Kamala Harris declara apoio a Joe Biden nas primárias do Partido Democrata

Senadora da Califórnia protagonizou um momento de grande tensão com o antigo vice-presidente dos Estados Unidos num debate televisivo, no ano passado. O seu apoio revela que a liderança do Partido Democrata está cada vez mais unida à volta de Biden na corrida contra Bernie Sanders.

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Joe Biden e Kamala Harris num dos debates entre os candidatos do Partido Democrata Reuters/Mike Blake

A senadora norte-americana Kamala Harris, uma ex-candidata a representar o Partido Democrata nas eleições presidenciais de Novembro nos Estados Unidos, declarou o seu apoio ao antigo vice-presidente Joe Biden na corrida para a Casa Branca. Harris é a mais recente figura do partido a apelar ao voto em Biden, que passou a ser visto como o favorito após uma série de vitórias nas eleições primárias, na última semana, e que tem como grande opositor o senador Bernie Sanders.

“Eu acredito no Joe e conheço-o há muito tempo”, disse a senadora da Califórnia num vídeo partilhado nas redes sociais, na manhã deste domingo.

“Uma das coisas de que precisamos neste momento é de um líder que realmente se preocupe com as pessoas e que, por isso mesmo, seja capaz de unir as pessoas. E eu acredito que o Joe é capaz de fazer isso.”

No curto vídeo, Kamala Harris salientou também a “dignidade com que Joe Biden tem vivido a sua vida”, numa referência às tragédias pessoais do antigo vice-presidente norte-americano, de 77 anos – em Dezembro de 1972, a sua primeira mulher e a filha de um ano de idade morreram num acidente de viação; e, em Maio de 2015, o seu filho mais velho, Beau, morreu de cancro do cérebro.

“É um representante do povo que sempre trabalhou em prol do melhor de nós enquanto nação, e nós precisamos disso. Há muitas coisas em jogo nestas eleições. Por isso, juntem-se a mim no apoio ao Joe”, apelou Kamala Harris.

Apoios de peso

A declaração de apoio da senadora da Califórnia a Joe Biden surge a dois dias de mais uma importante série de votações nas primárias do Partido Democrata.

Seis estados vão a votos na terça-feira, incluindo o Michigan, onde Donald Trump venceu em 2016 nas presidenciais – é em estados como o Michigan, na região do Midwest dos Estados Unidos, que tanto Joe Biden como Bernie Sanders tentam convencer os eleitores do Partido Democrata de que são eles os mais bem preparados para derrotarem Trump nas eleições gerais, em Novembro.

Na última semana, desde que venceu por uma grande margem no estado da Carolina do Sul, no dia 29 de Fevereiro, e depois da série de vitórias na “super-terça-feira", Joe Biden conseguiu reunir o apoio de várias figuras de peso do Partido Democrata.

Para além de Kamala Harris, também os ex-candidatos à nomeação Pete Buttigieg, Amy Klobuchar, Michael Bloomberg e Beto O'Rourke, e o influente ex-senador do Nevada Harry Reid, apelaram ao voto em Joe Biden.

Do confronto ao apoio

Kamala Harris, uma antiga procuradora-geral da Califórnia eleita para o Senado em 2016, causou sensação nas primárias do Partido Democrata, no Verão do ano passado, no segundo debate televisivo entre os candidatos, que decorreu no estado da Florida.

Nessa altura, quando havia ainda 20 candidatos na corrida, Harris acusou Biden de andar sempre atrás das mudanças na sociedade norte-americana, em particular na questão do racismo.

“Vou falar directamente para o vice-presidente Biden”, disse Harris, virando-se e apontando na direcção do candidato

“Não acredito que você seja racista, e concordo consigo quando se compromete com a importância de termos de encontrar um espaço de diálogo. Mas foi muito doloroso ouvi-lo a falar sobre a reputação de dois senadores dos Estados Unidos que construíram as suas carreiras sobre a segregação neste país. E não foi só isso; você também trabalhou com eles para se opor ao busing.”

A senadora Harris referia-se a uma política de combate à segregação racial, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, em que as crianças afro-americanas eram transportadas de autocarro para escolas de maioria branca, para se garantir uma maior diversidade.

“Nessa época, havia uma criança na Califórnia que era levada de autocarro todos os dias para a escola”, disse Kamala Harris a Joe Biden. “Essa criança era eu.”

Naquela altura, o então jovem senador Joe Biden opunha-se à política, uma posição que era partilhada por senadores racistas no Partido Republicano. No debate do ano passado, Biden ficou visivelmente perturbado com as palavras de Harris e sublinhou o seu passado em defesa dos direitos dos afro-americanos.

Quase um ano depois desse momento de tensão, e numa altura em que a corrida no Partido Democrata está dividida entre Joe Biden e Bernie Sanders, o apoio da senadora da Califórnia ao antigo vice-presidente dos Estados Unidos revela duas coisas importantes para o futuro das primárias democratas – que a liderança do partido e as suas principais figuras estão cada vez mais unidas à volta de Biden; e que o passado de Biden na política, com todas as suas falhas e gaffes, é mais palatável para eles do que as propostas mais à esquerda de Bernie Sanders, um senador que se apresenta como “socialista democrático” e que concorre sempre como independente no seu estado do Vermont.

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