Quer saber se o produto que comprou tem substâncias perigosas? Há uma aplicação para isso

Aplicação Scan4Chem está associada a uma base de dados europeia onde é possível aceder a informação disponibilizada por fornecedores de produtos sobre a existência ou não de substâncias químicas perigosas nos artigos que fornecem

Foto
Por vezes há substâncias químicas perigosas em produtos tão diversos como roupa ou brinquedos Adriano Miranda

Se calhar é uma daquelas coisas que não sabe, mas a legislação europeia obriga os produtores e retalhistas a fornecer aos consumidores, caso estes o solicitem, a informação que lhes permita aferir se um determinado produto que compraram ou pretendem comprar tem substâncias químicas que “suscitam elevada preocupação em níveis superiores a 0,1% do seu peso”. O acesso a essa informação fica agora mais fácil com o lançamento de uma aplicação, a Scan4Chem, que lhe permite obter directamente esse dado com uma simples leitura do código de barras do produto em causa. Desde que a informação já esteja na base de dados associada ao projecto. E é aí que a ajuda dos cidadãos se revela essencial.

“Quanto mais as pessoas participarem, mais informação será disponibilizada. É um ciclo virtuoso que acreditamos que vai resultar”, diz Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, que disponibiliza a aplicação, graças à sua participação no projecto europeu LIFE AskREACH, que abrange 13 Estados-Membros. A criação da Scan4Chem é um dos objectivos do projecto e está associada a uma base de dados europeia que, neste momento, segundo a própria Zero admite, “ainda não tem muita informação disponível, dado que não são muitas as empresas que disponibilizam a informação sobre os artigos que produzem e/ou comercializam”.

Isto, apesar de o regulamento europeu REACH: Registo, Avaliação, Autorização e Restrição de Substância Químicas obrigar os fornecedores de produtos a terem essa informação pronta para ser disponibilizada aos cidadãos que a solicitem no prazo de 45 dias. “Muitas empresas não têm a informação padronizada nos seus sistemas. Várias estão a prepará-la, mas não a têm ainda na base de dados. Acreditamos que cada vez vai ser mais fácil e estamos a pedir às pessoas que enviem pedidos de informação”, diz Susana Fonseca.

A aplicação está disponível na Google Store e na Apple e o seu uso é muito simples. Depois de a instalar, basta utilizá-la para ler o código de barras do produto sobre o qual se pretende obter a informação. Se os dados já estiverem na base de dados associada à Scan4Chem, estes ficam disponíveis automaticamente, caso não esteja, pode ser enviado um pedido de informação através da própria aplicação. “Pode ser usado o e-mail de contacto (caso esteja disponível na aplicação) ou fazer uma pesquisa online. Em poucos cliques o pedido é enviado ao fornecedor”, explica a Zero.

A associação ambientalista salienta a necessidade de tornar mais transparente um tipo de informação que, acrescenta, é algo que preocupa os portugueses. Basta olhar para os dados do Eurobarómetro especial de Dezembro de 2019, que olhou para as atitudes dos cidadãos europeus em relação ao meio ambiente. Segundo este documento, “96% dos portugueses afirmam estar preocupados com o impacto de substâncias químicas presentes em produtos de uso diário na sua saúde”, sintetiza a Zero.

Em causa estão substâncias que podem estar presentes em produtos tão diferentes como brinquedos ou peças de roupa e que são preocupantes por serem potencialmente “cancerígenas, tóxicas para a reprodução, persistente, biocumulativas, que interferem com o sistema hormonal, entre outras”.

Ajudar a descobrir se aquele urso de peluche ou a camisola que quer levar para casa tem alguma destas substâncias pode ajudar o consumidor a uma escolha mais consciente e, ao mesmo tempo, incentivar as empresas a não utilizar esse tipo de substância na produção dos seus produtos. “Esperamos que as pessoas participem, é bom que elas percebam que para terem mudanças, é preciso cada um fazer o seu papel. Se tivermos muitas pessoas a enviar pedidos é bom para todos, porque depois essa informação fica disponível para quem vier a seguir”, realça Susana Fonseca.

Sugerir correcção
Comentar