rede informática) possa ser bloqueado, a biblioteca está a funcionar em múltiplos servidores.

“O nosso mapa digital já foi descarregado mais de 27 mil vezes. Cada download permite aos jogadores convidar sete amigos à biblioteca, ou disponibilizá-la novamente”, explica ao PÚBLICO Tobias Natterer da agência de publicidade alemã DDB, que colaborou no design do projecto. “É impossível que um governo encerre por completo a biblioteca porque esta já se espalhou pelo globo.”

Para Christian Mihr, director administrativo dos Repórteres Sem Fronteiras, na Alemanha, o projecto tem como alvo principal “jovens que crescem incapazes de formar as suas próprias opiniões” em países sem liberdade. 

A biblioteca dos Repórteres sem Fronteira segue um projecto de 2018, a Uncensored Playlist, em que notícias censuradas começaram a ser transformadas em ficheiros de música no Spotify com títulos e capas banais para conseguirem circular, livremente, em playlists de todo o mundo.

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