João Amorim: “Somos todos responsáveis por todos”

João Amorim é instagrammer e líder de viagens pela Agência Landescape. Escreve para a Fugas a partir de São João da Madeira.

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João Amorim

Admito que sou do grupo de pessoas que inicialmente não deu importância nem entendeu a gravidade deste assunto. Passei o mês de Fevereiro a viajar pela Arábia Saudita. Embora se visse muita gente de máscaras, principalmente nos estabelecimentos de atendimento ao público, não se ouvia falar muito do tema “corona”. Portanto nem sei se era por causa disso que usavam as máscaras, ou simplesmente uma medida de higiene normal no país.

Quando voltei, voltei pela Turquia, e aí já havia voos cancelados para o Irão e muita gente de máscara. Eu inclusive. Mas as coisas por cá continuavam bastante calmas, não havia casos ainda.

Durante as semanas seguintes fiz a minha vida normal. E foi durante um passeio pela serra da Estrela e serra da Gardunha que me apercebi que estava num lugar onde não devia estar, devia estar em casa. Não por mim, mas por todos os outros.

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Corremos o risco elevadíssimo de que nos aconteça o que aconteceu em Itália. Há quem diga que já não temos hipótese. Eu não sei, mas sei que neste momento o melhor é estarmos em casa, isso só vai melhorar qualquer que seja a situação das próximas semanas. Ainda pensei em ir até ao Gerês, sei de lugares onde ninguém vai, ou até às praias desertas aqui da zona. Mas não. Qualquer saída de casa é um risco de contaminarmos alguém ou de nos contaminarmos a nós: ao pôr gasolina no carro, abrir a porta do prédio, ao pôr a mão no corrimão. Somos todos responsáveis por todos, e nenhum de nós quer ser responsável pela morte de outra pessoa mais frágil.

Sim, porque é assim que tens de pensar. 

Tinha muitas viagens planeadas para estes meses, muitas aventuras em mente. Se tudo estivesse normal, por esta altura estaria em Itália. Para a semana no Irão e no mês de Maio no Paquistão. Espero conseguir em Maio estar por lá. Mas não é nisso que penso neste momento, esses planos estão on hold.

O meu foco e energia está em influenciar as pessoas à minha volta a terem consciência do momento que estamos a passar: todos temos um papel importante nesta matéria. Acho que o Governo devia fazer mais, restringir mais. Não fazem eles, fazemos nós. Quanto mais rápido actuarmos, mais rápido voltamos à vida normal, mais rápido voltamos a viajar. E, quem sabe, no final disto tudo, tenhamos uma história bonita de união e superação para contar.

Texto escrito no dia 15 de Março de 2020

 
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