Fed injecta 1,5 biliões de dólares para travar colapso nos mercados

Desiludidos com o BCE e assustados com o anúncio de fecho de fronteiras de Trump, os mercados entraram em queda livre, levando a Reserva Federal norte-americana a adoptar medidas de emergência de grande dimensão.

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Reuters/Joshua Roberts

Com as bolsas em queda livre e o mercado de obrigações norte-americano com uma surpreendente e rara falta de liquidez, a Reserva Federal norte-americana, que na semana passada já tinha baixado as taxas de juro para contrariar o impacto negativo do coronavírus, viu-se obrigada esta quinta-feira a injectar biliões (milhões de milhões) de dólares de liquidez nos mercados para evitar uma disrupção com consequências imprevisíveis.

Nos mercados, logo desde o início da sessão na Europa, o dia foi de pesadelo. O anúncio do presidente norte-americano de fecho das fronteiras a visitantes vindos da Europa e, mais tarde, a desilusão dos investidores com as medidas tomadas pelo Banco Central Europeu (BCE) conduziram as bolsas europeias para o pior resultado diário de sempre e colocaram a Bolsa de Nova Iorque a caminho da pior sessão desde 1987. Em simultâneo, também nos mercados obrigacionistas as tensões foram evidentes, com subidas de taxas de juros nos países periféricos na zona euro e com uma falta muito pouco habitual de liquidez nas transacções das obrigações do Tesouro norte-americano.

Neste cenário, a Fed decidiu, já perto do final da sessão em Nova Iorque (e com as bolsas europeias fechadas), intervir. E a intervenção, assumida através de diversas medidas, significa injectar nos mercados cerca de 1,5 biliões de dólares, para garantir que neste momento de crise não há problemas de liquidez.

Uma das medidas anunciadas, naquilo que é na prática um regresso às compras de activos que iniciou em 2008 e que entretanto tinha concluído, passa pela aquisição por parte da Fed de obrigações do tesouro norte-americanas. E em simultâneo, a Reserva de Nova Iorque irá lançar linhas de financiamento de curto prazo de grande dimensão a que poderão aceder as instituições financeiras dos Estados Unidos.

As bolsas de Nova Iorque reagiram inicialmente com pequenas recuperações, mas logo a seguir voltaram às quedas muito pronunciadas, tendo os principais índices sofrido perdas em torno dos 9%. O índice mais abrangente, o S&P 500, sofreu a maior queda diária desde 1987, correspondente à quinta maior desvalorização desde que há registos.

Algumas horas antes, o BCE havia assumido as suas limitações no combate a esta crise, não baixando taxas de juro e fazendo um acréscimo de pequena dimensão ao seu programa de compra de activos, a entidade liderada por Christine Lagarde acabou por assustar ainda mais os mercados, acentuando as quedas que já se registavam nas bolsas devido ao anúncio de Trump.

A principal aposta do BCE nesta fase passa por garantir aos bancos da zona euro que têm acesso a financiamento em larga escala e em condições muito favoráveis (taxas de juro que podem ir até aos -0,75%), suavizando-lhes igualmente as exigências regulatórias em termos de rácios, na esperança de que estes acabem por emprestar esse dinheiro às empresas em dificuldades.

Os mercados não pareceram convencidos com esta aposta e poderão ter ficado preocupados com o facto de Christine Lagarde ter deixado claro que não poderá ser o BCE a assumir a liderança do combate desta crise, mas sim os governos, através da política orçamental.

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