Coronavírus: prevenir ou contagiar

Ou limitamos o contágio do coronavírus agora, ou vamos ter de lidar com as suas consequências daqui a nada. A infecção e a recessão não excluem ninguém.

O Conselho Nacional de Saúde Pública olhou para as imagens das praias repletas em dia de sol e considerou que o fecho das escolas seria interpretado mais como um período de férias do que como uma quarentena. Se, por um lado, pretendia combater o alarme social, visível nas descabeladas corridas aos supermercados, por outro, nem serenou as inquietações da população, nem transmitiu a urgência em travar responsavelmente a propagação do vírus.

Era inevitável que o Governo adoptasse medidas mais drásticas, à semelhança do que fizeram e estão a fazer outros países europeus, para evitar um contágio descontrolado do novo coronavírus, consensuais entre a população e os partidos políticos. Fechar o país em casa, convencê-lo da gravidade da conjuntura e da necessidade de prevenção é mais aceitável se esta for uma decisão suprapartidária.

Ainda por cima um dia depois de a Organização Mundial da Saúde ter declarado que estamos diante de uma pandemia e de o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças ter recomendado mais prudência. A decisão drástica de fechar escolas a partir da próxima segunda-feira e até à Páscoa, de encerrar ou limitar o funcionamento de discotecas ou centros comerciais e de cancelar grandes concentrações restringe duas condições que ajudam este vírus a germinar: a interacção e a circulação de pessoas.

Um número avassalador de infecções teria um grande impacto na capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde e na mortalidade. Especialistas como Jorge Torgal admitem que “estamos perante uma situação em que 80% das pessoas infectadas terão uma forma ligeira de doença”, mas faz alguma diferença que tal aconteça em simultâneo, como em Itália, ou espaçadamente.

Evitar e adiar o contágio tem duas vantagens imediatas: permite ao SNS responder à evolução do número de casos diagnosticados e dá tempo para que surja atempadamente uma nova vacina. Talvez seja preferível estancar já, de forma drástica, uma eventual escalada do vírus do que fazer o mesmo, de forma tardia e com consequências mais dramáticas, daqui a algumas semanas. Quanto mais cedo, melhor. A Itália aí está para o demonstrar.

Era o que devia fazer o BCE: agir preventivamente. Ao contrário do que fez a Reserva Federal norte-americana, Christine Lagarde não está nem aí. Ou limitamos o contágio agora, ou vamos ter de lidar com as suas consequências daqui a nada. A infecção e a recessão não excluem ninguém.

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