Que mais vão exigir de nós?

E as exigências continuam. “Estuda! Trabalha! Sê auto-suficiente!”, dizem-nos diariamente. Exigem-nos tudo e mais um par de botas. O que a sociedade não vê é que nos rouba a estabilidade emocional e psicológica.

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Completei 23 anos, pertenço à Geração Z, a geração dos nativos digitais, que vivem num mundo de oportunidades criadas pela Internet, pelos dispositivos móveis e pela globalização. Na opinião de alguns, um grupo de jovens habituados a aceder a tudo com facilidade e a viver o mundo através dos ecrãs.

Aparentemente, é este o cenário. Jovens que cresceram com as inovações tecnológicas e com as apps. Têm facilidade em viajar para outros países através do desenvolvimento dos transportes, da abertura de fronteiras, enfim, da crescente mobilidade e de programas como o Erasmus. A acrescentar a tudo isto, comunicam pelas redes sociais e agrada-lhes a ideia de terem conectividade em toda a parte. A presença do smartphone e outros dispositivos é uma constante. O smartphone torna-se uma extensão do corpo humano, tal é a relação de proximidade com o utilizador.

No entanto, nem tudo são facilidades. As exigências e a pressão exercidas pela sociedade são, não raras vezes, camufladas ou pouco discutidas. Pressão para terminar os estudos, para ter um bom emprego, estabilidade financeira, isto e aquilo. Aos olhos dos familiares começa a ser hora de bater as asas e sair do ninho; por outro lado, as empresas às quais concorremos consideram que não preenchemos os requisitos necessários por falta de experiência profissional. Muitos de nós prosseguem os estudos em busca de um emprego estável e bem pago. Mas ninguém dá garantias de nada. Passamos anos a estudar para acabar num emprego precário, muitas vezes longe de casa. Aceitamos trabalhar por poucos meses, a recibos verdes e ainda fazemos horas extra para tentar esticar o ordenado.

E as exigências continuam. “Estuda! Trabalha! Sê auto-suficiente!”, dizem-nos diariamente. Exigem-nos tudo e mais um par de botas. O que a sociedade não vê é que nos rouba a estabilidade emocional e psicológica. “Metade dos estudantes do ensino superior está em burnout académico”, diz um artigo recente do P3. Ora, as estatísticas não surpreendem quem está deste lado, do lado dos que lutam diariamente para cumprir os objectivos, objectivos esses impostos pelos outros. Pasme-se ao ler que os níveis de exaustão e de depressão são elevados entre os estudantes. A meu ver, continuarão a ser enquanto o futuro profissional for uma preocupação eminente.

A procura de estabilidade é uma constante na vida dos jovens que querem entrar no mercado de trabalho. Referenciados como pragmáticos e comunicativos, escolhem as profissões por vocação e, por isso, o interesse é poderem trabalhar naquilo que realmente gostam. E quando se estuda no interior do país e se pretende ficar por cá, a busca por um emprego e a luta para ser independente torna-se ainda mais difícil. Não são os recursos que escasseiam, são os investimentos, os apoios para arrendar ou comprar casa e para constituir família. Agora, até são oferecidos benefícios a quem deixar as grandes metrópoles para vir ocupar as “terrinhas ao abandono”, mas poucos são os incentivos para quem já nasceu por estes lados e aqui pretende continuar.

Contra as expectativas, nós aqui permanecemos concentrados em conquistar um futuro melhor, através de novos projectos e ideias. Estudamos mais do que nunca, reinventamo-nos para que as portas um dia se abram. Temos o direito de escolher onde queremos viver e a vontade de sermos reconhecidos pelo nosso trabalho, seja no litoral ou no interior do país.

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