Abram-se as comportas da imaginação: a corrida à sardinha mais original começou

“Desenha uma sardinha. Sem espinhas!” é o mote do concurso para escolher a imagem gráfica das festividades de Lisboa. À porta da 10.ª edição do concurso, como foi ser um dos primeiros vencedores?

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Uma das 16 sardinhas vencedoras na primeira edição do concurso, em 2011, da autoria de Bruno Santos.
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Uma das sardinhas vencedoras em 2013, da autoria de Leonor Brilha.
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Uma das sardinhas vencedoras em 2015, da autoria de Delfim Ruas.
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Uma das sardinhas vencedoras em 2016, da autoria de Natalie Mavrota.
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Uma das sardinhas vencedoras em 2018, da autoria de Paulo Veiga.
Sardinha
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A primeira sardinha vencedora da "Turma da Sardinha" em 2019, da autoria de alunos da Escola Marques de Castilho, em Águeda.

Tiveram de o avisar duas vezes pois não acreditou à primeira. Em 2011, “Mantraste" foi dos primeiros a entrar na corrida das sardinhas ilustradas de Lisboa, tendo sido um dos eleitos. Uma distinção que lhe fez um “clique” para se assumir de uma vez como ilustrador.

Outros, a partir desta quinta-feira, 5 de Março, poderão ter semelhante sorte. Vai abrir a época de pesca às sardinhas mais originais que vão protagonizar a campanha de comunicação das Festas de Lisboa. As candidaturas estão abertas até 6 de Abril. O concurso é organizado pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) e os vencedores serão anunciados até 31 de Maio. Aberto a todos, independentemente das nacionalidades e idades, sejam amadores ou profissionais, a ideia da competição é dar “barbatanas à imaginação” para escolher as dez melhores sardinhas que vão decorar as Festas de Lisboa 2020.

Com recurso a diferentes técnicas, cores e materiais, a sardinha é reinventada ano após ano. Além de verem as suas criações espalhadas pelos diversos suportes de divulgação na cidade, cada vencedor terá direito ainda a um prémio pecuniário de 1500 euros. As candidaturas podem ser enviadas colectiva ou individualmente, com um máximo de três sardinhas por autor. Este ano não há um tema fixo, por isso tudo cabe nestas particulares sardinhas. Os únicos limites são os da imaginação de cada participante porque estas sardinhas querem-se “obrigatoriamente inéditas e originais”, pode ler-se no regulamento disponível online.

Para lá das cinco escolhidas pelo júri, de forma a assinalar a décima edição do concurso será premiada mais uma sardinha. Para perfazer o cardume de dez vencedoras, juntar-se-ão ainda a que sair das mãos dos miúdos da “Turma da Sardinha” e as das três menções honrosas atribuídas por uma votação nas redes sociais. A “Turma da Sardinha”, que desde o ano passado leva as sardinhas a nadar pelas escolas do país, abrange exclusivamente aos alunos do 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico. No ano passado, foi premiada a Escola Marques de Castilho, em Águeda.

45 mil sardinhas em nove edições

O concurso está assim na sua décima edição. E como correu a primeira, em 2011? Bruno Santos, ou “Mantraste”, o seu nome artístico, foi o criador de uma das primeiras 16 sardinhas vencedoras. “Quando apareceu o concurso, eu e uns amigos começamos a fazer várias sardinhas que depois enviamos”, recordou. À altura, o agora ilustrador e professor em ilustração enviou três candidaturas diferentes e a primeira resposta foi negativa. “Depois, recebi mais dois emails, que ignorei pensando que também tinham sido rejeitadas”. No entanto, “só quando voltaram a insistir é que vi que uma delas estava entre as premiadas”, conta entre gargalhadas.

Desenhada a pincel e tinta-da-china e colorida digitalmente, Bruno Santos pretendeu que essa sardinha reflectisse as “influências populares” e a portugalidade, esta última bem notória nas cores escolhidas. Revelou que quando foi premiado já nem se lembrava bem como tinha feito a sardinha e “talvez tenha sido esse estado de naturalidade que a diferenciou”, considera agora, nove anos depois.

Ainda assim, o artista que já colaborou, entre outros, com a 2020 Editora, a EGEAC, o Diário de Notícias e a revista Sábado, admitiu que “caiu na ilustração de pára-quedas” aos 19 anos, depois de ter trabalhado numa serralharia. Já o prémio alcançado, em 2011, “foi muito importante”, admitiu “Mantraste”: “Não porque me trouxe trabalhos ou reconhecimento, deu-me sim mais motivação”. No fundo, “funcionou como uma espécie de clique na minha cabeça e acabou por fazer de mim ilustrador”, acrescentou.

Para Bruno Santos, esta competição organizada pela EGEAC ajuda a contrariar o “estigma que define que o desenho é só para alguns”. Por isso, o ilustrador considera-o uma “óptima e simples plataforma que já se tornou uma tradição”. Bruno Santos contou ainda que já participou mais vezes porém sem o sucesso alcançado na primeira edição. Sobre uma possível candidatura este ano responde “porque não”. Ainda assim, deixou uma garantia: “Vou pôr os meus alunos a participar, com certeza”.

Em nove edições já realizadas foram submetidas a concurso mais de 45 mil sardinhas, digitais e tridimensionais, de profissionais e amadores, portugueses e estrangeiros e sobre temas políticos, históricos, simplesmente gráficos ou abstractos. No total, foram 62 as sardinhas já premiadas e outras 27 mereceram menções honrosas. Ao longo das várias edições, nomes como Nuno Markl, Rui Unas e Fernando Alvim, as cantoras Ana Bacalhau, Gisela João e Capicua ou a actriz Rita Blanco e também o artista Vhils foram júris do concurso.

Em paralelo, desde a primeira edição, realiza-se também uma exposição com as centenas de propostas não vencedoras. Nas nove edições, as exposições foram visitadas no total por mais de 115 mil pessoas.

Texto editado por Ana Fernandes

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