MP diz que não há provas de que Bruno de Carvalho planeou ataque a Alcochete

A procuradora Fernanda Matias considera que não é possível provar que as críticas feitas pelo ex-presidente ao plantel “leonino” causaram as agressões de Maio de 2018. Sobre os invasores, vê como razoável uma pena na casa dos cinco anos para os 37 arguidos, sendo que apontou a uma pena suspensa no caso de 24 deles - os que não tinham antecedentes criminais.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

“Em julgamento, não se fez prova de que o arguido tenha dado directivas para esses actos”. Foi desta forma que o Ministério Público (MP) justificou a falta de prova acerca da culpa de Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, no planeamento e autoria moral do ataque a Alcochete

Nesta quarta-feira, na sessão de alegações finais do julgamento, a procuradora do MP, Fernanda Matias, justificou a incerteza sobre a influência do ex-dirigente “leonino”. “Não se provou que as críticas expressas pelo arguido à equipa de futebol tenham incentivado os adeptos a fazerem os actos”, apontou a procuradora, que acrescentou que “não é possível ver uma relação causa-efeito entre a famosa expressão “façam o que quiserem” e os actos na Academia”.

O ex-presidente do Sporting mostrou-se satisfeito. “Hoje, recuperei um pouco da minha crença na justiça. O pedido de absolvição, por parte do Ministério Público, foi, para mim, uma notícia merecida. Ainda nada está ganho, mas esta sensação de início de justiça tinha de ser partilhada com todos”, escreveu Bruno de Carvalho no Instagram, minutos depois de ter saído de uma sessão no tribunal à qual todos os arguidos tiveram de assistir, por imposição da juíza Sílvia Pires.

Também sobre a culpa de Mustafá e Bruno Jacinto o MP considera não existirem provas de participação no plano do líder da Juventude Leonina e do então oficial de ligação aos adeptos. À saída do tribunal, Mustafá mostrou-se aliviado - mas revoltado -, recordando que esteve nove meses preso injustamente. “Não sei qual foi a novidade, para quem assistiu desde o início ao julgamento. O sentimento é de tristeza, porque foram nove meses [de prisão preventiva] “, disse, apesar de sorridente e visivelmente bem disposto à saída do tribunal de Monsanto.

Já Bruno Jacinto disse ter menos peso nos ombros. “É claro que é uma vitória. Ainda não é a vitória final, porque ainda não houve sentença, mas ouvir as palavras que ouvi da procuradora tirou-me um grande peso. Sempre estive de consciência tranquila no processo todo, mas não estava dependente de mim”, declarou aos jornalistas.

Não houve terrorismo

Os arguidos apontados como “autores morais” passaram incólumes pela análise do MP, mas os invasores nem tanto. Sobre as agressões, o MP considerou terem sido provados todos os crimes da acusação e garante não ter dúvidas sobre a finalidade da visita - agredir os jogadores e não apenas assustar.

As mensagens dos grupos Whatsapp não deixam dúvidas sobre a finalidade da visita. Rúben Marques, justiça lhe seja feita, foi o único arguido a assumir que a finalidade da visita era bater nos jogadores, mas ficou claro que as intenções eram do conhecimento geral dos indivíduos que faziam parte dos grupos. Os 37 arguidos que entraram na ala profissional da Academia aderiram conscientemente ao plano”. 

O MP considerou terem sido provadas as agressões a Miguel Quaresma, Bas Dost, Raul José, William Carvalho, Rui Patrício, Marcos Acuña, Rodrigo Battaglia, Fredy Montero, Josip Misic, Carlos Mota, Hugo Fontes, Bruno César, Ludovico Marques, Daniel Podence, Rúben Ribeiro, Mário Monteiro e Jorge Jesus, atribuindo as mais graves ao arguido Rúben Marques, autor das agressões com um cinto a Dost, Misic, Jesus e Raúl José. 

Em matéria de conclusões, para além do pedido de absolvição de Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto, a procuradora do MP acabou por também olhar com desconfiança para a acusação inicial no que respeita à gravidade dos crimes cometidos pelos invasores.

“Os crimes enquadram-se em introdução em lugar vedado, ofensa à integridade física e ameaça agravada. Não ficando provado que os arguidos pretendessem intimidar a população em geral, os actos não são classificáveis como terrorismo”, disse a procuradora, provocando um suspiro geral de alívio e contentamento nos arguidos e no público presente no Tribunal do Monsanto. 

Fernanda Matias disse considerar razoável uma pena na casa dos cinco anos para os 37 arguidos, sendo que apontou a uma pena suspensa no caso de 24 deles - os que não tinham antecedentes criminais. No caso de Rúben Marques, porém, a procuradora pediu uma pena mais pesada, por considerar que o arguido agiu de forma mais gravosa do que os restantes invasores.

Terá a palavra a juíza Sílvia Pires na sentença final, ainda que este posicionamento do Ministério Público permita antever um desfecho do agrado de grande parte dos arguidos.

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