Coronavírus: líderes de Wuhan dificultaram acesso a informação nas primeiras semanas do surto

Equipas de pesquisa sentiram dificuldades em recolher informações que permitissem investigar a epidemia. Desde o seu início, China já registou mais de três mil mortes relacionadas com o coranavírus.

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Wuhan foi o primeiro foco de contágio do coronavírus Reuters/REUTERS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) elogiou as medidas “corajosas” que a China, o país mais afectado pelo coronavírus, tem adoptado para combater a epidemia. O The Washington Post mostra, contudo, como os líderes locais de Wuhan tentaram esconder o surto nas semanas iniciais, com o objectivo de fazer com que a informação sobre a gravidade da nova doença não chegasse a Pequim e aos ouvidos do Presidente chinês, Xi Jinping.

A cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, recebeu na segunda semana de Janeiro (entre os dias 6 e 17) uma reunião anual. Este encontro junta vários líderes locais para que estes possam debater os problemas e desafios que as cidades enfrentam. De acordo com o The Washington Post, os políticos de Wuhan tentaram evitar ao máximo que fossem revelados pormenores sobre o surto de pneumonia na região.

Quando tomou conhecimento da situação, a Comissão de Saúde Chinesa enviou três equipas para a cidade de Wuhan. As investigações foram lentas e infrutíferas, devido à dificuldade que os profissionais sentiram em ter acesso a provas. As equipas de investigação não tinham autorização para falar directamente com os médicos do serviço de urgência e infecciologia. Estes profissionais teriam, provavelmente, revelado detalhes significativos sobre este novo vírus, incluindo o número de profissionais de saúde infectados, escreve o diário norte-americano. 

Nos primeiros dias de pesquisa, as equipas tentaram perceber se o vírus se transmitia entre humanos, uma vez que os primeiros casos estavam relacionados com os animais vivos de um mercado de marisco e carnes em Wuhan. O The Washington Post diz que a segunda equipa enviada para a cidade da província de Hubei “sempre suspeitou” da transmissão entre humanos, mas as informações incompletas que recebia de profissionais de saúde não permitia confirmar esse cenário.

Outra das estratégias adoptadas pelas autoridades locais passou pelo silenciamento daqueles que tinham informação privilegiado sobre o surto. Li Wenliang, o oftalmologista que tentou alertar a comunidade médica para a possibilidade de se estar perante um novo vírus quando apareceram os primeiros casos de pneumonia atípica em Wuhan, chegou a ser investigado pelas autoridades por “espalhar rumores”. O oftalmologista morreria no hospital em sequência de complicações provocadas pela infecção

Quando se ficou provado que a transmissão também era feita entre humanos, as autoridades aplicaram condições muito restritivas no acesso a exames e análises, factor que dificultou a monitorização do número de infectados. Só podiam ser confirmados como portadores do vírus os pacientes que tivessem ligação directa ao mercado de marisco e carnes em Wuhan.

Durante vários dias, o número de casos confirmados manteve-se igual, factor que conferiu alguma falsa tranquilidade. Na realidade, o número de infectados aumentava consideravelmente, com muitos profissionais de saúde a contraírem o novo vírus.

A epidemia já provocou mais de três mil mortes (3169) na China, com mais de 80 mil casos de infecção confirmados (80,793). 

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