O Festival de Cannes cancela edição de Maio e diz à très bientôt

Várias opções estão a ser estudadas, em termos de datas e de formato. Uma delas é empurrar o festival para o fim de Junho ou o princípio de Julho.

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É o anúncio oficial no site do festival, reproduzido em vários órgãos de informação: em virtude da crise sanitária global, não há condições para manter a 73.ª edição do Festival de Cannes nas datas previstas, de 12 a 23 de Maio. Várias opções estão a ser estudadas, em termos de datas e de formato, entre as quais o final de Junho ou o princípio de Julho. Mas só “a partir do momento em que a evolução sanitária francesa e internacional”, e no quadro de uma concertação com o Estado francês, a administração local de Cannes, o conselho de Administração do festival e os profissionais do cinema, permita avaliar as reais possibilidades. Até lá, diz a organização, “à très bientôt”.

Apesar do crescendo visível da preocupação em torno do novo coronavírus (um pouco por todo o mundo, os países iam cancelando eventos de massas e encerrando teatros e outras salas de espectáculos), a organização do festival não falava em cancelamento. “Mantemo-nos razoavelmente optimistas, na esperança de que se atinja o pico da epidemia no final de Março e de que respiremos um pouco melhor em Abril”, disse ao jornal francês Le Figaro Pierre Lescure, o presidente deste festival que é um dos mais importantes palcos internacionais da indústria do cinema. “Mas não estamos desatentos — se isto não acontecer, cancelamos.”

Há seis dias, ao Le Monde, Thierry Frémaux, o director artístico, dizia que, pensando numa edição que naturalmente tivesse de ser particular, eventualmente até com menos espectadores e jornalistas, esperava que Festival de Cannes fosse “o primeiro acontecimento planetário da uma vida reencontrada”. Estaríamos então todos felizes. Mas se o festival fosse cancelado “isso significaria que as coisas estavam mais graves para todo o planeta”.

O festival, por onde deveriam passar 40 mil pessoas, tinha mesmo marcado para 16 de Abril, com inédita antecedência, como se quisesse fazer um statement, uma conferência de imprensa destinada a divulgar os filmes nas diversas secções.

A decisão surge agora três dias depois de o presidente francês ter colocado o país de quarentena e declarado a “guerra sanitária”. A França, lembra a Variety, é um dos países europeu em que o vírus causou mais impacto, atrás da Itália e da Espanha: 10. 995 casos, 372 mortes, dados até esta quinta-feira.

No ano passado, um filme de género que mostrava a luta entre ricos e pobres venceu o prémio máximo do festival, Parasitas, de Bong Joon-ho, que sairia daí para arrebatar os Óscares. Mas a declaração mais vibrante daquela que foi a 72.ª edição de um festival frequentemente acusado de estar ocupado pelos “habituais” foi a de revelar dois nomes, Mati Diop, com Atlantique, e Ladj Ly, com Os Miseráveis, que venceu os Césares, os prémios da indústria francesa.

Desde a sua primeira edição, em 1946, a seguir à guerra, o Festival de Cannes, na verdade pensado nos anos 1930 para contrariar a ingerência dos governos fascistas alemão e italiano no mais antigo festival de cinema do mundo, a Mostra de Veneza, nunca fora adiado. Mas foi já cancelado uma vez: durante a crise do Maio de 1968, quando os jovens turcos da Nouvelle Vague, entre os quais Truffaut e Godard, boicotaram a edição para o cinema se poder juntar às manifestações dos estudantes e dos operários.

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