Reino Unido entrou em fase de “crescimento rápido” de infecções por covid-19, diz Boris Johnson

O primeiro-ministro britânico apelou a todos os britânicos que fiquem em casa e que evitem todo o contacto social não essencial. Governo não descarta encerrar estabelecimentos de ensino, mas apenas o fará quando for necessário e no momento oportuno.

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O primeiro-ministro britânico caracterizou as novas medidas como "draconianas" Reuters/SIMON DAWSON

O número de casos de covid-19 no Reino Unido vai entrar numa fase de “crescimento rápido”, disse em conferência de imprensa o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Espera-se que o número de infecções identificadas duplique de cinco em cinco dias e, para combater a propagação da epidemia, o Governo aconselha os britânicos a ficarem em casa e a evitarem todo o contacto social desnecessário e a trabalharem a partir de casa. 

Lado a lado com Johnson, o principal conselheiro científico do Governo, Sir Patrick Vallance, revelou que é expectável que nas próximas semanas se registem entre cinco a dez mil casos de infecção de coronavírus. Tendo em conta os actuais números - 1.543 casos (mais 152 nas últimas 24 horas) e 53 mortes -, o Reino Unido está três semanas atrás de Itália, o país europeu com mais casos registados (mais de 27 mil infecções). 

É, portanto, necessário agir rápido e com “medidas draconianas”, as de maior perturbação da vida dos britânicos desde a II Guerra Mundial, para atrasar o pico da epidemia, justificou Johnson. “Não me consigo lembrar de uma coisa destas na minha vida. Não acho que haja algo como isto em tempos de paz”, admitiu o primeiro-ministro. 

Mas, sublinhou, apenas aplicará medidas quando achar necessárias e no momento apropriado, voltando a afastar por agora o encerramento de creches, escolas e universidades. Por isso aconselhou esta segunda-feira todos os britânicos a resguardarem-se em casa, evitando idas a bares, cinemas e teatros e que trabalhem a partir de casa. 

O Reino Unido tem seguido uma estratégia diferente ("a keep calm and carry on") da dos restantes países europeus no combate ao covid-19, que se preparam ou já encerraram escolas e decretaram o estado de emergência. No entanto, o objectivo é o mesmo: atrasar o pico para que não sobrecarregue os serviços de saúde públicos, mas sem isolar a população em extremo (fechando escolas, por exemplo) numa fase inicial da epidemia.

Os especialistas britânicos argumentam que um isolamento precoce vai fazer com que as pessoas se fartem de estar em casa demasiado cedo e que essas medidas apenas travarão temporariamente a propagação do vírus. O covid-19 regressaria mais tarde e todo o ciclo se repetiria e, portanto, levam a cabo uma estratégia mais lenta no que ao isolamento diz respeito, mesmo contra as indicações da Organização Mundial de Saúde. 

Downing Street tem mudado de postura gradualmente e as declarações desta segunda-feira foram mais um sinal, ainda que muito tímido da perspectiva do resto da Europa, de que medidas cada vez mais drásticas se aproximam.

Por agora, o Governo não pretende ordenar o encerramento compulsivo de eventos culturais e desportivos, mas garantiu que deixará, a partir desta terça-feira, de apoiar como sempre fez os grandes eventos. Ou seja, vai diminuir o número de equipas de emergência argumentando que esses profissionais poderão ser necessários para lidar com a epidemia, que o Governo não se pode dar ao luxo de ver os seus recursos dispersos. E os mais idosos, a partir dos 70 anos, devem ficar em isolamento nas próximas 12 semanas, uma vez que são um dos principais grupos de risco, tal como as grávidas. 

“Ouçam o que vos digo, não há nada de excessivo nestas medidas. Mas tenho de dizer que acredito que valem muito a pena para travar a doença, reduzir o pico, para salvar vidas, para minimizar o sofrimento e dar ao NHS [Serviço de Saúde britânico] uma hipótese de gestão”, disse o primeiro-ministro na primeira conferência de imprensa diária sobre o covid-19. 

Quem tiver sintomas associados aos coronavírus deverá ficar em “isolamento doméstico total” por 14 dias, sem sequer sair de casa para comprar bens essenciais. “Se possível, não devem sair, mesmo para comprarem comida ou bens essenciais, excepto para fazer exercício e, nesse caso, devem ficar a uma distância segura dos outros”, disse o primeiro-ministro. “Este é o momento para todos pararem com o contacto social não essencial com outros e pararem todas as viagens desnecessárias”. 

Questionado se o executivo está a ponderar endurecer as sanções legais para quem desobedecer ao isolamento proposto, Johnson optou por frisar o poder do Estado em situações de crise referindo que o Governo tem poder para proibir os apertos de mão. Isto de acordo com uma legislação da década de 1980, garantiu. 

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