Chama-se Daniel Batz e travou cinco penáltis num jogo

Guarda-redes do FC Saarbrücken contribuiu para a histórica presença do clube do quarto escalão nas meias-finais da Taça da Alemanha.

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Reuters/KAI PFAFFENBACH

Pode colocar-se a questão nestes termos: num jogo só, Daniel Batz defendeu mais penáltis do que no resto da carreira. Num só jogo, o habitualmente suplente guarda-redes do FC Saarbrücken passou de segunda escolha a herói de todo um estado. Tudo porque a sua prestação frente ao Fortuna Düsseldorf, na terça-feira, ajudou a escrever um capítulo de história na Taça da Alemanha, uma competição que vê, pela primeira vez, um emblema do quarto escalão (sim, quarto!) alcançar as meias-finais.

Batz é um apelido que combina com guarda-redes. Foi assim com Joel Bats, jogador do PSG que defendeu também a baliza de França em 50 ocasiões, e está a ser assim com Daniel, aos 29 anos subitamente lançado para a ribalta. E o caso não é para menos. No pequeno Estádio Hermann-Neuberger, com capacidade para cerca de 6700 espectadores, o jogador natural de Erlangen, na Baviera, manteve a equipa viva durante os 90 minutos e elevou-a a níveis impensáveis no desempate por grandes penalidades. 

Vamos a uma pequena resenha do jogo para percebermos os contornos desta performance. O FC Saarbrücken colocou-se na frente do marcador aos 31’, por Tobias Janicke, numa das poucas investidas à área adversária. Antes desse momento, já tinham começado os trabalhos forçados para Daniel Batz e, depois dele, o calvário continuou, com o Fortuna Düsseldorf incapaz de superar o derradeiro obstáculo (no total, foram 18 defesas em toda a partida).

A resistência da equipa da casa foi quebrada aos 90’, porém, com um remate certeiro de Mathias Jorgensen. Um dos 27 que os visitantes dispararam ao longo da partida, contra apenas sete do representante do quarto escalão do futebol alemão. O jogo resvalava para prolongamento e instalava-se alguma desilusão entre os jogadores, mas Daniel manteve a serenidade e, acima de tudo, a confiança.

“Claro que foi uma desilusão no momento, mas eu disse aos rapazes que íamos ter sucesso. Estávamos no prolongamento e ninguém imaginava que fôssemos tão longe contra um adversário da Bundesliga. Disse a toda a gente que a cabeça vence o corpo”, revelou o guarda-redes à revista Kicker no final do encontro, já depois de a equipa ter sobrevivido à etapa complementar e ter esticado a eliminatória até ao desempate por grandes penalidades. Algo que só foi possível, de resto, porque Batz defendera já um castigo máximo, aos 82’, quando travou o remate de Rouwen Hennings.

Não podia prever-se, nessa altura, que esse seria apenas o primeiro de cinco momentos de glória para Daniel Batz (sem contar com as defesas em lances de bola corrida). Já na eliminatória anterior, diante do Karlsruher, o FC Saarbrücken tinha obtido o apuramento no desempate da marca dos 11 metros. E a história repetiu-se. Sobre a linha de golo, o número um da equipa da casa foi parando tudo o que lhe surgia pela frente: frustrou as tentativas de Kenan Karaman, de Kevin Stöger, de Matthias Zimmermann e de... Mathias Jorgensen, o central dinamarquês que tinha estabelecido o empate em cima do tempo regulamentar. 

“É absolutamente surreal, é incrível. Se o meu dedo não me doesse tanto, diria que estou a viver no mundo dos sonhos”, acrescentou Batz em declarações à Sky, aludindo a “um grande momento” para toda a região do Sarre. “Fizemos um trabalho excepcional. A minha prestação deve ser julgada pelos outros, limito-me a tentar defender os remates que vêm à baliza”, acrescentou, com modéstia.

A caminho dos 30 anos, Daniel ainda vai a tempo de pensar em voos mais altos (o que não é difícil, considerando que compete nas Ligas regionais), mas a verdade é que já teve uma passagem pela Bundesliga. Foi ao serviço do Friburgo, no qual actuava como suplente de Oliver Baumann: na jornada 34 do campeonato de 2011-12, este guarda-redes de 1,90m defrontou o Borussia Dortmund, numa derrota por 4-0. De então em diante, o jogador formado no Nuremberga representou o Chemnitzer e o Elversberg antes de se mudar para Saarbrücken, em 2017.

“Conheci o Daniel no dia 3 de Janeiro e desde então ele tem trabalhado como um louco, sempre pronto para fazer muito com quase nada. Ele mostra paixão pelo jogo todos os dias. Se calhar este é o resultado do trabalho árduo”, resumiu Lukas Kwasniok, treinador do actual primeiro classificado da Regionalliga Südwest, um clube que, à custa da brilhante performance na actual edição da Taça da Alemanha, já encaixou 5,4 milhões de euros em prémios.

Esta não é, de resto, a primeira vez que o FC Saarbrücken chega às meias-finais da prova. Aconteceu em 1957, em 1958 e em 1985, mas em todas essas ocasiões o clube competia no segundo escalão da hierarquia alemã. Um representante da quarta divisão numa fase tão adiantada da Taça, isso sim, é inédito. A façanha que mais se aproxima é a do FC St. Pauli em 2005-06, quando a equipa de Hamburgo, na altura no terceiro escalão, foi eliminada no jogo de acesso à final pelo Bayern Munique.

“Berlim [palco da final] está apenas a um passo de distância. Falta um jogo e todos vimos já o que pode acontecer num jogo”, assinalou Daniel Batz, indiferente ao adversário (Eintracht Frankfurt, Bayern Munique ou Bayer Leverkusen) que vai sair do sorteio agendado para domingo. “Pode vir quem vier, estamos nas meias-finais e isso é histórico”. 

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