Coronavírus: bancos centrais replicam resposta dada na crise financeira de 2008

Reserva Federal coloca as taxas de juro a zero e diversos bancos centrais, incluindo o BCE, anunciam acção coordenada para estabilizar mercados. Contudo, notícias económicas negativas da China continuam a assustar os investidores.

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Christine Lagarde, do BCE, com o presidente da Fed, Jerome Powell Reuters/Mike Theiler

Os bancos centrais estão a responder ao novo coronavírus de uma forma cada vez mais semelhante àquilo que fizeram em 2008, no momento da eclosão da crise financeira internacional.

No domingo ao fim do dia, algumas horas antes da reabertura nesta segunda-feira dos mercados financeiros, vários bancos centrais anunciaram novas medidas de injecção de liquidez nas economias, incluindo uma acção coordenada para a realização de operações em dólares que incluiu, para além da Reserva Federal norte-americana (Fed), também o Banco Central Europeu (BCE).

O principal anúncio foi feito pela Reserva Federal (Fed). Depois de a semana passada ter sido de enorme volatilidade e perdas nos mercados accionistas, em simultâneo com sinais de tensão pouco habituais no mercado de dívida pública, a entidade liderada por Jerome Powell decidiu baixar as suas taxas de juro de referência para o seu nível mínimo histórico. Ao corte de meio ponto percentual da semana passada acrescentou agora um novo corte de um ponto percentual, que colocou a taxa de juro do banco central entre 0% e 0,25%, precisamente o mesmo nível adoptado durante a crise financeira internacional. Na sexta-feira, numa tentativa de responder aos sinais negativos que vinham do mercado, já tinha anunciado medidas drásticas de injecção de liquidez.

Logo a seguir, em sintonia com a autoridade monetária norte-americana, vários bancos centrais por todo o mundo — incluindo Japão, Austrália, Coreia do Sul e Nova Zelândia — anunciaram as suas próprias medidas de injecção de liquidez.

Na zona euro, o BCE, que na quinta-feira tinha anunciado o reforço do seu programa de compras de activos (com algumas críticas à actuação de Christine Lagarde) e a melhoria das condições de financiamento para o sector bancário, revelou que, em coordenação com outros bancos centrais de grande dimensão, irá alargar as operações de oferta de dólares, numa tentativa de contribuir para a estabilização dos níveis de liquidez existentes nos mercados internacionais. 

As operações em dólares realizadas pelo BCE terão uma maturidade de 84 dias, complementando as operações a uma semana já existentes. O banco central diz que esta medida estará em vigor “pelo tempo que for apropriado para apoiar um bom funcionamento dos mercados de financiamento de dólares.

A adopção de medidas de forma coordenada por parte dos bancos centrais foi também uma das características da resposta de política monetária durante a última grande crise económica internacional.

Apesar destas medidas dos bancos centrais, o ambiente na abertura dos mercados financeiros internacionais continuou a ser de grande instabilidade e receio. As bolsas europeias abriram com novas perdas e a expectativa neste momento é de uma abertura também negativa em Wall Street.

A motivar esta reacção negativa dos investidores estão os sinais cada vez mais claros de que o novo coronavírus irá ter um impacto negativo muito forte nas economias mundiais.

Os primeiros indicadores oficiais que mostram aquilo que aconteceu à economia chinesa em Janeiro e Fevereiro confirmam as piores expectativas, com quebras inéditas e muito acentuadas na produção de bens, no consumo e no investimento.

De acordo com os dados oficiais agora publicados, a produção industrial na China, durante os dois primeiros meses do ano, caiu 13,5% face ao mesmo período do ano anterior, a primeira descida de que há registo. De igual modo, as vendas a retalho caíram 20,5%, também a primeira queda registada na série histórica disponível para este indicador. No investimento, a diminuição foi de 24,5%.

Estes números confirmam a existência de um verdadeiro colapso no nível de actividade económica na China durante o período em que as autoridades impuseram medidas de contenção severas para tentar travar a expansão do vírus. Estes números servem de alerta para os outros países, onde o vírus chegou mais tarde e que, estando agora a aplicar as mesmas medidas de contenção, podem esperar igualmente travagens muito significativas em indicadores como o consumo, a produção ou o investimento.

No caso de Portugal, uma análise realizada pelo economista da Nova SBE Francesco Franco aponta para a existência de perdas no valor acrescentado próximas de 4000 milhões de euros ao mês.

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