Imagem de polícias em formatura levanta críticas mas PSP quis marcar “gravidade do momento”

Foto na página oficial da PSP no Facebook já mudou para o novo desafio do arco-íris. Polícia confirma um agente infectado que pertence à divisão de Sintra e já estava de quarentena.

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Uma vintena de polícias em formatura com um oficial à frente, em comando, com uma espada desembainhada, ao alto, encostada ao ombro direito. Uma imagem em tons cinza; os polícias de semblante carregado e sobrolho severo. Esta foi a foto colocada pela PSP na sua página oficial no Facebook, assim que o Presidente da República discursou na quarta-feira à noite, com a mensagem “Fique em casa. Nós cuidamos da sua rua.” Agora, a imagem é a de um arco-íris que se sobrepõe ao enevoado do céu açoriano. Vê-se também um carro da polícia em primeiro plano, mas nenhum agente.

Politicamente, o primeiro reparo à foto da formatura veio do PCP: o deputado António Filipe questionou o Ministério da Administração Interna sobre a imagem “agressiva, quase bélica” que estava a ser usada, vincando não ser a forma “mais adequada de uma força de segurança democrática se apresentar” aos cidadãos e nem corresponder “à relação de facto existente entre a PSP e a sociedade portuguesa”. E quis saber se não seria preferível que se transmitisse uma “imagem mais positiva” do que aquela.

Os comunistas discordaram da necessidade de se declarar o estado de emergência por entenderem que a lei já confere todos os poderes ao Estado para actuar, e António Filipe defende ser fundamental não transmitir a imagem das forças de segurança “como uma ameaça para os cidadãos”, mas antes como uma instituição com que “se identifiquem e em quem possa confiar”.

Ao PÚBLICO, o porta-voz da PSP, o intendente Nuno Carocha, admite que foram ponderados os pormenores da primeira foto como o sobrolho carregado dos agentes e o tom cinzento. E que são propositados. Pretendem passar uma ideia de “resolução, determinação”. “Quisemos dar sobriedade e solenidade ao momento, porque é a primeira vez que o país se encontra em estado de emergência. E daí a formatura, com um oficial em comando, mostrando a predisposição, ordenada, para resolver as situações. A espada, que nem é a nossa arma típica, é o instrumento que simboliza o comando na formatura”, descreve o intendente.

Afirma que a PSP recebeu críticas, mas também elogios sobre a imagem. “Estamos habituados. São interpretações.” E garante que a interpretação da PSP é a de que a imagem é adequada. “Se estivéssemos num contexto social agitado, se se tratasse de manifestações ou num cenário de terrorismo, não seria usada, claro. Mas trata-se de um cenário da segurança pública por causa de uma ameaça de saúde pública; queremos mostrar o nosso empenho, que estamos na rua, que é a primeira linha de contágio, mas que não vamos recuar.”

Nuno Carocha conta que estava planeado que a fotografia, colocada ao início da noite de quarta-feira, ficaria na página do Facebook dois a três dias. “Quisemos marcar a gravidade do momento. Vimos que é uma imagem depressiva, não podia ficar mais de 72h, e depois iríamos agarrar numa vertente mais positiva, de esperança. Que é a que temos agora.” A imagem do arco-íris sob o céu açoriano. A ideia veio de Itália, conta, onde as crianças começaram a desenhar e partilhar nas redes sociais arco-íris. Que é o que a PSP pede agora que façam por cá. E irá propor novos desafios e ideias de actividades para as famílias fazerem em casa. “Mas sempre com a mesma ideia: sublinhar que fiquem em casa. Que era, no fundo, o que queríamos dizer com a primeira fotografia.”

Um agente infectado, pré-aposentados a querer colaborar

O porta-voz da PSP confirma que na corporação existe actualmente um agente infectado, vários em quarentena e outros sinalizados em vigilância – não havendo, no entanto, estatísticas centralizadas ainda. O teste positivo ao agente que presta serviço na esquadra de Queluz, integrada na divisão de Sintra, chegou na quinta-feira à noite, embora já estivesse de quarentena há uma semana.

Questionado sobre a disponibilização de equipamento de protecção individual aos agentes, o porta-voz afirma que depois do lote de 15 mil equipamentos distribuídos na passada semana (um kit com um folheto, uma máscara e um par de luvas), houve um reforço de mais dez mil nesta semana e também a distribuição de 5000 pares de óculos. Há cerca de 20 mil agentes na corporação. A direcção nacional estará a tentar agilizar o reforço de equipamentos em articulação com o ministério.

Nuno Carocha congratula-se ainda com a reacção de muitos polícias que estão pré-aposentados quando souberam que poderiam vir a ser chamados para reforçar a componente operacional – como prevêem as regras do estado de emergência. O intendente conta que a PSP tem recebido telefonemas e mensagens desses polícias a questionarem onde e quando se podem apresentar.

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