Gantz ganha a mão a Netanyahu e promete “governo de unidade nacional” em Israel

Líder do Partido Azul e Branco garantiu apoio parlamentar e foi convidado pelo Presidente a formar governo. Primeiro-ministro fica numa posição muito fragilizada.

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Benny Gantz (à esquerda) esteve esta segunda-feira com o Presidente Rivlin EPA/ABIR SULTAN

O impasse político israelita pode estar muito próximo do fim. Esta segunda-feira, o Presidente Reuven Rivlin convidou Benny Gantz a formar governo e o líder do Partido Azul e Branco (centro-esquerda) prometeu apresentar, “em poucos dias”, uma solução de “unidade nacional” para Israel. Vencedor das últimas eleições, Benjamin Netanyahu corre sérios riscos de perder o cargo de primeiro-ministro, que ocupa desde 2009.

O convite de Rivlin surgiu depois de Gantz ter garantido, na véspera, o apoio parlamentar necessário para suplantar os números da coligação partidária que apoia o Likud (conservador), de Netanyahu – 61 contra 58 deputados –, e para poder ser recomendado ao Presidente como o responsável pela formação do executivo.

Esta segunda-feira Gantz lembrou que “não se vivem dias normais” – há 250 casos confirmados de infecção pelo covid-19 e mais de 50 mil pessoas estão em isolamento – e assegurou que o seu governo pretende “curar a sociedade israelita do coronavírus e também do vírus do ódio e da divisão”.

No domingo, Rivlin ainda tentou, em vão, que os líderes dos dois partidos mais votados nas eleições deste mês – as terceiras no espaço de um ano – se unissem em redor da proposta apresentada por Netanyahu, que sugeria a formação de um governo de emergência, para seis meses e por si liderado, para Israel enfrentar a ameaça do coronavírus.

Mas o apoio parlamentar logrado por Gantz deixou-o numa posição vantajosa e, por isso, agora é o dirigente político centrista que convida o primeiro-ministro conservador a servir no seu governo e a contribuir para o “processo de cura”, numa solução temporária, sob a liderança do Azul e Branco.

“Sempre quis unidade. Chegou a hora de Netanyahu decidir de que forma quer sair. Chegou a hora de se colocarem de lado os boicotes e a destruição e de se voltarem a conectar as facções e os cidadãos de Israel”, disse Gantz, citado pelo jornal israelita Haaretz.

Apesar de ter, legalmente, 28 dias para formar uma coligação – podendo estender esse prazo por duas semanas adicionais – Gantz garantiu que os ministros serão apresentados nos próximos dias, até por causa da emergência do combate ao covid-19.

O centrista já tinha tido essa possibilidade depois das segundas eleições, de Setembro, mas não conseguiu chegar a acordo com os restantes partidos. O cenário é mais favorável desta vez, mas nada está decidido. 

As 61 recomendações obtidas no Knesset (Parlamento), de 120 deputados, vieram do Israel Nossa Casa (ultranacionalista e secular), do Partido Trabalhista (centro-esquerda) e da Lista Unida, que junta partidos árabes-israelitas.

Mas estes apenas permitiram que Gantz ganhasse a mão ao Likud e aos ultra-ortodoxos que o apoiam, na liderança do processo político. Ainda falta negociar e investir um governo e aí os votos não estão garantidos.

Uma vez que pesam sobre o primeiro-ministro acusações de corrupção – cujo julgamento deveria começar na terça-feira, mas foi adiado por causa da epidemia – a desconfiança da grande maioria dos seus opositores em relação a Netanyahu pode ser o factor decisivo no sucesso ou insucesso das negociações lideradas por Gantz.

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