Arquitectura

A Casa da Ti Clara guarda gerações de história nas paredes remodeladas

©José Campos
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Há várias décadas que a Casa da Ti Clara faz parte da vila de Ansião, em Leiria. Os proprietários tinham ideias bem definidas para o projecto de remodelação quando foram ter com o Espaço P2, do arquitecto Jorge Pimenta: “criar espaços” com “detalhe mais contemporâneo”, mas “com proximidade ao tradicional” para manter na casa a história das três gerações que por lá passaram.

O casal que abordou Jorge Pimenta quis renovar a propriedade para a preservar por questões “sentimentais” e, ao mesmo tempo, proporcionar aos três filhos um espaço para “regressar à terra” aos fins-de-semana. Ao longo dos anos, já teve três momentos de ampliação: a casa original situava-se na área hoje ocupada pela cozinha.

Não havia vontade de intervir na parte exterior da casa, “muito característica da região”. Por dentro, Jorge Pimenta encontrou “um pavilhão” vazio com “algumas marcas antigas das paredes” que acabaram por definir os novos espaços. “Aproveitamos todo o lado irregular da construção: já tinha paredes torcidas, empenadas, e trabalhamos sobre a imperfeição”, contou o arquitecto, ao telefone com o P3.

O plano traçado para a Casa da Ti Clara – assim chamada desde os tempos da mãe da proprietária  – passou por aproveitar alguns dos vãos existentes e tentar estruturar os novos espaços de uma forma “clara e racional”, que possibilitasse o acesso ao exterior em todas as divisões por intermédio de portas ou janelas. “A ideia foi virar a casa para o quintal, é uma casa ampla e que vive do campo.” Para completar o sentido mais natural e verdadeiro da casa, o arquitecto natural de Ansião também aproveitou os materiais utilizados na remodelação: apenas madeira, pedra e alguma “cerâmica artesanal, feita à mão”.

A intervenção mais profunda foi feita na área da cozinha, que acaba também por ser a maior homenagem à história da casa. “Uma das paredes que foi exterior da primeira casa  – que, por causa das expansões, era agora uma parede estrutural no interior  – foi demolida para aproveitar a sua espessura.” Aí, surge a bancada da cozinha, a fazer lembrar um aparador. Naquela que é a “zona de destaque da casa”, permanece também a lareira, a um canto, em tempos “o ponto central” da habitação.

A opção por um tecto mais alto, a acompanhar a inclinação da cobertura para permitir que o espaço “respire”, contrasta com as zonas dos quartos, mais quadrados e com “uma escala mais confortável”: tectos mais baixos e o chão de pedra “intemporal” a ser substituído por madeira. Em mais uma ligação ao passado, os quartos estão mobilados com peças restauradas e o resto do mobiliário foi desenhado pelo próprio Estúdio P2.

Da combinação dos traços antigos com uma arquitectura mais contemporânea, resulta “um acervo” familiar que preserva a memória da Casa da Ti Clara e que encontra, na exploração das imperfeições dos arranjos anteriores, “conforto” em novos espaços.

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