O suposto insulto e o alegado racismo

Ora, é um facto comprovado num estudo da Universidade de Faceboxford que o racismo é uma coisa inventada por aquela malta do 25 de Abril.

Correu solta a notícia, na semana passada, de que a Federação Portuguesa de Futebol tinha multado o clube Vitória de Guimarães em 714 euros pelos alegados e supostos insultos racistas que foram, supostamente, alegadamente proferidos contra o jogador Moussa Marega, do Futebol Clube do Porto. Escândalo, vieram logo clamar os anti-racistas radicais — que, como toda a gente sabe, são os grandes responsáveis pelo racismo em Portugal e pelos atrasos na construção do novo aeroporto na zona de Lisboa.

Ora, é um facto comprovado num estudo da Universidade de Faceboxford que o racismo é uma coisa inventada por aquela malta do 25 de Abril. Antes disso, nem sequer se ouvia falar de discriminação ou lá o que é, e muito menos de incêndios florestais, gays e lésbicas e corrupção. (E não me façam falar do equilíbrio das contas públicas, do respeito e da música que era tão boa, não é isto que se ouve agora.)

Não há-de faltar muito para começarem a defender o casamento entre uma pessoa saudável e uma pessoa infectada com o novo coronavírus. (Isto está de uma maneira que já nem sabemos em que mundo vamos acordar amanhã de manhã.)

O próprio jogador do Futebol Clube do Porto chegou a ensaiar uma piada digna dos melhores espectáculos de stand-up em Portugal, numa reacção à suposta multa dos alegados 714 euros: “Não!! É muito!! Liga, posso pagar por eles?” (Inserir emoji com aquele sorrisinho afectado.)

E toda esta histeria foi para quê? Mais uma vez, para se criar a ideia falsa de que o racismo é um problema maior do que aqueles auscultadores fininhos de se pôr no ouvido que se emaranham todos a cada utilização. (E também para se testar a tolerância dos portugueses de bem ao uso de mais do que um ponto de exclamação em frases partilhadas nas redes sociais, mas isso é outra história.)

Afinal, como bem veio explicar a Federação Portuguesa de Futebol, na quarta-feira, “as multas aplicadas pelo Conselho de Disciplina no âmbito do jogo Vitória SC-FC Porto não estão relacionadas com insultos racistas”. Ora bem.

“As multas ontem divulgadas”, continuou a Federação, “resultam de outro tipo de infracções, que nada têm a ver com actos discriminatórios, conforme está devidamente publicado e fundamentado no mapa dos processos sumários que pode ser consultado no site da FPF e da Liga Portugal”.

Mas, afinal, que actos foram esses que de discriminatório nada tiveram, e que ainda assim mereceram levar tautau por se portarem mal nas bancadas de um jogo de futebol, num ambiente em que dificilmente se espera o comportamento típico de um lorde britânico na presença da rainha Isabel?

“Ao minuto 16 da segunda parte”, lê-se no comunicado da Comissão de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, “da Bancada Nascente Inferior, ocupada por adeptos do clube visitado, identificados com adereços alusivos ao clube, nomeadamente cachecóis e camisolas, foi entoado o cântico ‘Oh Marega vai para o Caralho’” (maiúsculas no original).

“Na Bancada Topo Sul Inferior” — continua o comunicado —, “ocupada por adeptos afectos ao clube visitado, identificados com adereços alusivos ao clube, mormente, tarjas, bandeiras, cachecóis e camisolas, registaram-se os seguintes cânticos aquando da marcação do pontapé de baliza por parte do guarda-redes visitante: a) Aos 20, 28, 30 e 42 minutos da segunda parte: ‘Filho da Puta’ [maiúsculas no original] b) Registou-se ainda aos 45 minutos da primeira parte, no mesmo local, o cântico ‘A Liga é merda’ e ‘18h15 — entoação de cânticos na bancada inferior sul, afecta aos GOA’s do VSC, White Angels, onde proferiam os seguintes dizeres: (…) a Liga é merda (…)’”.

Ora aí está. Se esses gandulos das claques acham que podem usar palavrões impunemente durante um jogo de futebol, para mais com letras maiúsculas e tudo, deviam pensar duas vezes antes de se meterem com as autoridades de supervisão da prática da modalidade em Portugal.

Esperemos que tenham aprendido a lição e que os delegados ao jogo e os agentes da polícia nunca mais tenham de ouvir estas coisas num estádio de futebol.

Ainda que os observadores da Liga tenham ouvido palavrões vindos do sector x e da bancada y, proferidos por adeptos com o cachecol tal e tal, é perfeitamente compreensível que ainda se esteja a avaliar “se, eventualmente, aconteceram actos de racismo”, como explicou o presidente da Liga numa entrevista à SIC dias depois do jogo entre as duas equipas.

Uma coisa é punir um clube de forma sumária por causa de palavrões feios que não se diziam antigamente, quando ainda havia algum respeito e disciplina; outra coisa, bem diferente, é punir um clube de forma sumária por gritos de macaco dirigidos a um jogador negro. Para isso, como se compreende, é preciso abrir um rigoroso inquérito para garantir que esses eventuais actos de alegado racismo nunca mais supostamente se repitam.

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