A Festa do Cinema Italiano faz-se com o Fantástico Senhor Fellini

Os cem anos de Federico Fellini são um dos pontos altos da edição de 2020 do festival dedicado ao cinema italiano, que inclui também novos filmes de Luca Guadagnino, Gabriele Muccino ou Pietro Marcello.

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Que Estranho Chamar-se Fellini, documentário de Ettore Scola, é um dos filmes que serão exibidos na retrospectiva de Federico Fellini que faz parte da 13ª edição da Festa do Cinema Italiano DR

A Festa do Cinema Italiano, que arranca a 1 de Abril no Cinema São Jorge, em Lisboa, chega este ano à 13.ª edição. Já se sabia que a abertura do festival dedicado ao cinema vindo de Itália seria feita com Pinóquio, de Matteo Garrone, e sabe-se agora que Federico Lelapi, o actor de 10 anos que faz de Pinóquio no filme em que Roberto Benigni é Gepetto, estará presente na sessão. O encerramento da componente lisboeta far-se-á oito dias depois, na mesma sala, com As Coisas que nos Fazem Felizes, de Gabriele Muccino. A programação da Festa foi apresentada esta quinta-feira, na Embaixada de Itália em Lisboa.

Mas nem só de Lisboa vive este festival de cinema. Passa também, entre Abril e Maio, por várias outras cidades do país, seja já em Abril ou ao longo do ano, como Porto, Almada, Cascais, Setúbal, Penafiel, Alverca do Ribatejo, Coimbra, Viseu, Beja, Tomar, Caldas da Rainha e Loulé, entre outras a confirmar. E sai fora das nossas fronteiras, passando por Brasil, Angola, Moçambique e também, numa estreia deste ano, Timor Leste e Cabo Verde.

Na programação, que, como já era conhecido, assinala o centenário do nascimento de Federico Fellini com uma retrospectiva completa na Cinemateca e muito mais, há espaço para os filmes da competição, antestreias de filmes que depois passarão no circuito normal de exibição, séries, comédias de sucesso, cinema de autor, filmes em realidade virtual ou curtas-metragens, entre muitos outros. Nesta última categoria há, a propósito de Fellini, Fantastic Mr. Fellini, uma curta documental de Francesco Zippel, responsável pelo documentário Friedkin Uncut, que consiste numa entrevista a Wes Anderson sobre Fellini e teve estreia no canal de televisão italiano Sky Arte. Ou The Stagering Girl, a curta de 37 minutos de Luca Guadagnino com Julianne Moore.

Segundo disse Stefano Savio, director artístico da Festa, ao PÚBLICO, a ideia do cartaz era “ser mais abrangente possível” e ir “da retrospectiva do Fellini ou do centenário do Alberto Sordi”, actor e realizador que trabalhou com Fellini, “a coisas também novas”, e assim atingir “um público novo”, tendo em conta que “o cinema tem de desafiar este problema do envelhecimento do público”.

Há cinco obras a concurso: Sole, de Carlo Sironi, Magari, de Ginevra Elkann, 5 è il Numero Perfetto, de Igor Tuveri, Nevia, de Nunzia De Sefano e Butterfly, de Alessandro Cassigoli e Casey Kauffman. Serão avaliadas por um júri composto por Leonor Teles, realizadora, Beatrice Leanza, directora do MAAT, e Pilar del Río, presidente da Fundação José Saramago.

A celebração de Fellini inclui, além da já mencionada curta-metragem com Wes Anderson, todos os seus filmes, de Luci del Varietà, de 1950, a A Voz da Lua, de 1990, documentários do e sobre o próprio, como Que Estranho Chamar-se Federico, de Ettore Scola, ou Alter-Ego, uma exposição, também na Cinemateca, com fotografias de Gideon Bachmann, responsável por Ciao, Federico!, documentário de 1970 sobre a rodagem de Satyricon, centrada na relação entre Fellini e Marcello Mastroianni. Haverá ainda uma mesa redonda sobre a obra do realizador, a 8 de Abril, com nomes como Giancarlo Angelucci, especialista em Fellini que trabalhou com o realizador, ou o poeta Valerio Magrelli. Paralelamente, terão estreia em sala, entre Abril e Maio, seis reposições restauradas de obras do realizador: A Doce VidaJulieta dos EspíritosA Estrada da VidaOs Inúteis8 1/2 e A Voz da Lua. Mais tarde haverá também um concerto com a música de Nino Rota. Os cem anos de Fellini não são, como já foi dito, o único centenário a ser assinalado, havendo também uma exibição de Fumo di Londra, filme de 1966 escrito, realizado e protagonizado por Alberto Sordi, colaborador de Federico Fellini também nascido em 1920.

Nas comédias de sucesso incluem-se Tolo Tolo, de Checco Zalone, Figli, de Giuseppe Bonito, que trará Valerio Mastandrea à festa, Odio l'estate, de Massimo Venier e La dea fortuna, de Ferzan Özpetek. Nas séries ver-se-á John Malkovich e Jude Law na segunda temporada de The New Pope, de Paolo Sorrentino, bem como a segunda época de A Amiga Genial, a criação de Saverio Costanzo a partir dos livros de Elena Ferrante, e ZeroZeroZero, de Stefano Solima, baseada no livro homónimo de Roberto Saviano. 

Entre as antestreias de filmes que depois passarão nas salas normais destacam-se Era uma vez a Máfia, de Franco Maresco — complementado pela exposição de fotografia Mafia, Passione...Amore, na Sociedade Nacional de Belas Artes, e a presença da fotógrafa Letizia Battaglia, que aparece no filme e é também o foco do documentário Shooting the Mafia, de Kim Longinotto, que será mostrado na Festa —, Martin Eden, de Pietro MarcelloMomenti di Trascurabile Felicità, de Daniele Luchetti, L'Uomo del Labirinto, de Donato Carrisi, com Toni Servillo, Valentina Bellè e Dustin Hoffman, ou Il Pecatto, de Andrei Konchalovsky.

Serão mostrados também filmes como Domani è un Alto Giorno, de Simone Spada, também com Valerio Mastandrea, Il Campione, de Leonardo D'Agostini, Il Sindaco del Rione Sanià, de Mario Martone, L'Immorale, de Marco d'Amore, La Famosa Invasione Degli Orsi in Sicillia, de Lorenzo Mattotti, Momenti di Trascurabile Felicità, de Daniele Luchetti, Odio L'Estate, de Massimo Venier ou Un Filio di Nome Erasmus, de Alberto Ferrari.

No campo da realidade virtual, uma novidade deste ano, como explica Stefano Savio, a linguagem que “começa a ser desenvolvida, ainda não é o mercado mais interessante”, mas a organização procurou “curtas-metragens de 15 minutos”, entre “filmes narrativos e outros mais experienciais”.

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