PSI20 fecha com perda de 3,85%

Sessão para esquecer na bolsa de Lisboa, que registou esta sexta-feira a maior queda diária desde o “Brexit”. Foi uma das praças europeias que mais perderam, num cenário a vermelho. O mundo aposta no ouro e nas dívidas soberanas.

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Reuters/ANDREW KELLY

O PSI20, índice que agrega actualmente 18 das cotadas na bolsa de Lisboa, registou uma quebra de 3,85% face ao fecho da sessão de ontem, para os 4671,5 pontos. Nenhum dos títulos que compõem o índice fechou esta sexta-feira em terreno positivo. As acções mais penalizadas foram as da Galp, que recuaram 7,27%, as do BCP que perderam 5,09%, as da Altri que cederam 5,56% e as da Sonae, que desvalorizaram 4,91%. O título que menos perdeu foi a Ramada, com um saldo negativo de 1,30%. 

Esta foi a maior descida do PSI20 numa só sessão, desde 24 de Junho de 2016, quando, na sequência dos resultados do referendo sobre o ‘Brexit’ (saída britânica da União Europeia), o principal índice da bolsa de Lisboa caiu 6,99% num só dia, avança a Lusa.

Todos os restantes índices europeus fecharam com quedas significativas, empurrando o índice composto Stoxx 600 para uma queda de 3,35%. O FTSE 100, em Londres, perdeu 3,48%, em Frankfurt o Dax recuou 3,37%, em Milão o italiano FTSE MIB desceu 3,5% e, em Madrid, o Ibex 35 desvalorizou 3,54%. Paris liderou as perdas do dia, com o CAC40 a quebrar 4,14%. 

O mercado de acções na Europa seguiu a tendência de outras paragens, onde os investidores preferiram procurar activos menos voláteis, como o ouro e os títulos de dívida soberana. Neste último caso, o elevado nível de procura empurrou as taxas para mínimos, sobretudo nas obrigações a dez e a 30 anos de países considerados mais seguros, como EUA e Alemanha. Na Ásia, tanto as bolsas de Tóquio como Hong Kong fecharam a sexta-feira com quebras.

A culpa destes movimentos parece ser a incerteza em torno da saúde mundial, nomeadamente sobre a extensão do impacto da epidemia do coronavírus e termos económicos, geográficos e temporais. Portugal, por exemplo, que não tinha registo de qualquer caso no início da semana, de momento tem 13 pessoas com contágio confirmado, com a ansiedade a ganhar terreno em vários sectores económicos, como o do turismo. A maior preocupação neste sector é visível na TAP, que anunciou o cancelamento de cerca de mil voos até Abril, e o corte em investimentos e nalgumas despesas, para lidar com a quebra de reservas e de receitas. Há também o cancelamento ou adiamento de vários eventos, nomeadamente a Bolsa de Turismo de Lisboa, inicialmente marcada para a próxima semana. 

Outras companhias de aviação seguem o mesmo caminho – e a depressão no sector dos transportes está também a reduzir a procura de petróleo, cujo preço caiu para níveis de 2016, depois de ter falhado o acordo da OPEP com outros parceiros produtores para cortar na produção diária. A OPEP queria cortar 1,5 milhões de barris por dia, mas a Rússia (que integra o chamado OPEP+) opôs-se, levando o preço do crude a derrapar mais de 8%. O Brent do Mar do Norte, referência para a economia portuguesa, recuava 8,6%, para 45,62 dólares, enquanto o West Texas Intermediate caía 8,3%, para 42,08 dólares por barril. 

Nem as boas notícias sobre a criação de emprego nos EUA, que gerou mais postos do que o esperado, serviram para deitar água na fervura. Do outro lado estão a contrabalançar as revisões mais pessimistas da conjuntura reveladas esta semana tanto pelo FMI como pela OCDE. Os governos têm vindo a prometer medidas, mas o impacto económico parece inevitável.

Wall Street teve uma semana de altos e baixos, ao sabor de manchetes sobre o coronavírus e de anúncios de estímulos à economia, mas a expectativa de taxas ainda mais baixas pressiona a banca e os serviços financeiros e o pacote de emergência, com mais de 8000 milhões de dólares, anunciado pela Casa Branca para combater a epidemia servem nesta altura como sugestão de que o pior ainda pode estar para vir – nos EUA, estão confirmados 200 casos de contágio em 20 estados. Em todo o mundo, já se ultrapassou as 100 mil infecções.

São Francisco, na costa Oeste, e Nova Iorque, na costa Leste, têm os centros financeiros vazios de gente, porque muitas empresas desse sector optaram por mandar as pessoas para casa e garantir a jornada normal com teletrabalho, para tentar travar mais contaminação, segundo descreve a agência Reuters.

Os índices Dow, S&P 500 e Nasdaq estão todos a cair em Nova Iorque, após a reabertura da negociação nesta sexta-feira. Todos os 11 sectores do S&P 500 contribuem para as perdas, mas o financeiro, a indústria e o sector energético são os mais penalizados. As 500 cotadas deste índice perderam, desde Fevereiro, 3,8 biliões (milhões de milhões) de dólares em valorização bolsista, segundo contas citadas pela CBS. Parece não haver grandes razões para assinalar em tom de festa o fim do meltdown bolsista gerado pela crise financeira iniciada com a falência do Lehman Brothers. A 9 de Março de 2009, os investidores declararam o fim do chamado bear market e na próxima segunda-feira passam 11 anos. 

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