Facebook apenas detectou 9% dos casos de abuso sexual nos EUA que começaram na plataforma

Desde 2013, foram encontrados 366 casos em que o Facebook era identificado como um meio de distribuir imagens gráficas de conteúdo sexual, e recrutar crianças para tráfego sexual nos EUA.

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Apenas 9% dos casos investigados nos EUA partiram de um alerta do Facebook PAULO PIMENTA

O Facebook continua a ser usado por predadores sexuais de crianças à procura das próximas vítimas – muitas vezes são criados perfis falsos na rede social para desenvolver relações de amizades com os menores. Apesar dos esforços da plataforma, desde 2013 que o site foi usado pelo menos 366 vezes como veículo para exploração sexual de menores de idade nos EUA .

Os dados foram partilhados esta quarta-feira pela Tech Transparency Project, uma organização sem fins lucrativos, que analisou os comunicados de imprensa do Departamento de Justiça, nos EUA, entre Janeiro de 2013 e Dezembro de 2019, relativos à exploração sexual de menores que mencionavam o Facebook.

No total, foram encontrados 366 comunicados em que o Facebook era identificado como um meio de distribuir imagens gráficas de conteúdo sexual, e recrutar crianças para tráfico sexual. Incluíam um caso do Estado de Rhode Island em que um homem se fazia passar por uma jovem adolescente para aliciar jovens rapazes a filmarem-se em actos sexuais, e um caso de um homem de Missouri condenado por crimes sexuais que utilizava a aplicação de mensagens do Facebook para comunicar regularmente com uma rapariga de 13 anos.

Pouco mais de 30 dos casos (9%) investigados partiram de um alerta da rede social. Para a equipa da Tech Transparecy Project, o relatório mostra que a rede social não está a fazer o suficiente. “Na grande maioria dos casos, o Facebook não forneceu a dica inicial para as autoridades. Em vez disso, as autoridades dizem que dependem de informação do público, pistas de outras investigações ou operações sting”, lê-se nas conclusões do relatório da Tech Transparecy Project.

Ainda assim, a equipa nota que o número de casos detectados pelo Facebook aumentou com a introdução de nova legislação para lutar contra o tráfico sexual online (FOSTA-SESTA, na sigla inglesa) em 2018, a partir da qual as grandes plataformas de tecnologia passaram a poder ser responsabilizadas por tráfico sexual a ocorrer nas plataformas.

A organização também verificou que os casos de abuso sexual através do Facebook se estão a tornar mais frequentes. Em 2013, foram identificados uma média de dez por trimestre, mas em 2019 o valor subiu para 23 casos por trimestre. A equipa considera que o aumento no número de utilizadores do Facebook é parte do motivo.

O PÚBLICO tentou contactar o Facebook para mais informação, mas não obteve resposta até à hora de publicação desta notícia.

Em Outubro de 2019, durante a audição do presidente executivo do Facebook no Congresso norte-americano, em Washington, Mark Zuckerberg classificou a exploração sexual de menores como uma das “ameaças mais graves” que a rede social está a tentar travar e que estão a ser criados “sistemas sofisticados para detectar este tipo de comportamento.”

O problema da encriptação

Uma das ferramentas usadas pelo Facebook é o PhotoDNA, desenvolvida em 2009 pela Microsoft, que permite converter uma imagem em valores numéricos (uma espécie de impressão digital da imagem, conhecida como “hash”), que é comparada com bases de dados internacionais massivas de imagens e vídeos ilegais.

A equipa da Tech Transparecy Project nota, no entanto, que “imagens de abuso são apenas parte do problema” e que o Facebook é utilizado para “explorar crianças de diversas formas, incluindo aliciar e recrutar crianças para abusos sexuais.”

O relatório da organização chega numa altura em que vários activistas dos direitos das crianças estão a atacar os planos de encriptação do Facebook para a plataforma. Apesar de o Facebook querer avançar com medidas de encriptação para o Messenger e o Instagram Direct (ambas aplicações de mensagens detidas pela gigante tecnológica) mais de uma centena de organizações lideradas pela NSPCC, uma organização não-governamental no Reino Unido pela defesa dos direitos das crianças, alertam que a encriptação dos serviços pode proteger indivíduos com más intenções. A organização percebe as preocupações da rede social com a privacidade, mas alerta que o problema da exploração sexual é um problema maior

“Pedimos que reconheçam e aceitem que o aumento do risco de abuso sexual de menores, que acontece ou é facilitado no Facebook, não é uma troca razoável para se fazer”, lê-se na carta aberta de Fevereiro de 2020.

Não é só nos EUA que o Facebook é usado por criminosos sexuais para encontrar as próximas vítimas. Em Portugal, um homem de 25 anos foi detido em 2019 depois de tentar aliciar várias raparigas menores na Internet a manter relações sexuais consigo. Em 2015, um homem de 58 anos, detido por suspeitas de pornografia infantil, usava o Facebook para se apresentar como "uma jovem modelo, com uma carreira bem-sucedida" e falar com jovens raparigas.

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