Coronavírus: Califórnia e Nova Iorque ordenam isolamento de 60 milhões de pessoas

São os dois primeiros estados norte-americanos a imporem esta restrição de movimentos a todos os seus cidadãos. Outros, como o Texas e a Florida, também reforçaram as medidas de combate ao novo coronavírus.

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A Califórnia é o primeiro estado norte-americano a decretar o isolamento obrigatório LUSA/JOHN G. MABANGLO

Num espaço de poucas horas entre quinta e sexta-feira, os estados norte-americanos da Califórnia e de Nova Iorque, dois dos mais populosos do país, com um total de habitantes seis vezes superior a Portugal, ordenaram aos seus cidadãos que fiquem em casa nas próximas semanas, num reforço drástico das medidas para tentarem controlar o aumento de casos de covid-19.

Na quinta-feira, o governador da Califórnia, Gary Newsom, dirigiu-se aos cidadãos a partir do centro de emergência na capital do estado, Sacramento, onde as autoridades locais se reuniram no passado para coordenarem as respostas a grandes incêndios e terramotos.

Sem rodeios, o governador disse aos 40 milhões de habitantes do estado que 56% da população – 25 milhões de pessoas – pode vir a ser infectada pelo novo coronavírus nos próximos dois meses. Até quinta-feira, a Califórnia registou 652 casos, 19 mortes e seis doentes recuperados, com os números a crescerem cada vez mais de dia para dia.

“Chegou a hora de vos dizer o que disse à minha família”, declarou Gary Newsom na sua comunicação ao estado. “Não se trata de uma situação permanente, é uma decisão temporária. Mais tarde, vamos olhar para trás e ver que estas decisões foram determinantes.”

Multas em Nova Iorque

Horas mais tarde, na manhã desta sexta-feira (hora local, menos quatro do que em Portugal continental), foi a vez do governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, anunciar medidas semelhantes às da Califórnia, após dias de muita pressão nesse sentido.

Com metade da população da Califórnia e sete vezes mais casos registados (4597 e 38 mortes), o governador de Nova Iorque acabou por decretar o encerramento da generalidade dos negócios e o isolamento obrigatório em casa de todas as pessoas cujas funções não consideradas essenciais.

“É preciso que toda a gente esteja em segurança, senão ninguém estará em segurança”, disse o governador de Nova Iorque, deixando claro que os cidadãos não têm outra opção.

“Não estamos a falar de conselhos úteis para quem quer ser um bom cidadão. São ordens legais e vamos garantir que vão ser cumpridas”, declarou Andrew Cuomo, explicando depois que as autoridades têm poder para multar cidadãos e encerrar estabelecimentos comerciais de forma coerciva.

À semelhança do que acontece em Portugal após a declaração de estado de emergência, na quarta-feira, os cidadãos da Califórnia e de Nova Iorque apenas devem sair de casa para fazerem compras essenciais ou irem à farmácia, entre outras excepções.

No início da semana, os responsáveis por algumas regiões da Califórnia, como a Bay Area de São Franciso, decretaram o isolamento em casa dos seus habitantes, mas a partir de agora essa ordem estende-se a todo o estado. Em conjunto, os 60 milhões de habitantes da Califórnia e de Nova Iorque representam quase 20% de toda a população dos Estados Unidos.

Florida encerra hotéis

A decisão dos governadores da Califórnia e de Nova Iorque foram anunciadas depois de o Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças ter declarado mais de 10 mil casos de covid-19 em todo o país, o que levou os governadores de outros estados norte-americanos a avançarem para medidas mais radicais – uma decisão sensível nos Estados Unidos devido às implicações para o exercício dos direitos individuais.

No Texas, por exemplo, foi declarada uma situação de desastre de saúde pública pela primeira vez em 119 anos, desde os primeiros tempos da corrida ao petróleo no estado.

No segundo estado mais populoso do país, com 30 milhões de habitantes, o governador Greg Abbott limitou o serviço dos restaurantes e bares à venda para fora, mandou encerrar escolas e proibiu reuniões com mais de dez pessoas.

E no terceiro estado mais populoso do país, a Florida com os seus 21 milhões de habitantes, o governador Ron DeSantis mandou encerrar todos os hotéis no auge da época de turismo nesta região dos Estados Unidos.

Ainda assim, o governador não mandou encerrar as famosas praias do estado – uma decisão que está a ser muito criticada e que deverá ser alterada nas próximas horas ou dias.

Na quinta-feira, os 50 estados norte-americanos mais o distrito da capital, Washington D.C., e os territórios de Guam, Porto Rico e Ilhas Virgens, tinham reportado 10.442 casos de covid-19 e 150 mortes.

Os estados mais afectados são Nova Iorque (20 milhões de habitantes, 4597 casos e 38 mortes), o estado de Washington (7,5 milhões de habitantes, 1187 casos e 74 mortes) e a Califórnia (40 milhões de habitantes, 652 casos e 19 mortes).

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