Um vírus matou o mercado

O que o Governo pode e dever fazer durante esta frase crítica deve ser feito sem restrições e, nesse esforço, devem ser incluídos todos os sectores da economia. A banca é, certamente, um dos mais importantes.

O Governo explicou-nos o que podemos e o que não podemos fazer durante o estado de emergência e a generalidade da população assim o fez, voluntariamente e com civismo. Os tempos de excepção que vivemos exigem que individual e colectivamente nos adaptemos a uma outra forma de vida.

A sociedade portuguesa tem sido capaz de o fazer, mobilizando-se como nunca. Empresas juntaram-se para oferecer gel desinfectante a hospitais, o Banco Alimentar criou uma rede de emergência, universidades fizeram doações de material de protecção que recolheu dos laboratórios das suas faculdades e centros de investigação e por aí fora.

Sinais de que a solidariedade e a ética se sobrepõem a interesses mesquinhos de quem explora o desespero que esta pandemia gera, e que se expressam na venda a preços exorbitantes de frascos de álcool ou de máscaras, ou na ignorância de quem quer levantar a suspensão das missas comunitárias. O país percebeu bem o que está em causa, pelo que a declaração do estado de emergência não tem e não terá, para já, grande contestação.

A Comissão Europeia disse aos Estados-membros que podem injectar todo o dinheiro que seja necessário para lidar com os efeitos desta pandemia global e suspendeu as regras orçamentais. Espera-se que o BCE vá mais longe do que já foi e reveja as limitações à compra de dívida que pode deter de cada país e que a emissão de títulos de dívida comunitária seja ponderada sob pena de assistirmos à derrocada da zona euro.

O que o Governo pode e dever fazer durante esta frase crítica deve ser feito sem restrições financeiras e, nesse esforço, devem ser incluídos todos os sectores da economia. A banca é, certamente, um dos mais importantes.

O exemplo da Caixa Geral de Depósitos – ainda bem que temos um banco público – tomou a iniciativa de anunciar medidas paras as empresas e para as pessoas, para que ambas não colapsem, admitindo avaliar uma eventual carência de capital até seis meses no crédito à habitação. Espera-se também que a atitude da CGD se torne padrão num período crítico como este e que a banca seja capaz de retribuir todas as ajudas que recebeu dos contribuintes ao longo dos últimos anos. É um imperativo ético.

Não será a economia de casino que nos salvará da pandemia global – a quem pediram ajuda todos os sectores da economia? Estamos dependentes dos apoios financeiros do Estado-providência e da qualidade dos seus serviços de saúde. E não temos alternativa.

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