CP reduziu oferta mas maquinistas e revisores não vão para casa e ficam em salas de convívio

Tripulações dos comboios suprimidos ficaram nesta quarta-feira nas salas do pessoal nas estações do Oriente, Rossio e Cais do Sodré. CP não explica esta medida.

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Daniel Rocha

A CP suprimiu nesta quarta-feira 25% dos seus comboios com o duplo de objectivo de adequar a oferta à (fraca) procura e de proteger os seus trabalhadores de eventuais contágios. Mas dezenas de maquinistas e revisores dos comboios suburbanos de Lisboa estiveram nesta quarta-feira a cumprir os seus turnos nas salas sociais no Cais do Sodré, Rossio e Oriente.

Já no Porto, os tripulantes dos comboios suprimidos ficaram em casa.

A empresa, questionada pelo PÚBLICO, não explicou as razões desta decisão, a julgar pela resposta que a porta voz enviou por escrito: “a CP faz a gestão de pessoal que considera adequada aos cenários de laboração, e suas características específicas, a cada momento. A situação actual, que é inédita, exige cuidados redobrados quanto à gestão do pessoal disponível, pelo que a empresa faz a sua avaliação permanente”.

Durante esta quarta-feira chegaram a estar sete a dez maquinistas e revisores no Cais do Sodré e 14 no Oriente. No Rossio, onde a CP tem salas separadas para estas duas categorias profissionais, estiveram seis maquinistas e dez revisores, sem fazer nada a cumprir o seu turno de serviço.

A meio da tarde um dos revisores que se encontrava na estação do Oriente foi encaminhado para uma sala de isolamento por apresentar sintomas gripais, tendo mais três colegas que tinham estado próximos ficado também isolados. Ainda não se sabe o resultado dos testes.

António Alves, do Sindicato dos Maquinistas (SMAQ) disse ao PÚBLICO que não compreende por que não ficaram em casa os trabalhadores que não precisavam de conduzir comboios e espera que a CP mude de atitude. O sindicalista já pediu à administração da empresa para que os trabalhadores de risco, que têm problemas oncológicos, cardíacos e de diabetes, sejam poupados e estejam na primeira linha dos que vão para casa, mas diz que ainda não obteve “uma resposta clara” da empresa.

O primeiro dia de redução da oferta da CP começou com indignação por parte de passageiros da área de Lisboa que se queixaram de carruagens cheias e passageiros amontoados devido à supressão de comboios. 

Alguns relatos que chegaram ao PÚBLICO davam conta que os comboios entre Sintra e Alverca e entre Sintra e Oriente vinham a abarrotar esta manhã e com as pessoas coladas umas às outras.

A CP diz que desconhece os horários, comboios e percursos em que terão ocorrido situações de congestionamento e explica que na zona de Lisboa a quebra da procura nos últimos dias foi de 60% (chegando aos 75% na linha de Cascais), enquanto que a redução do número de comboios foi só de 22%. Números que, diz a empresa na sua resposta oficial, “permitem acomodar, com margem alargada, a procura existente”.

Fonte próxima da administração da CP manifestou estupefacção pelo relato de passageiros a viajarem de pé porque todas as informações que possui é a de que os comboios – incluindo os suburbanos - andam com baixas taxa de ocupação.

Fora da zona suburbana as supressões afectaram o quotidiano de alguns utilizadores habituais. Nuno Lopes, 43 anos, técnico de informática, desde Novembro do ano passado que, por razões familiares, passou a viver em Vendas Novas. Como trabalha em Lisboa há vários anos e como as deslocações de carro ficam caras, optou pelo comboio. Paga 201,95 euros de passe. Mas esta manhã teve um dia diferente e mais complicado para chegar a Lisboa.

“Tinha um comboio as 7h32 e fui surpreendido com o facto de apenas ter o das 9h32. Para voltar de Lisboa tenho o das 17h02 e suprimiram o das 19h02. Vou ter de fazer menos horas no trabalho e diminuir a minha hora de almoço”, disse, lamentando a situação, embora compreenda a situação pois as pessoas estão a diminuir a utilização do comboio porque ficam em casa.

“Habitualmente o comboio vem cheio. Hoje vínhamos sete pessoas na minha carruagem”, contou. Uma situação contrastante com a de um dia normal, onde, apesar do valor que paga de passe, tem de ir de pé porque o comboio já vem cheio. “Quem compra bilhete no dia tem lugar sentado marcado”, disse. com Sónia Trigueirão  

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