Morreu Kenny Rogers, celebrado cantor country, voz de duetos

Kenny Rogers era uma popular figura da country e voz de êxitos pop como a balada romântica We’ve got tonight, com Sheena Easton. Morreu na sexta-feira, de causas naturais, aos 81 anos.

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Kenny Rogers na 47.ª edição dos Country Music Association Awards, em 2013 Eric Henderson/REUTERS

Em Portugal, a sua voz e a sua música tiveram um lugar específico. Anos 1980 e um vídeo em que um homem de barba grisalha e voz bem colocada abre o seu coração à jovem mulher de cabelo curto que, pouco a pouco, questionará o que o seu coração lhe diz. A canção, We’ve got tonight, versão criada em 1983, em dueto com Sheena Easton, do original que Bob Seger gravara cinco anos antes, foi um sucesso mundial e, em Portugal, definiu a sua imagem enquanto cantor de baladas românticas. Não era, porém, o retrato completo do cantor que morreu na sexta-feira aos 81 anos, de causas naturais, rodeado em casa pela família, conforme avançado pelos seus representantes à imprensa norte-americana.

No início, a carreira do homem nascido em Houston, no Texas, a 21 de Agosto de 1938, seguiu o curso dos tempos. Começou pelo rock’n’roll, no final dos anos 1950, chegando a gravar em 1957 um single de sucesso moderado, That crazy feeling. Seguiu-se um flirt breve com o jazz, enquanto integrante dos Bobby Doyle Three, e depois a passagem, enquanto vocalista e contrabaixista, pelos New Christy Minstrels, um dos grupos do renascimento folk da década de 1960.

A alvorada do psicadelismo levou a nova mudança e, em 1967, formou os First Edition, banda de rock psicadélico, autora de singles como Just dropped in (To see what condition my condition is in), e em que, pouco a pouco, começaram a sobressair raízes country inicialmente escondidas sob os órgãos, os efeitos das guitarras e as melodias escapistas.

A barba já estava bem desenhada no rosto, mas Kenny Rogers só se transformaria verdadeiramente no Kenny Rogers cuja perda os Estados Unidos agora lamentam a partir do momento em que, em 1976, iniciou a sua carreira a solo. Caminhando com passo decidido entre as baladas, a pop mais orelhuda e os sons, os temas e as mitologias da country, sempre de olhar no Velho Oeste, tornou-se uma das figuras mais celebradas da cultura popular norte-americana.

Canções como Coward of the county, Laura (What’s he got that I ain’t got) ou, principalmente, The gambler, editada em 1978 e que, mais tarde, viria a originar vários filmes televisivos, abriram caminho para uma carreira que, nos Estados Unidos, contabilizou 24 singles no topo das tabelas e mais de 50 milhões de álbuns vendidos. A década de 1980 foi aquela que cimentou o seu estatuto e que o definiu para a posteridade. São os anos das parcerias criativas com Barry Gibb, dos Bee Gees, ou com Lionel Richie. Foram, principalmente, os anos dos duetos. Começara no final da década de 1970, com Dottie West (Everytime two fools colide), e prosseguiu nos anos 1980 com Kim Carnes (Don’t fall in love with a dreamer), Dolly Parton (Islands on the stream) ou, claro, a supracitada Sheena Easton.

Fez incursões pelo cinema (estreou-se na comédia familiar Six Pack) e foi uma das vozes de We are the world (parte das gravações decorreram, aliás, no seu estúdio em Los Angeles). Avançou pelas décadas seguintes com o estatuto de veterano da country, como celebridade pop, como representante respeitado de um certo espírito americano. Em 2015, anunciou a sua digressão de despedida, manifestando o desejo de descansar e dedicar mais tempo à sua família.

O último concerto teve lugar, como seria de esperar, em Nashville, no coração da música country, e reuniu como convidados antigas companheiras de estrada como Dolly Parton e bandas como os Flaming Lips, no que será testemunho da abrangência que congregou no seu país. Em Portugal, continuaremos a vê-lo eternamente sentado na cadeira no jardim, aguardando que Sheena Easton atravesse o corredor iluminado para cantarem juntos a última noite de todas. 

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